Paris em Família: uma cidade que é ainda mais do que dizem
Se, como mencionei no texto anterior, nunca tive grande vontade de visitar Paris por a considerar demasiado “popular”, bastaram-me os primeiros passos na cidade para todas as dúvidas se desintegrarem. O que senti foi um encantamento imediato, que só cresceu ao longo dos dias que lá passei.
A verdade é que não tenho palavras suficientes para descrever o quão maravilhosa é esta cidade.
Chegados ao aeroporto, apanhámos um transfer para o primeiro apartamento que alugámos para as primeiras duas noites. Ficava no Trocadéro, a poucos metros da praça. Confesso que, no caminho, fiquei um pouco apreensiva com o que via. Os prédios eram pavorosos. Muito feios mesmo. A paisagem parecia fria e sem charme, e por breves momentos perguntei-me se teria razão ao não ter incluído Paris na minha lista de destinos de sonho.
Mas, assim que entrámos no coração da cidade, tudo mudou. A arquitetura, o carisma das ruas, a energia vibrante de cada esquina… Mesmo dentro da carrinha, através das janelas, percebi que Paris tinha algo de absolutamente único.
Deixámos as malas no apartamento — um prédio antigo, cheio de charme — e saímos para a rua. Caminhámos alguns metros até à praça do Trocadéro, e ali estava ela: a Torre Eiffel, imponente e majestosa. Assim que a vi, fiquei estarrecida com a beleza daquele cenário.
Sempre achei que a Torre Eiffel era sobrestimada. No meu imaginário, era apenas um pedaço de ferro no meio da cidade. Mas, de repente, estava diante dela, e não podia estar mais enganada. A grandiosidade, a elegância, a forma como se impõe na paisagem... Tudo ali me deixou sem palavras.
E, a partir desse momento, a minha opinião sobre Paris só melhorou. Quer fosse ao contemplá-la do topo da Torre Eiffel, a qualquer hora do dia ou da noite, quer fosse ao perder-me num pequeno detalhe inscrito num muro antigo de Montmartre, fui-me apaixonando pela cidade, detalhe a detalhe.
Ao longo da vida, visitei algumas cidades que me marcaram: Roma, Milão, São Francisco, Londres, Madrid, Barcelona, Estocolmo e, claro, a minha muito amada Lisboa. Sempre achei que nenhuma cidade poderia rivalizar com Lisboa, porque Lisboa é o meu primeiro amor — aquele amor especial, que nos marca por ser o primeiro e que nos encontra numa fase inocente da vida.
Mas Paris… Paris é um amor mais maduro. Mais experiente. Mais profundo.
Agora percebo perfeitamente quando alguém diz que adoraria tomar o pequeno-almoço em Paris. Se pudesse, eu própria o faria pelo menos três vezes por mês. E a verdade é que sinto uma urgência em voltar, sempre que posso. Não descarto, sequer, a possibilidade de começar a traçar um plano para viver lá durante algum tempo.
O que senti em Paris foi mais do que um encantamento crescente pela beleza da cidade. Foi uma familiaridade. Uma sensação de pertença. A ponto de me sentir completamente à vontade no meio da azáfama parisiense — no metro apinhado de gente, a carregar malas pesadas com o Milton e os três miúdos, sem qualquer receio ou ansiedade. A ponto de sentir felicidade instantânea só por caminhar pelas ruas, ladeadas por uma arquitetura de uma beleza inacreditável.
A grandiosidade de Paris abraça-nos. Em vez de nos afastar, envolve-nos e faz-nos sentir que pertencemos ali.
E pensar que percorri as ruas de Paris com camisolas velhas — as únicas mais quentes que tinha no armário —, de óculos postos para evitar que os olhos secos me dessem cansaço, e sem parar tanto quanto seria esperado para tirar fotografias… Porque, naquele momento, era muito mais importante viver Paris do que registar Paris.
Adorei a língua, as pessoas, os cafés e os restaurantes lindíssimos. Paris é poesia em cada canto. Dei por mim a apaixonar-me pelos mais pequenos detalhes: desde as garrafas de vidro reutilizadas dos restaurantes, usadas para servir água da torneira, até à forma como os empregados de mesa diziam estar desolados por não terem uma mesa disponivel.
E, mais do que isso, senti que me encontrei ali. De repente, tantas coisas que nunca tinham sido validadas ou explicadas fizeram sentido: o meu gosto por sapatos de fivela, sabrinas prateadas, coisas brilhantes, a mania de guardar garrafas bonitas para servir água, a vontade de pintar paredes de verde-escuro, o desejo de colecionar palavras soltas escritas em papéis rasgados.
Peço desculpa pelo texto longo e, talvez, um pouco desorganizado. Mas a verdade é que, por mais que tente, sinto que ainda não consegui dizer nada de jeito sobre Paris.
Na impossibilidade de descrever verdadeiramente a beleza e a alma desta cidade maravilhosa, tentarei ser mais prática nos próximos textos e trazer-vos informações úteis.