Este livro, que me atingiu como uma rajada de humanidade, devia ser de leitura obrigatória
"Dentro do Segredo", de José Luis Peixoto
Agora que o li, penso que demorei demasiado tempo a fazê-lo. Ou talvez não, talvez o tenha lido exatamente na altura certa, para o poder compreender melhor e para melhor o poder encaixar na minha perspetiva, tão pessoal, daquilo que é o mundo e daquilo que é a humanidade.
Sempre gostei de livros que relatam viagens. Gostei especialmente do "Sete anos no Tibete", por retratar uma sociedade e uma forma de estar e pensar tão diferentes da minha. De facto, quanto maior é a distância entre a realidade retratada e a minha, maior o meu interesse no livro.
"Dentro do Segredo", de José Luís Peixoto, tornou-se o meu livro de viagens preferido por 3 motivos principais:
- Fala de um país e de um povo dos quais pouco ou nada sabia. Quando leio ou vejo um filme sobre algo que não conheço, acabo por passar muito tempo a tentar saber mais sobre o tema, a procurar outras leitura e documentários e, invariavelmente, a cultivar-me.
- Ser escrito por uma pessoa com a sensibilidade e mestria do José Luís Peixoto torna-o num livro único, um livro que nos suga para dentro da história e nos faz sentir, verdadeiramente, dentro da cabeça do autor, o que parece ser um local muito interessante para se estar.
- A leitura deste livro abalou bastante algumas das minhas convicções, principalmente as mais "ditatoriais". O livro colocou-me numa posição em que me senti muito desconfortável com algumas das coisas que afirmei muitas vezes, nomeadamente a defesa da imposição de algumas regras (que considero positiva) à revelaria da vontade das pessoas. Sabem aquela expressão: "Toda a gente deveria ser obrigado a..."? Já não a uso com tanta leveza. A liberdade é um que a maior parte de nós, eu incluída, não valoriza na medida certa, por a ter como garantida.
É um livro comovente, desconcertante e muito humano. É, sobretudo, um livro que me faz entender que, por muito grandes que sejam as diferenças entre as pessoas, são muito maiores as nossas semelhanças. Todos deveríamos ter o direito de escolher a vida que queremos ter.
Por isso, e contrariando levemente o título deste texto, penso que este livro deveria ser de leitura "encorajada", nas escolas e nas famílias.