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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qua | 26.03.25

Série “Adolescência”: Onde é que os pais e a sociedade estão a errar?

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Esta é a pergunta que parece importar no fim.

Provavelmente, já todos ouviram falar da série “do momento”: Adolescência. Muito resumidamente, trata-se de uma série de quatro episódios sobre os motivos que levaram um adolescente de 13 anos a matar uma colega da escola.

É um drama que se centra no impacto psicológico desta tragédia sobre a família e, principalmente, sobre o pai do rapaz que comete o crime. “Onde é que errei como pai?” é a pergunta duríssima que fica no ar.

Não vou falar sobre os aspetos técnicos da série nem sobre a irrepreensível interpretação dos atores — outros poderão fazê-lo muito melhor do que eu.

Gostaria, sim, de dar o meu ponto de vista como mãe de três crianças, como criança que fui e como alguém que se sente bastante apreensiva com a forma como as novas gerações estão a ser formadas.

O tema da série não é novo. A não ser que tenham estudado num colégio muito bom e muito tranquilo (ou numa boa escola pública), todos terão memória de episódios de violência na adolescência: bullying, agressões a colegas e professores e até casos de suicídio. Infelizmente, é uma realidade que atravessa gerações e está mais relacionada com a natureza humana do que com a época em que se vive.

Hoje, no entanto, esta realidade assume contornos próprios: temos as redes sociais, que tornam tudo público; fenómenos sociais como a associação dos incels; e uma nova geração de pais que carrega um peso da culpa que, creio, não existia tanto há 30, 40 ou 50 anos.

Quando acontece uma tragédia destas — principalmente numa família onde nada o fazia prever (pais amorosos, equilibrados e preocupados) — o choque é avassalador.

E nós, que nos consideramos pais regulares (afinal, aquela família parece muito mais paciente e carinhosa com os filhos do que eu), sentimos automaticamente uma empatia extremamente dolorosa por aquele pai que ama o filho acima de tudo e nunca poderia imaginar que ele — um miúdo amado e sem qualquer exemplo de violência ou masculinidade tóxica na família — pudesse tornar-se um assassino.

Não acho, de todo, que esta série coloque a culpa nos pais. Acho que é um excelente convite à reflexão.

Por ser dotada de um cinismo crónico, eu acredito que, nas condições ideais, qualquer pessoa pode cometer um ato de loucura. E um adolescente, vítima de bullying e com a certeza de que é um falhado, é uma bomba prestes a explodir. Lembro-me de ter 12 anos e de gozarem comigo por não ter namorado, por ser magra e pequenina e até por tirar boas notas. Lembro-me de me sentir a mais feia das criaturas e, apesar de acreditar que nunca seria capaz de matar ninguém, posso garantir que essa fase da minha vida não colocou os seres humanos no meu top 10 de espécies preferidas no mundo.

Como mãe, faço o que todos os pais fazem, incluindo os nossos: o melhor que posso. No meu entendimento (que pode não ser o correto), vejo a proibição não como uma coisa chata ou perigosa, mas como uma forma de amor e cuidado. Por isso, sim, os meus filhos não têm smartphones, não têm acesso irrestrito ao YouTube, a não ser para pesquisa e com supervisão dos pais; podem ver televisão e jogar em horários previamente acordados; e têm de se aborrecer de vez em quando e inventar coisas para fazer sem que os pais estejam sempre a entretê-los como se fossem animadores culturais de plantão.

Desde que se mostram capazes de ouvir e entender palavras em português, explico-lhes que a internet não é interessante para eles, que nem todos os adultos são sábios, maduros ou boas pessoas, que nem sempre devem fazer o que um adulto lhes diz — mesmo que seja um professor ou um familiar — e que a opinião dos outros é quase completamente irrelevante para as suas decisões na vida. Ensino-lhes também, espero que na mesma medida, a respeitar os outros e a fazer-se respeitar.

Infelizmente, às vezes, digo estas coisas aos gritos. É uma das minhas grandes falhas como mãe. Depois, explico porque grito e deixo claro que não é por culpa deles.

Vou tentando ensinar aos meus filhos que “Todos têm isto” ou “Todos fazem aquilo” é o argumento menos inteligente que podem usar. Explico-lhes que o que todos fazem raramente é o mais acertado. E, sim, muitas vezes encorajo-os a desafiar a autoridade e a questionar, respeitosamente, o que os adultos lhes dizem.

Dou um exemplo: se um professor lhes chamar nomes ou gritar sem que tenham feito nada ou sido desrespeitosos, devem levantar-se e dizer, com calma e firmeza, que gostariam que o professor lhes dirigisse a palavra num tom de voz baixo e respeitoso. Acredito que isto pode contribuir para a saúde mental deles. Se estou certa? Gosto de acreditar que sim, mas não faço ideia.

Para finalizar, gostaria de acrescentar algo que ainda não ouvi entre tudo o que li e escutei sobre a série. O pai levava o filho para praticar desportos que acreditava serem bons para ele (futebol e boxe), mas o miúdo gostava mais de desenhar.

Acredito que devemos observar atentamente os nossos filhos e tentar perceber quem são e o que gostam de fazer, mesmo que isso vá contra os nossos desejos e expetativas. Um rapaz não tem de ser másculo, e uma rapariga não tem de ser feminina. Cada um deve ser o que é, com a aceitação das pessoas que mais os amam e os devem proteger.