"Shots" de educação matinal, entre afazeres banais
Cá em casa, não temos o hábito de nos sentarmos na sala a conversar sobre "coisas sérias". Os miúdos têm idades muito diferentes e é difícil mantê-los atentos a uma conversa que não lhes interesse muito.
Por outro lado, quando existem problemas, seja na escola, seja em casa, é praticamente impossível abordar os assuntos de forma racional. Se está a ocorrer um conflito entre dois deles e um bate no outro, é muito difícil trazê-los à razão naquela altura. As emoções estão a ferver e, realmente, eles não vão querer ouvir nada que tenha para lhes dizer que não seja a favor da sua causa.
De modo que aproveito os contextos mais banais do nosso quotidiano para explicar as coisas mais importantes aos meus filhos. É quando estão a meio do almoço, meio ensonados a acordar, a meio caminho da casa de banho, durante um passeio ao jardim ou no regresso da escola que lhes falo muito sobre minimalismo, desperdício, e sobre o facto de não ser mau sermos diferentes dos outros.
Isto é muito importante para mim.
Há coisas que negligencio muito. Os meus filhos têm dificuldade a sentar-se a uma mesa quietos, não cumprimentam as pessoas quando entram num sítio, não comem sempre de garfo e faca e gritam muito (em casa). A Lara ainda não percebeu que não pode escalar tudo o que lhe aparece à frente e o Eduardo foge dos colegas sempre que os vê fora do contexto escolar, mesmo quando tudo o que quer é brincar com eles. A Maria porta-se muito bem em público, curiosamente, mas consegue fazer perguntas muito inconvenientes.
Há outras coisas que reforço, até demais. Falo quase todos os dias da importância de uma alimentação saudável. Explico até à exaustão que não existem pessoas superiores a eles, nem inferiores, só diferentes, e isso que é ótimo.
Tento que eles nunca sejam os agressores numa briga, mas que nunca deixem de se defender como puderem.
Digo-lhes sempre que não são as pessoas mais importantes do mundo, e têm que o saber estimar e dividir, empaticamente, com os outros, mas que serão sempre as pessoas mais importantes do mundo para mim.
Asseguro-lhes que podem ser o que quiserem e fazer o que quiserem, mas que, caso decidam manter-se na nossa sociedade, há regras que têm que ser cumpridas, como não andar nu na rua ou comer com as mãos.
E assim vamos indo, educando os miúdos o melhor que sabemos.
A verdade é que só podemos dar aquilo que temos. É o que fazemos. Colmatamos o que nos falta em "berço" com o que nos sobeja em "idealismo".