Lembro-me bem do primeiro livro que me ofereceram: “A Bela Adormecida”. Acho que já não tenho esse livro, mas lembro-me muito bem da sensação que foi tê-lo nas mãos, de como o achava bonito, especial e perfeito. Ter um livro só meu, comprado para mim, que podia ler e reler sempre que me apetecesse, foi uma sensação mesmo especial. Já não me lembro quantos anos tinha quando mo ofereceram — foi um tio de quem gostava muito que mo deu — mas creio que uns 9 anos. Durante (...)
Quando eu tinha 13 ou 14 anos, ainda não era verdadeiramente uma adolescente. Cresci mais tarde — talvez só a partir dos 15. Durante toda a minha infância, até essa idade, tive poucos estímulos exteriores. Tínhamos apenas dois canais de televisão, com uma programação limitada e pouco variada. Não havia internet, nem redes sociais, nem dispositivos móveis. Não frequentava qualquer atividade extracurricular — tirando uma breve passagem pelas danças de salão, aos 13 — e (...)
Quando está sem saber o que fazer, num intervalo entre uma brincadeira e outra, a Lara começa a construir todo o tipo de coisas. Já perdi a conta de tudo o que ela tem criado, mas, de vez em quando, lembro-me de fotografar as suas obras, para que possamos recordá-las mais tarde. Este bichinho, segundo as palavras da Lara, serve para fazer companhia quando nos sentimos sozinhos e para apertarmos. Ela fez o bichinho ontem, mas hoje acrescentou-lhe uma varinha mágica, feita com um (...)
Basta deixá-la usar a criatividade. Deixei a Lara na cozinha durante uns minutos e, quando regressei, estava a fazer uma torre de lápis de cor. Às vezes o melhor que fazemos é deixá-los brincar como bem entendem (dentro dos limites que consideramos razoáveis). No útimo fim-de-semana, por exemplo, deixei-a brincar numa poça de lama num parque a que fomos. Ela aproveitou a lama e algumas pedras para fazer um castelo. Sujou-se toda, mas divertiu-se muito. A roupa... lava-se.
A Maria está numa fase em que adora clementinas (chama-lhes tangerinas) e pede todos os dias para comer uma. Estávamos na cozinha e ela estava a alinhar algumas "tangerinas" na mesa, junto duma laranja. Supostamente a laranja seria a mãe das "tangerinas". Depois a Maria, desenvolvendo toda uma história na sua cabeça em que as frutas eram as personagens, disse: "Lá vão as tangerinas tangerinar por ali."
A Folia do Monstro A Lara tinha ficado comigo em casa e estava a fazer uns desenhos numas folhas, enquanto eu escrevia no computador. Algum tempo depois, já as duas sentadas no sofá, ela diz-me que inventou e desenhou uma história e pergunta-me se eu a quero ouvir. Encantada, digo que sim e começa a Lara, muito baixinho: "A mãe, o Eduardo e a Lara foram dar um passeio mas perderam-se e foram pelo caminho errado. Então apareceu um monstro. O monstro queria colocar-nos numa (...)