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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qui | 24.11.16

Pensei que ia deixar de amamentar a minha filha

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Tal como já escrevi aqui, amamentar foi um dos maiores desafios que tive como mãe.

Foi difícil e muito doloroso amamentar a Lara nos primeiros 45 dias. Muito mesmo!


Logo no primeiro mês ela não estava a ganhar peso suficiente e, a dada altura, fiquei sem saber se conseguiria amamentá-la ou não. Com a ajuda e indicações da pediatra e das enfermeiras do Centro de Saúde, persisti e amamentei a Lara enquanto ela quis, até aos 18 meses.

Com a Maria foi tudo mais fácil. Ela pegou logo na mama e mamou muito melhor que a Lara desde que nasceu. Foi doloroso mas não tanto como da primeira vez e, em duas semanas, já não tinha dores nenhumas.

A Maria era uma bebé gordinha, ganhava peso muito bem  e nunca cheguei a dar-lhe suplemento (à Lara ainda cheguei a dar algumas vezes, no hospital). Ela mamava quando queria e estava acorrer muito bem assim.

Até que, quando foi levar a vacina dos 4 meses, também foi pesada e vista pela médica de família.

Há um mês que não era pesada e descobrimos que durante esse tempo todo tinha aumentado apenas 10g. Já tinha reparado que estava mais magra mas como estava bem disposta e mamava quando queria e com regularidade, nunca me tinha preocupado com isso.

Ela devia aumentar 20 ou 30 g por dia e tinha aumentado 10g num mês o que é o mesmo que nada! Fiquei desnorteadíssima!

A enfermeira pediu-me para a amamentar ali e, de facto, ela largava a mama, começava a chorar e notava-se que saía pouco leite. O facto é que ela tinha mamado em casa há menos de uma hora por isso não devia ter fome e o leite não estava propriamente a jorrar (pensava eu, na minha cabeça, a tentar animar-me).


Comecei a tentar perceber o que podia ter acontecido e encontrei alguns factos relevantes:

  • Tenho tido vários problemas pessoais que me têm deixado muito nervosa, é um facto. Mas já tinha esses problemas no final da gravidez e tinha corrido tudo bem na mesma.Bom... nas últimas semanas tinham surgido questões novas que me estavam a deixar em stress e por isso já tinha procurado ajuda psicológica, para garantir que ficava bem, e parecia-me que estava a resultar.

  • Fiquei sozinha com as minhas filhas durante 5 dias e isso deixou-me muito ansiosa. Os dias em que fiquei sozinha correram bem, mas tive muita ansiedade na semana antes.

  • A partir dos 4 meses, a minha produção de leite diminuiu bastante e adaptou-se à procura da bebé. Acho que isso é normal. Deixamos de produzir leite a mais e, a produção passa a ser ditada pela procura do bebé ou seja, quanto mais o bebé mama mais leite é produzido.

  • A Maria começou a mamar mais depressa. Praticamente mamava, no total, cerca de 5 ou 7 minutos em cada mamada.

  • Nos dias em que estava mais cansada, não insistia tanto para que a Maria mamasse de noite. Mal ela parava voltava a colocá-la a dormir. Antes insistia mais para que ela mamasse.

    Não sei se foi algum destes factores que fez com que a Maria não ganhasse peso ou se foi uma conjugação de vários.


Ela foi medida e estava a crescer bem. A vitalidade também estava boa. O peso é que não.

A enfermeira falou com a médica e, no fim, disseram-me que tinha que começar a dar-lhe leite artificial e começar a papa. Eu perguntei se poderia insistir na amamentação e deram-me a entender (disseram mesmo) que o mais provável era começar a deixar de ter leite e de amamentar. Que já tinha amamentado em exclusivo durante 4 meses o que já era excelente!

Senti-me destroçada. Nem sei como não comecei ali a chorar. Excelente?! Como assim?Tinha amamentado a Lara durante 18 meses e estava tudo a correr bem com a Maria até ali, como é que eu podia desistir de amamentar a minha filha assim?

- Sem tentar perceber o que tinha acontecido?

- Sem saber se foi uma coisa gradual ou se aconteceu numa semana ou em alguns dias?

- Sem saber se eu tinha ficado com pouco leite e ela tinha deixado de querer mamar tanto, ou se ela tinha deixado de querer mamar e por isso é que tinha ficado com pouco leite.

- Sem tentar insistir mais na amamentação?

A médica disse-me que podia amamentar primeiro e depois dar o suplemento para ela ficar satisfeita mas tinha que dar o suplemento. Perguntei se o Promil (complemento alimentar que supostamente ajuda a produzir mais leite) fazia mesmo efeito e a médica pareceu-me cética.

Fui para casa. Pensei muito. Conversei bastante com o meu namorado. E chegámos a um plano de ação.

Gosto muito da minha médica de família e confio totalmente nela. Não costumo ter boas razões para estar satisfeita com o Sistema Nacional de Saúde mas tive muita sorte com a médica de família que me foi atribuída. É profissional, competente, empática e verdadeiramente interessada. Em pouco tempo ajudou-me em muitas situações.

Fiz o que a médica recomendou, mas fiz à minha maneira e depois de pedir também a opinião da pediatra.

Tentei dar papa à Maria e leite no biberão sempre depois dela mamar. Cuspia sempre a papa e pouco bebia do biberão. O leite que lhe oferecia não era artificial mas leite meu que tinha congelado.

