Tesouros dos anos 90: as danças de salão
Tinha 13 anos - e uma disposição muito alegre, como se pode ver na foto- quando decidi, com uma amiga, experimentar danças de salão. Olhando para trás, não sei bem se gostava ou não das aulas. Acho que, mais do que entusiasmo, era uma forma de ocupar o tempo para além da escola. Talvez já naquela altura tivesse a tendência de me colocar em situações desconfortáveis só para testar os meus próprios limites emocionais.
A verdade é que não me identificava com os outros miúdos (e graúdos) que lá andavam. Não tínhamos nada em comum e eu sentia-me completamente deslocada. Fisicamente, era pequena, magra e desengraçada. Psicologicamente, então, parecia pertencer a um universo paralelo. Para tentar encaixar-me, puxava da imaginação e inventava conversas sobre temas esotéricos ou misteriosos, só para ver se captava o interesse de alguém.
Havia, no entanto, um detalhe que me fazia sentir bem ali: um menino de seis anos chamado Mathiew. Gostava de pegá-lo ao colo e mexer-lhe no cabelo espetado, tão macio que parecia um tapete fofinho. Ele - um menino mesmo querido e amoroso- deixava-me fazer-lhe festas no cabelo e, de certa forma, era um gesto que despertava o meu lado maternal – um hábito que, curiosamente, mantenho até hoje com o Eduardo quando ele corta o cabelo.
Lembro-me também de um detalhe curioso: antes das aulas, no caminho para o estúdio, levava comigo um copinho de licor de anis que tirava, às escondidas, da garrafa que o meu pai guardava na sala. Na altura, não pensava muito no que aquilo significava, apenas sabia que era doce e me dava uma certa “disposição” para enfrentar as aulas de danças de salão.
Apesar da minha timidez, gostava de dançar – especialmente ritmos como o samba e o jive. Ainda hoje me lembro de alguns passos e coreografias. O meu par era um rapaz simpático e paciente, que, como acontecia com muitos rapazes na dança de salão, tinha de dividir-se entre três parceiras. Eu, sendo a mais desengraçada e infantil do grupo, achava que ele tinha uma enorme generosidade por não se recusar a dançar comigo (sempre a autoestima lá em cima!).
Cheguei a fazer algumas apresentações, com o vestido que aparece na foto, e não me lembro de terem sido experiências traumáticas.
Eventualmente, acabei por sair das danças – sem uma razão que me lembre. Mas acredito que, de alguma forma, esta fase serviu para alguma coisa.
Se soubesse o que sei hoje, teria ido para as danças de salão com um amigo meu – que, por acaso, agora é padre – e com quem me dava bem. Ele acabou por ir também para lá, mas não sei se foi na mesma altura que eu. O facto é que ele dançava lindamente, muito melhor do que eu, e teria, certamente, sido mais divertido.
Como não me lembrei disso na altura, lá fui fazendo as minhas acrobacias e dançando músicas mais ou menos românticas com o meu parceiro de ocasião – que merecia um prémio pela paciência!