Qua | 05.03.14
Conversas de café
Uma dascoisas que mais gosto de fazer, quando não posso estar a falarininterruptamente, é parar um pouco a ouvir as conversas dos outros, num sítiopublico.
Não de umaforma abertamente mexeriqueira, apenas oiço quem não parece importar-se emdeixar-se ouvir. Aqueles que falam suficientemente alto e de forma tãoapaixonada, que parece que estão na paz de uma casa isolada num montealentejano. E eu fico, no meu lugar, com as mãos e olhos entretidos em qualqueroutra coisa, enquanto os ouvidos e a mente estão “recostados e de mãos atrás dacabeça”, totalmente descontraídos.
Estar num cabeleireiro de olhos fechados, enquanto alguém, com uma voz doce eagradável, relata um acontecimento inócuo e engraçado, cheio de pormenores, ou estarnum parque público com um livro na mão, enquanto um par ou um trio de desconhecidosencetam conversa, são situações que considero, na maior parte das vezes,deliciosas.
Estar num cabeleireiro de olhos fechados, enquanto alguém, com uma voz doce eagradável, relata um acontecimento inócuo e engraçado, cheio de pormenores, ou estarnum parque público com um livro na mão, enquanto um par ou um trio de desconhecidosencetam conversa, são situações que considero, na maior parte das vezes,deliciosas.
No outro diafui, de acordo com o hábito, passar uma tarde no café a ler e a escrever umpouco, quando esbarrei com uma voz estridente a uns metros de mim.
Tratava-sede uma mulher, com uma voz alta e esganiçada, que falava mal de tudo e todos:ora porque tudo estava mal, ora porque os outros são incompetentes, ora porquesão estúpidos e só fazem coisas idiotas. Não tenho nada contra a sua opinião,mas a forma (cheia de afirmações e vazia de argumentos) e o volume como aexpressava, faziam-me alguma confusão mental. Nestas alturas, tenho que fazer umgrande esforço para não olhar e perceber se a ideia que tenho daquela pessoacorresponde ou não à realidade.
Outro tipode pessoas que me causam algum formigueiro mental são aquelas de meia-idade quecomeçam a falar dos filhos que estudam no exterior, e dos iates e das viagens,com um ar todo pedante e quando os vejo, vejo-os meio tristonhos e patéticos.
Felizmenteexistem aqueles cafés mais pitorescos como a tabacaria açoriana onde seencontram uns senhores mais idosos que têm umas conversas que realmente dágosto ouvir. Falam sobre filosofia, às vezes politica, às vezes sobre livros ousimples acontecimentos quotidianos mas, discutem-no de uma forma tãointeressante e pertinente, que ouvi-los é como aplicar um suave bálsamo namente.
Pronto,olhei. É uma mulher normal, nos 30 anos, com uma voz mais excitada que oaspeto.