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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Seg | 12.08.24

Verão de Ilhéus

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Durante a minha infância, que decorreu numa pequena vila do interior do Ribatejo, ir à praia era um acontecimento que desencadeava fortes emoções.

Acordávamos de madrugada e, ainda de noite, saímos de carro com um grande e robusto chapéu de pano cor-de-magenta para proteger do sol, uma tenda verde também de pano para fazer uma barraca, colocada à volta do chapéu, uma geleira e um saco cheio de toalhas de banho com cerca de 10 anos. Lembro-me até do padrão da maior parte das toalhas. Uma tinha um papagaio enorme e outra uma publicidade à Coca-Cola, com uma parte de veludo (naquela época, o veludo nas toalhas de praia era uma grande inovação).

Saindo tão cedo, conseguíamos evitar as filas para a praia da Costa da Caparica e, assim, passávamos um grande dia de praia, repleto de mergulhos, sandes de manteiga e fiambre deliciosas com pão que a minha mãe comprava de manhã (e as minhas tias quando iam connosco), além de fruta deliciosa.

Sempre que via o mar, ainda de carro no caminho para lá, sentia uma emoção enorme, uma alegria pela novidade que, mesmo após dezenas de visitas, nunca diminuía. Só quando me tornei adulta, vivendo mais perto da praia, é que deixei de ter que fazer um grande esforço para lá ir.

Com os meus filhos, a experiência é um pouco diferente, mas diria que melhor. Eles também sentem uma alegria enorme na praia. Como crianças cheias de energia, poderiam passar o dia a saltar na água e a enrolar-se na areia até adormecerem por lá. No entanto, o espanto e a grandiosidade da chegada não são os mesmos que eu sentia.

Para eles, a praia é como o quintal, apenas um pouco mais distante. É tão perto de casa que dá para ir a pé e chegar em 15 minutos. Um dia normal no verão, mesmo que os pais estejam a trabalhar, pode ser simplesmente chegar a casa pelas 17h30, pegar nos fatos de banho e nas toalhas e ir para a praia até anoitecer ou até a fome apertar.

Esta proximidade com o mar é uma das minhas coisas preferidas nos Açores. É o que faz com que os meus filhos já saibam nadar desde pequenos, por uma questão de inevitabilidade. Não consigo deixar de refletir, todos os dias, sobre a sorte absurda de poder comer um petisco e beber uma cerveja com amigos e família numa tasca simples com uma vista luxuosa para o oceano Atlântico.

Dizem que a alegria das conquistas dura cerca de seis meses. Eu discordo. Há coisas, não necessariamente conquistas, pelas quais sinto alegria todos os dias... há anos. Uma delas é a beleza natural que nos rodeia nos Açores e o fato de a praia estar aqui tão perto.