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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qua | 07.05.25

Tudo é Rio

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Como começar a falar do livro Tudo É Rio, da brasileira Carla Madeira?

Li o livro em três dias, mas poderia tê-lo lido facilmente em meia dúzia de horas. O livro espantou-me, intrigou-me, e depois puxou-me para dentro daquela realidade de uma forma incontornável.

Peguei no livro por acaso. Estava a "fazer zapping" nos livros que tenho no Kobo e parei neste, que já tinha visto aqui e ali pelas redes sociais.

Se soubesse dos temas que ali encontraria, não o teria lido. Não teria querido entrar na sombra desses temas, achando que já tinha opinião formada suficiente sobre a miséria humana, e que poderia bem saltar mais um livro sobre isso.

Ainda bem que não sabia absolutamente nada sobre o livro — e assim fiquei até ao fim, sem perceber absolutamente nada sobre ele, apenas deixando-me envolver por aquelas personagens absolutamente perfeitas.

Este é um livro de personagens, tal como eu gosto. A história é maravilhosa. A escrita, poética, envolvente, brilhante — arrisco dizer — pela sua simplicidade lírica, pelo ritmo do português do Brasil, com uma musicalidade própria que nos aconchega e encanta. Mas as personagens são tudo.

Quando leio um livro destes (daqueles que parecem captar a essência humana com uma sensibilidade aguçadíssima), não consigo deixar de querer muito perceber quem é o autor, capaz de descortinar assim a alma humana. Os escritores são os meus super-heróis, a par de músicos, professores e… boas pessoas em geral. Quem são estas pessoas que conseguem misturar as palavras desta maneira e transformar essa mistura num retrato quase fiel do que é a existência em condições impossíveis?

Este livro, com personagens e acontecimentos que estão a anos-luz da realidade que conheço, fala de mim em cada capítulo. Provavelmente, as emoções humanas variam na forma, mas na essência são iguais para todos. Talvez seja assim.

E acho que é isto que distingue os livros de que gosto daqueles que pouco me dizem. Isto Acaba Aqui, por exemplo, que fala do mesmo tema que Tudo É Rio, não me toca. Eu não me vejo em nada ali, não encontro beleza, nem poesia, nem encantamento no livro (embora tenha gostado de outros livros da autora). Tudo É Rio é diferente. Tudo É Rio tem aquela particularidade de mexer com o nosso interior, revolvê-lo e deixar-nos irreversivelmente diferentes quando terminamos de o ler. Ou, pelo menos, durante uns dias, enquanto dura o efeito e o impacto do livro.

O livro tem o dom único que a arte tem… dizer-nos coisas que nunca estaríamos dispostos a ouvir na vida real. É quase uma forma traiçoeira de nos dizer o que não queremos ouvir, de nos mostrar e de nos querer fazer ver aquilo para que tantas vezes fechamos os olhos: somos todos humanos, todos sofremos, todos poderíamos perdoar.

Adorei o livro. Chorei com ele. Achei-o mais brilhante do que perturbador. Sinto que me tornei uma pessoa melhor por uns dias. Não me sinto capaz de amar o inimigo, nem de o perdoar. Mas consigo perceber que ele é humano e que sofre.

Se puderem, leiam. É um livro mesmo muito bonito sobre o amor. Não o amor romântico, em especial, mas o amor pela humanidade — essa fraqueza bonita que nos une.

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