Cresci sem outras crianças por perto, mas rodeada de campo, flores, uma horta grande e até um pequeno pomar. Passava muito tempo a observar as flores e as suas alterações ao longo do dia, das semanas e dos meses. Observava, intrigada, as que se abriam de dia e se fechavam durante a noite. Gostava de ver os botões a dar origem a flores de todas as cores. Adorava o cheiro das cravinas e das rosas, mas encontrava no perfume dos junquilhos amarelos e brancos uma magia transcendente. À (...)
A minha mente está constantemente povoada por uma série de narrativas, mais ou menos com vida própria. Às vezes, paro um pouco para as analisar e refletir sobre as memórias mais vívidas que tenho. Sabem, aquelas que nos permitem sentir o perfume dos sítios, a textura dos tecidos e até o calor de um dia de sol. Sinto que não tenho escolha quanto a estes pensamentos, mas a verdade é que — tenha ou não escolha — gosto deles. Habituei-me a eles e, se não os posso evitar, (...)
Tenho para mim que, sempre que saímos de casa — mesmo que seja só para uma caminhada tranquila pela vizinhança — há sempre a possibilidade de algo inesperado acontecer. Não precisa de ser extraordinário. Basta ser... estranho o suficiente para nos arrancar da rotina. Hoje foi um desses dias. Não aconteceu nada digno de capa de jornal, nada verdadeiramente espetacular. Mas o efeito psicológico foi bem real — daqueles que só se desfaz quando percebemos que, afinal, não era (...)
Com o meu trabalho, há fases em que passo longas horas em aeroportos — por vezes, dias inteiros. Embora adore viajar, uma das coisas que menos aprecio é a comida que se encontra por lá: cara e muitas vezes sem qualidade. Por isso, gosto de me preparar com antecedência e levar comigo alguns snacks caseiros, práticos e saudáveis. Uma das minhas soluções preferidas são estas bolachas de noz, que encontrei algures na Internet, e hoje partilho convosco. São super simples de fazer (...)
Não vamos falar de baratas. Nem de melgas. Elas não cabem neste texto. Falemos de centopeias e outros insetos. Os insetos incomodam-me cada vez menos. Entendo-os como seres vivos que, por acaso, estão a ocupar o mesmo espaço que eu. Não os adoro, tão pouco os odeio. Respeito-os tanto quanto as minhas imperfeições de ser humano o permitem. Por algum acaso da natureza ou, para os crentes, por decisão divina, eu tenho, nos dias que correm, maior poder de decisão que eles.De (...)
Há 20 anos, trabalhei numa loja de roupa no Colombo. Era uma loja de roupa de criança, um pouco mais cara, por isso não atraía demasiadas pessoas. Isso fazia com que passasse por longos períodos sem movimento, de aborrecimento total, que eu tentava colmatar fazendo pequenos riscos verticais num papel a cada meia hora, como via os prisioneiros fazerem nos filmes. Era a minha forma de confirmar que o tempo ia passando, apesar da minha mente sentir que ele tinha congelado naquele (...)
A minha filha de 11 anos sempre demonstrou algumas dificuldades na disciplina de Português. A par do Inglês, é a área onde mais precisa de apoio. Apesar de, felizmente, manter boas notas, sei que por detrás delas existem desafios reais — especialmente na construção de texto, na ortografia e na interpretação de textos que não sejam narrativos ou descritivos. Durante algum tempo, a estratégia que encontrei para a ajudar foi simples, mas eficaz: os ditados. Cada vez que surgia (...)
Como começar a falar do livro Tudo É Rio, da brasileira Carla Madeira? Li o livro em três dias, mas poderia tê-lo lido facilmente em meia dúzia de horas. O livro espantou-me, intrigou-me, e depois puxou-me para dentro daquela realidade de uma forma incontornável. Peguei no livro por acaso. Estava a "fazer zapping" nos livros que tenho no Kobo e parei neste, que já tinha visto aqui e ali pelas redes sociais. Se soubesse dos temas que ali encontraria, não o teria lido. Não teria (...)
Na semana passada, Portugal viveu um apagão de 24 horas. Por aqui – nos Açores – não passámos por essa experiência, porque o nosso fornecimento de eletricidade não é o mesmo do Continente, mas acompanhámos com atenção o que se estava a passar na Península Ibérica. Deu para perceber, pelos relatos nas redes sociais e nos meios de comunicação, que, mais uma vez, os portugueses não estavam preparados para uma crise. Perante o medo de uma catástrofe, entraram em stress e (...)
Lembro-me bem do primeiro livro que me ofereceram: “A Bela Adormecida”. Acho que já não tenho esse livro, mas lembro-me muito bem da sensação que foi tê-lo nas mãos, de como o achava bonito, especial e perfeito. Ter um livro só meu, comprado para mim, que podia ler e reler sempre que me apetecesse, foi uma sensação mesmo especial. Já não me lembro quantos anos tinha quando mo ofereceram — foi um tio de quem gostava muito que mo deu — mas creio que uns 9 anos. Durante (...)