A minha avó é que era uma verdadeira minimalista
(Esta senhora, claramente, não é a minha avó.)
Hoje fui até à Mango. Vi que estava com saldos, entrei e pus-me a vasculhar uns vestidos pretos.
Depois espreitei as t-shirts, os tops e as saias compridas.
Em poucos minutos já me estava a dirigir aos provadores com os braços cheios de roupa.
Experimentei, não gostei, e decidi que aquilo era tudo uma grande tolice. Arrumei tudo nos cabides e deixei no local da roupa "experimentada", perto dos provadores.
A verdade é que não preciso de comprar roupa. Tenho mais do que suficiente e quando precisar de alguma coisa, efetivamente, comprarei.
Este ímpeto para o consumo é algo bem intrigante. A minha avó, por exemplo, não sofria disto. Tinha a mesma roupa durante anos, décadas, e só a deitava fora se realmente não servisse para nada.
A minha avó Leontina era uma verdadeira minimalista.
A minha avó, nos seus primeiros tempos de casada, fazia a sua própria roupa. Só mais tarde haveria de ter poder de compra para comprar roupa. Nunca comprou mais do que aquilo de que precisava mesmo.
Se a roupa se rasgava ela remendava as vezes que fossem precisas. Quando já nem dava para remendar, a roupa era transformada em pano de limpeza.
A minha avó cortava chinelos de inverno para fazer chinelos de verão, tinha apenas uma roupa de sair e não seria estranho vê-la com uma meia de cada cor, por casa.
Lembro-me de ser criança e zangar-me com ela por deitar fora tudo o que lhe pareciam ser restos de jogos de tabuleiro e papelada. Agora faço o mesmo às minhas filhas.
A minha avó era focada no momento presente e fazia tudo com a delicadeza de quem, naquele momento, não tinha nada mais importante para fazer. Os seus cozinhados eram simples mas deliciosos, feitos com muito amor: o arroz de frango, o arroz doce, o pão de ló, o leite com chocolate, a caldeirada de peixe.
A minha avó arranjava tempo para brincar comigo, fazer roupa para as minhas bonecas e, mais tarde, para me ouvir desabafar durante horas sobre desgostos de amor.
A minha avó vivia com muito pouco, com 200 euros por mês e, mesmo assim, quando me via de mês a mês, dava-me sempre 50 euros. A dada altura deixei de insistir que não precisava de me dar dinheiro nenhum, que lhe podia fazer falta, porque era muito importante para ela dar-me o dinheiro. E não lhe fazia mesmo falta.
A minha avó era tão simples e tão pouco ambiciosa como um monge. Tudo o que tinha lhe chegava. E, se alguém lhe oferecia um pouco mais, ela não usava, tão pouco valorizava. Guardava por não ter uso para lhe dar.
A minha avó fazia, cuidadosamente, bainhas nos panos de pó. Gostava de rebuçados (natas de caramelo) e bolachas Maria. Eram as suas únicas extravagâncias.
A minha avó, sem querer, ensinou-me a ser minimalista de verdade. Eu é que ainda não consigo praticar como deve de ser. Mas estou no caminho.