Apesar de ter estudado Comunicação Social — e talvez por isso mesmo — há muitos anos que deixei de ver notícias de forma assídua, sobretudo na televisão. Quando quero manter-me informada (e a verdade é que tento fazê-lo todos os dias), recorro a meios escritos, normalmente jornais online. Também sigo alguns podcasts, que considero mais sérios e ponderados. Sempre que posso, tento olhar para os vários lados de uma questão. Ouço vozes diferentes, especialmente quando se (...)
Na minha mais recente viagem de avião, fiquei sentada num dos lugares do meio. Tinha um senhor do lado da janela e uma rapariga — acho que francesa, talvez — na coxia. Foi uma viagem de duas horas e pouco, e eu achei que talvez não precisasse de ir à casa de banho durante o voo. Bebi alguma água, nada de especial, e estava mais ou menos confortável… até cerca de meia hora antes do voo terminar. O que é que se passa? Como eu não tinha muita vontade de ir à casa de banho (...)
Vivemos num tempo em que a informação chega até nós de todos os lados, a toda a hora. Notícias, opiniões, teorias, factos, falsidades — tudo se mistura numa torrente difícil de controlar. Nunca tivemos tanto acesso à informação… e, paradoxalmente, nunca foi tão difícil saber em que confiar. Hoje, qualquer pessoa pode publicar conteúdos e fazê-los chegar a um público vasto — seja através das redes sociais, de blogs, de newsletters ou de simples partilhas em grupos de (...)
A minha mente está constantemente povoada por uma série de narrativas, mais ou menos com vida própria. Às vezes, paro um pouco para as analisar e refletir sobre as memórias mais vívidas que tenho. Sabem, aquelas que nos permitem sentir o perfume dos sítios, a textura dos tecidos e até o calor de um dia de sol. Sinto que não tenho escolha quanto a estes pensamentos, mas a verdade é que — tenha ou não escolha — gosto deles. Habituei-me a eles e, se não os posso evitar, (...)
Não vamos falar de baratas. Nem de melgas. Elas não cabem neste texto. Falemos de centopeias e outros insetos. Os insetos incomodam-me cada vez menos. Entendo-os como seres vivos que, por acaso, estão a ocupar o mesmo espaço que eu. Não os adoro, tão pouco os odeio. Respeito-os tanto quanto as minhas imperfeições de ser humano o permitem. Por algum acaso da natureza ou, para os crentes, por decisão divina, eu tenho, nos dias que correm, maior poder de decisão que eles.De (...)
Lembro-me bem do primeiro livro que me ofereceram: “A Bela Adormecida”. Acho que já não tenho esse livro, mas lembro-me muito bem da sensação que foi tê-lo nas mãos, de como o achava bonito, especial e perfeito. Ter um livro só meu, comprado para mim, que podia ler e reler sempre que me apetecesse, foi uma sensação mesmo especial. Já não me lembro quantos anos tinha quando mo ofereceram — foi um tio de quem gostava muito que mo deu — mas creio que uns 9 anos. Durante (...)
Lembro-me bem da sensação de ver partir pessoas boas. Às vezes mudavam de emprego, de cidade, de vida. Outras vezes, era simplesmente o tempo delas de seguir caminho. Pessoas que faziam falta. Que marcavam. Que cuidavam. Chorei algumas despedidas — de professores, colegas, chefes — gente que, com um gesto simples ou uma palavra certa, fazia diferença no meu dia. As pessoas boas reconhecem-se com facilidade: tratam-nos bem mesmo quando nada temos para lhes oferecer. Não fazem (...)
Lembro-me bem de ter 5 anos. Lembro-me de ter a cabeça cheia de dúvidas existenciais, questões filosóficas tão grandes e abrangentes que ainda hoje vivem na minha mente. Curiosamente, o Eduardo, agora com 6 anos, parece ser o meu filho que herdou essa veia filosófica da mãe. Entre as suas muitas perguntas de caráter mais prático, como: “Como é que os peixes respiram?” ou “Como é que vou ganhar dinheiro quando for crescido?”, surgem outras como: “Existe um espírito no (...)
Esta é a pergunta que parece importar no fim. Provavelmente, já todos ouviram falar da série “do momento”: Adolescência. Muito resumidamente, trata-se de uma série de quatro episódios sobre os motivos que levaram um adolescente de 13 anos a matar uma colega da escola. É um drama que se centra no impacto psicológico desta tragédia sobre a família e, principalmente, sobre o pai do rapaz que comete o crime. “Onde é que errei como pai?” é a pergunta duríssima que fica no ar. (...)
Demorei meses a ler Anna Karenina. Não por falta de interesse—pelo contrário. Mas tenho o hábito de ler vários livros ao mesmo tempo, e este, com a sua densidade e profundidade, exigia outro tipo de atenção. Não era um livro para ser devorado, mas para ser vivido, absorvido, sentido. Havia páginas que me obrigavam a parar, refletir, voltar atrás e reler um parágrafo que, com uma simplicidade enganadora, desmontava a complexidade da alma humana. Se Tolstói tem um talento (...)