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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Seg | 24.03.25

Preparar a estrada para os filhos ou preparar os filhos para a estrada?

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Não sei de quem é esta expressão. Não é minha, mas concordo inteiramente com ela.

Na prática, no entanto, é difícil aplicá-la. Sinto que, com a minha filha mais velha, a Lara, muitas vezes caio na tentação de lhe preparar a estrada. Com os outros filhos também, mas acredito que, com a experiência, vou conseguindo evitar fazê-lo.

O que tento, à medida que os meus filhos crescem, é preparar cada vez menos a estrada para eles e ajudá-los a ganhar as ferramentas de que precisam para percorrê-la sozinhos.

Uma das formas como eu e o Milton tomámos essa decisão foi ao colocá-los numa escola privada até ao final do 1.º ciclo. Nessa fase, acreditamos que são mais vulneráveis e que ainda não têm as ferramentas necessárias para lidar com algumas dificuldades que podem surgir no ensino público.

A Lara, com 10 anos, entrou para o 5.º ano numa escola pública e rapidamente notou a diferença. Passou a estar numa escola com milhares de alunos em vez de centenas. Deixou de ser conhecida pelo nome por todos os funcionários. Os professores já não eram todos amáveis e carinhosos.

Sinto que ela se está a adaptar bem. Nunca disse que não queria ir à escola e, até agora, só chegou a casa a chorar duas ou três vezes – por professores que gritaram com ela de forma desproporcional ou por um comentário infeliz que a fez sentir-se diminuída.

Quando algum colega lhe tira algo, ela vai buscar. Quando lhe pregam rasteiras, aprende a desviar-se. E quando um professor tem uma atitude excessivamente “assertiva”, digo-lhe para tentar ter empatia, porque sei que ser professor não é fácil. Mas também lhe digo que, se se sentir mal ou desrespeitada, pode e deve expressar isso de forma educada. Claro que não espero que o faça de imediato – nem nós, adultos, conseguimos sempre. Mas acredito que estas ideias vão ficando arrumadas na mente dela para quando as quiser usar.

Quando um colega se comporta de forma agressiva, ensino-lhe que deve sempre defender-se. Mas, se não houver agressão física, tento mostrar-lhe que pode olhar além do comportamento do outro. Pergunto-lhe se o colega tem lanche, se parece bem cuidado, se tem roupa limpa. Explico-lhe que, muitas vezes, as crianças que se comportam de forma mais difícil têm vidas igualmente difíceis – e que todas mereciam ter os mesmos cuidados e segurança que ela tem em casa.

Digo-lhe que deve ser sempre respeitosa com os colegas e com os professores, independentemente da forma como a tratam. Mas também lhe digo que deve esperar mais dos professores do que das crianças, porque os professores são adultos, são educadores, e deveriam saber mais e melhor.

Não sei se estou a fazer tudo bem, mas é assim que vamos andando.

Confesso que estou sempre atenta ao comportamento dos professores, porque noto uma grande diferença entre o ensino privado e o público. Sei que a linha entre uma repreensão justa e uma falta de respeito pode ser facilmente ultrapassada.

Já ouvi histórias de professores a chamarem repetidamente nomes como “idiotas”, “chatos” e “ignorantes” às crianças. Já vi repreensões por mínimos detalhes, uso de ironia e sarcasmo quando um aluno tem dificuldades. Mas também conheço professores fantásticos, que elevam esta profissão a um nível de humanismo e dignidade inspirador.

No entanto, acredito que a escola também serve para ensinar os miúdos a lidar com adultos que nem sempre fazem as coisas certas. É um ensinamento valioso – dentro de certos limites.

Se houver professores a ler este texto, espero que não o entendam como uma crítica generalizada. Entre as pessoas que mais admiro no mundo, há muitos professores. Na minha opinião, é a profissão mais bonita e necessária que existe. Mas quando não é bem exercida, as consequências podem ser muito dolorosas para as crianças.

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