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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qui | 12.07.18

Senti-me tão feliz pela minha filha! E por mim também.

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Sempre fui uma criança tímida. 

Hoje ainda sou tímida, mas em criança a minha insegurança e a minha timidez eram muito mais acentuadas, impedindo-me de vivenciar as coisas com descontração e alegria.

Nunca tive muitas crianças (ou adultos) com quem brincar e mesmo quando entrei na escola pela primeira vez (ainda tinha 5 anos) nunca fiz muitos amigos nem brincava muito com as outras crianças. Lembro-me de estar permanentemente assustada, insegura e com medo de qualquer coisa. A escola não ajudava, certamente, porque sempre tive turmas complicadas com muitas crianças mais velhas que tinham lares problemáticos mas também era muito da minha personalidade.

A Lara é muito parecida comigo. É um bocadinho reservada o que a leva a, por exemplo, não responder quando alguém que ela não conhece bem fala com ela ou a não cumprimentar as pessoas quando as encontra. 

Na penúltima festa da escola, tinha ela 2 anos, chorou muito na apresentação. O ano passado não fomos porque a Maria tinha acabado de nascer.

Acho que chorei também e fiquei muito ansiosa com aquela situação porque, claramente, ela não estava a gostar de estar ali no palco, e eu não podia fazer nada. Tive vontade de a ir buscar e tirar dali mas não o fiz e depois de estar connosco ela já estava bem disposta e alegre.

Sei que é uma situação normal, nada de especial, as crianças choram mesmo e numa situação estranha nada mais comum que isso.

Mas custou-me porque sei o que é estar desconfortável em frente a uma pequena multidão e, não havendo real necessidade, não queria ver a minha filha a passar por isso.

Por isso estava muito apreensiva em relação à festa da escola deste ano.

A Lara falava disso com entusiasmo e não se mostrava nada incomodada com a sua atuação numa peça de teatro mas eu estava um bocadinho apreensiva. Ainda por cima os minutos antes de chegarmos à escola tinham sido tensos e com alguns ralhetes, comigo cansadíssima e cheia de calor (o tempo estava super húmido e abafado e eu, grávida de quase 8 meses, estava com um humor particularmente impaciente), a termos que levar a Maria e a Lara para sítios diferentes, numa escola cheia de pais e de crianças na mesma situação que nós... Bom, chegámos lá com as duas (eu a Lara) com uma grande tromba e eu fiquei com receio que isso ainda a ajudasse menos durante a atuação.

Lá fomos e chegou a vez da turma da Lara representar uma pequena peça em que ela ia fazer de passarinho junto com alguns coleguinhas.

E lá vinha a Lara, com a sua roupinha amarela, uma asas giríssimas coloridas e um bico de papel muito cómico, a saltitar e a correr toda feliz entre as árvores do teatrinho. Tão crescida, tão à vontade e tão feliz!!!!
Ela estava mesmo a divertir-se, isso era notório. Esteve muito bem a peça toda, tal como os outros meninos, e ainda esteve na brincadeira com outro menino (um passarinho azul) enquanto aguardava uma outra parte da peça.

Ela viu-nos, chamou-me e fartámo-nos de acenar uma à outra durante a peça. Sim, parece que sou uma dessas mães. Passei o tempo todo como uma tonta a mandar-lhe beijinhos e a acenar-lhe. Sempre que precisava de se concentrar ignora-me e concentrava-se na letra da música que estavam a cantar, muito séria. Saiu da peça a acenar-nos, toda contente.

Minha querida filha! Tão diferente de mim afinal!

Não consigo mesmo explicar o que significa para mim vê-la tão à vontade e tão feliz na escola!

Sei que não devemos projetar-nos nos nossos filhos e não devemos querer que eles sejam o que nós não conseguimos ser mas eu não consigo mesmo resistir a querer que ela tenha uma coisa que eu não tive: uma infância muito feliz!

 

Apoia-la-ei no que ela quiser fazer na vida. Não faço questão nenhuma que ela tenha esta ou aquela profissão ou faça este ou aquele desporto. Isso é com ela. Mas farei tudo o que poder para a ajudar a ser uma pessoa autónoma, independente, desenrascada e com capacidade para ser muito alegre e feliz!

Mais tarde soube que ela é que escolheu ser um passarinho na peça. Portanto as crianças tiveram liberdade para escolher o papel que iam interpretar, se assim o desejassem. Isso não preço. A educação das miúdas é o nosso maior e melhor investimento. Tanto quanto sei, não as ensinam a ler e a escrever com 4 anos. Mas sabem, muito bem, como as ajudar a ter uma infância com valores e sobretudo, com um lugar muito especial reservado para a alegria, brincadeira e divertimento.