Experimentei dar-lhe leite antes dela mamar e ela bebia com bastante vontade. Quando lhe dava depois de mamar não queria. Isso dava-me a entender que estava satisfeita.

Tal como a enfermeira tinha indicado passei a alimenta-la de 2 em 2 horas, mesmo de noite... mas amamentando-a. Ao mesmo tempo, tomava promil, bebia 3 litros de água por dia e 1 litro de chá de urtiga. No fim de algumas mamadas tirava leite com a bomba elétrica, mesmo que só saíssem 10 ml. Guardava o leite para tentar dar-lhe depois dela mamar. Raramente queria.

Passei a fazer de tudo para a Maria mamar mais de 5 minutos. Embalava-a enquanto mamava, cantava para ela, colocava-a em várias posições diferentes (muitas vezes de pé), dançava com ela, colocava música a tocar - que era o que resultava melhor, ela parece adorar Chopin e Nina Simone - e lá conseguia que ela mamasse 8 minutos ou, na loucura, 10.

Tem sido muito cansativo, física e psicologicamente. Mas, não ficava bem comigo mesma se desistisse de amamentar assim tão facilmente.

Ao fim de 5 dias voltámos a pesar a Maria no Centro de Saúde. Tinha aumentado 60 g, 15g por dia. Não era espetacular mas já era 6 vezes mais do que no último mês. Expliquei à enfermeira o que estava a fazer. Ela não discordou as disse que eu tinha que insistir na papa. Eu insisti, a Maria não parecia interessada (o que é normal, no princípio é mesmo assim).

Fomos pesar a Maria passados mais 5 dias e já estava a engordar as 30g por dia recomendadas, praticamente só a mamar, sem papa e sem complemento.

Fiquei tão feliz e aliviada! Afinal consigo amamentar a minha filha.

Alguma coisa aconteceu naquelas semanas em que ela perdeu peso. E o que aconteceu não foi eu deixar de ter leite. Foi ela ter mamado menos provavelmente por minha culpa. Ou por me sentir mais nervosa ou por eu estar tão cansada que não insistia com ela.

Também partilhei a minha experiência num grupo de mães do Facebook onde me contaram outros casos semelhantes, alguns de sucesso, que muito me ajudaram a decidir o que fazer nesta fase.

Claro que terei sempre em conta, acima de tudo, as indicações médicas e a minha intuição mas os grupos de mães têm desempenhado nesta minha experiência de maternidade, um papel de apoio e entreajuda importantíssimo.

Neste momento mudaram algumas coisas na amamentação:

  • Bebo 4 litros de líquidos por dia;

  • Já não acordo sozinha de noite para amamentar. O Milton acorda comigo e ajuda-me indo buscar a Maria, colocando música, indo buscar água, mudando a fralda quando é preciso e contando o tempo em que ela mama. Esta ajuda faz-me toda a diferença. De facto armei-me em forte amamentando sozinha de noite a Maria durante 4 meses e, nas últimas semanas já estava mesmo muito cansada.

  • Estou muito mais atenta às necessidades da Maria, não só para mamar mas também para dormir. Mal ela dá indícios de ter sono, vai logo dormir. Claro que isto só resulta bem quando estamos as duas sozinhas em casa.

  • Crio um ambiente totalmente propício à amamentação. Já não a amamento na rua  ou com ruído, só em casa e com a música que ela gosta.A Maria já tem quase 5 meses e ainda mama em exclusivo.


    Esta foi a minha experiência.

    Cada caso é um caso e, o que funcionou comigo pode não funcionar da mesma maneira com outras mães. Eu segui o que foi recomendado pelos profissionais de saúde mas de uma forma que ia de acordo com a minha intuição de mãe. Nós mães também sabemos e sentimos o que é melhor para os nossos bebés. O bem estar deles é a nossa maior preocupação mas, às vezes, o medo e a rapidez com que as coisas são feitas, impedem-nos de pensar da forma mais clara possível.

    Estou feliz por ter decidido não comprar o leite artificial e dar mais uma hipótese à amamentação. Claro que só pude fazer isso porque tinha leite guardado.

    Aproveito para dar um conselho que me parece de valor e gostaria que me tivessem dado: se puderem tentem tirar leite e congelá-lo nos primeiros 3 meses do bebé que é quando a produção é muito elevada. Depois a produção adapta-se às necessidades do bebé e não é tão fácil extrair o leite.

    É possível, eu continuo a tirar leite para guardar, mas é mais difícil porque não sai tanta quantidade. Se puderem guardem. Pode dar jeito. Com a Lara guardei bastante e acabei por deitar fora. Com a Maria guardei algum e foi o melhor que fiz. Cada caso é um caso mas mais vale ter guardado do que não ter. ;) 


Concluindo...

O texto acabou por ficar enorme mas quis mesmo escreve-lo para deixar a minha experiência com a amamentação e dizer que, em alguns casos, vale a pena insistir. É muito gratificante para nós e o bebé agradece.

É evidente que, se a insistência na amamentação estiver a provocar stresse e ansiedade na mãe o melhor e optar logo pelo complemento. Isso nem se questiona. A mãe acima de tudo tem que estar bem e calma para poder tratar o melhor possível do bebé. No meu caso o que me causava stress era não amamentar, ou desistir sem tentar fazer tudo o que fosse possível, e só por isso é que o fiz.

E, se logo na primeira pesagem, a minha filha não aumentasse de peso, passaria a dar-lhe complemento imediatamente.

Um beijinho enorme para todas as mães  :) 

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