Um susto caricato
Tenho para mim que, sempre que saímos de casa — mesmo que seja só para uma caminhada tranquila pela vizinhança — há sempre a possibilidade de algo inesperado acontecer. Não precisa de ser extraordinário. Basta ser... estranho o suficiente para nos arrancar da rotina.
Hoje foi um desses dias.
Não aconteceu nada digno de capa de jornal, nada verdadeiramente espetacular. Mas o efeito psicológico foi bem real — daqueles que só se desfaz quando percebemos que, afinal, não era nada de grave. O desconhecido tem esse poder: assusta-nos, mesmo antes de sabermos do que se trata.
Estava a regressar de uma bela caminhada de 30 minutos, completamente focada no podcast que ouvia com os headphones. De repente, sem qualquer aviso, sinto a sensação mais bizarra de sempre: algo quente, viscoso — e vivo — na minha mão.
Importa dizer que, além de estar de auscultadores, não estava minimamente atenta ao que me rodeava. Estava absorvida, num daqueles momentos em que o mundo exterior desaparece. Por isso, reagi como qualquer pessoa em piloto automático: lancei a mão para a frente do peito, num gesto brusco, e devo até ter gritado um pouco.
Só então percebi: ao meu lado estava um cão. Um simpático (e não assim tão pequeno) cão que decidiu cumprimentar-me da forma mais carinhosa que conhecia — com uma boa lambidela na mão.
A dona vinha uns metros atrás e, ao ver o susto, pediu desculpa. “Ele não faz mal”, disse.
Sorri. “Não tem problema nenhum”, respondi. “Só fui apanhada de surpresa.”
E segui caminho, a rir-me sozinha.