Um homem bom
Lembro-me bem da sensação de ver partir pessoas boas.
Às vezes mudavam de emprego, de cidade, de vida. Outras vezes, era simplesmente o tempo delas de seguir caminho. Pessoas que faziam falta. Que marcavam. Que cuidavam.
Chorei algumas despedidas — de professores, colegas, chefes — gente que, com um gesto simples ou uma palavra certa, fazia diferença no meu dia.
As pessoas boas reconhecem-se com facilidade: tratam-nos bem mesmo quando nada temos para lhes oferecer. Não fazem distinção entre quem tem muito e quem tem pouco. Não precisam disfarçar o que pensam, porque, quase sempre, pensam com dignidade.
Sou agnóstica, com raízes culturais católicas — como tantas pessoas que cresceram na Europa. A figura do Papa sempre me foi distante.
Mas o Papa Francisco era diferente.
Era um homem bom.
E é por isso que é lembrado com carinho, saudade e admiração, por crentes e não crentes.
Era alguém que não só falava de amor, mas o praticava todos os dias.
Um verdadeiro humanista. Um homem que acolhia, que escutava, que julgava ações, e não pessoas.
Um homem que, pelo que dizia e pela forma como o dizia, inspirava.
O mundo perdeu um homem notável.
Notável não só pelo que fazia, mas porque era visível, respeitado, escutado — e por isso, influente.
Alguém que usava o lugar de poder para promover empatia, inclusão e cuidado.
Espero que o seu sucessor, mesmo que tenha outro estilo ou personalidade, traga pelo menos o mesmo espírito: o de alguém que ama antes de julgar.
As pessoas boas — não apenas simpáticas ou educadas, mas boas de verdade — são aquelas que têm a coragem de fazer o bem, mesmo quando isso não é o mais fácil nem o mais popular.
O Papa Francisco foi uma dessas pessoas.
Um exemplo de ser humano, de líder, de presença no mundo.
Oxalá surjam mais vozes assim. O mundo — a humanidade — precisa disso.