Ao longo dos meus 43 anos de vida, sempre tive a sorte de nunca me faltar o essencial. Nunca passei dificuldades em termos materiais e, acima de tudo, sempre tive comida na mesa. Contudo, desde pequena, aprendi um valor fundamental: a importância de não desperdiçar alimentos. Creio que isso se deve ao fato de ter sido criada pela minha avó, uma mulher simples e amorosa, que começou a trabalhar ainda criança, durante a ditadura, e que viveu de perto as dificuldades da escassez. (...)
Agora que os meus filhos estão mais crescidos, as questões que os envolvem começam a tornar-se um pouco mais complexas do que mudar fraldas ou ter de dar atenção a três crianças pequenas ao mesmo tempo. Os meus três filhos são absolutamente diferentes entre si. Têm diferentes afinidades uns com os outros, e isso é maravilhoso. Gosto muito que assim seja, mas, por vezes, é complicado ter de me focar em tantas questões ao mesmo tempo. Ora vejamos: Neste momento, tenho os três (...)
Tenho um problema de foco desde que me conheço. Se algum assunto não me interessa especialmente ou se estou mesmo aborrecida com alguma situação ou conversa, os meus olhos simplesmente começam a desfocar. E a mente também. Lembro-me, quando era criança, de sentir dificuldade em voltar a focar os olhos quando estavam a falar comigo. Era um esforço físico. A minha mente está sempre em forte atividade e salta de um assunto para outro de uma forma caótica. Perante uma situação (...)
Este ano, o Eduardo começou o primeiro ano e estava muito entusiasmado com a ideia. Sempre adorou fazer trabalhos com letras e números na pré-escola, por isso prevíamos que tudo iria correr bem. A Lara começou o primeiro ano durante a pandemia e, com os três miúdos em casa, as coisas não correram às mil maravilhas, mas ela lá se foi safando. Já a Maria estava nervosíssima com o primeiro ano, receosa de não conseguir aprender a ler e a escrever, e insistia para que lhe (...)
Quando andava na escola da vila onde nasci, e até ao 10.º ano, quando fui para uma escola maior, sempre me senti muito diferente e desenquadrada. Ou porque era mais baixinha do que todas as raparigas da turma, ou porque me vestia muito mal, ou porque era extremamente tímida, porque não tinha tema de conversa com as outras raparigas, porque falava de coisas estranhas, porque não tinha interesses ou não os sabia mostrar, porque não tinha atividades fora da escola, porque não havia (...)