Devemos obrigar as crianças a dar beijinhos?
Na minha opinião, não.
Se devemos incentivar? Se devemos sugerir? Sim, se nos parecer bem. Faz parte da nossa cultura e é uma forma de demonstrar afeto muito agradável e bonita.
Pessoalmente não sou muito dada ao contacto físico e nem gosto especialmente de cumprimentar com beijinhos, exceção feita aos meus filhos, ao meu namorado, aos meus amigos e aos filhos dos meus amigos, que adoro beijar e abraçar (se lhes apetecer, claro).
Ensino, também, os meus filhos a cumprimentar educadamente e, quando se trata de familiares e amigos, sugiro que dêm um beijinho mas nunca obrigo nem nada que se pareça. Se eles não quiserem dar beijinhos não dão e não são de forma nenhuma repreendidos por isso.
Claro que isto vem a propósito da intervenção "polémica" de um professor no programa "Prós e Contras" onde disse que obrigar as crianças a beijar os avós era uma forma de violência. Eu percebo e concordo com o que o professor disse e lamento muito a polémica que se instalou à volta das suas declarações.
Podíamos apenas concordar em discordar, mas não. Nós, pessoas, gostamos mesmo é de falar do aspeto físico das pessoas e achincalhar ao máximo todo o pensamento que é contrário ao nosso, sem sequer pensar muito no caso.
Não vou dizer aqui que as crianças obrigadas a beijar os avós vão ficar traumatizadas para a vida mas, se pensarmos bem, qual é o sentido de obrigar uma criança a um contacto físico que não quer? Estamos a ensinar-lhe o quê? Que ser educado é aceder um contacto físico contra a sua vontade? A sério? Queremos ensinar isso às nossas filhas e aos nossos filhos?
Ah e tal, porque é a nossa cultura. Também fazia parte da nossa cultura bater nas crianças com um cinto e até nas mulheres se o jantar não estava do agrado do marido. O que não significa que era uma coisa boa e do interesse geral (pelo menos das mulheres e das crianças).
Vamos ver, ninguém está aqui a defender prisão perpétua para quem quer obrigar uma criança a dar um beijo aos avós. Creio que isto é apenas um convite à reflexão sobre algo que poderá ser feito de forma diferente e mais respeitosa para a criança.
As crianças, em geral, são extremamente carinhosas. As minhas filhas, uma mais que a outra, adoram dar beijos e abraços às pessoas de que gostam. Às outras, com quem convivem menos e mal conhecem, nem tanto. E qual é o mal? É natural que não queiram beijar estranhos. E, às vezes, alguns familiares são quase estranhos, sejam tios, avós ou colegas de trabalho dos pais.
Posto isto, cada família fará como entender e não precisamos de arrancar cabelos a quem pensa de forma diferente de nós. Podíamos, isso sim, ser todos tolerantes para com a diferença de pensamento.
Só não devemos tolerar a violência física e psicológica e qualquer atitude que cause dano ao próximo. Por isso lamento muito toda a confusão que vai por essa Internet fora a propósito das declarações do professor. Vamos lá deixar o homem em sossego e continuar a educar as nossas crianças como achamos melhor e, se possível, dando-lhes um exemplo de respeito e tolerância para com o nosso semelhante.