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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Sex | 20.01.17

Os professores mais caricatos que tive

professor

 

O texto de hoje é inspirado num artigo do blog Por Falar Noutra Coisa, que podem encontrar aqui.

 

Começo por dizer considero a profissão de professor uma das mais importantes que existem. Os professores formam pessoas, formam os governantes e aqueles que vão decidir os destinos da humanidade. Por isso eles têm mesmo que ser bons, vocacionados e, se não forem apaixonados pelo que fazem, pelo menos têm que ser competentes e justos.

 

Felizmente tive alguns  professores excelentes que ajudaram a fazer de mim a pessoa que sou hoje. Falo de pessoas que são muito mais do que brilhantes naquilo que fazem. Os professores de que falo são inspiradores, são pessoas boas, integras e muito criativas. Tenho muita em ter privado com eles.Mas não é deles que vou falar hoje.

 

Hoje vou falar dos bizarros.

 

A Sádica

Era minha professora de Latim. Baixinha, gorducha, sardenta e cheia de genica.

Era uma daquelas criaturas com a mesma dose de loucura e de paixão pela profissão, que nos fazem tremer de cada vez que temos que ir ao quadro.

 

Logo no primeiro dia de aulas, pôs-se, toda entusiasmada, à frente da sala inteira a cantar uma espécie de hino em Latim, com uma voz esganiçada.

 

Ninguém se riu. Acho que toda a gente percebeu que quem era capaz daquilo, era capaz de tudo.

 

Deixou logo bem claro que, após lermos um texto em latim do manual e procurarmos o significado de cada palavra no dicionário, tinhamos a obrigação de as decorar imediatamente. E ai de nós se não soubéssemos alguma coisa da qual ela já tivesse falado ou que estivesse numa matéria já dada no livro. Ai de nós mesmo.

Eu tinha imensa pena dos  "que tinham mais dificuldades" porque eram tão insultados e enxovalhados no quadro que descambavam inevitavelmente numa choradeira mais ou menos ruidosa.

Julgo que foi com esta professora que percebi que precisava de alguma violência psicológica para me colocar na linha porque, naquele ano, quase fiquei a falar fluentemente latim. Lembro-me que, de cada vez que tinhamos com exercício construir uma frase em latim, eu arranjava logo umas 15, as quais, após passar a minha vez, distribuia generosamente pelos menos colegas que ainda não tinham sido chamados ao castigo.

 

Eu gostava dela. Lá está, punha-me na linha.

 

O tarado inofensivo

Este era baixinho, gordinho e talvez fosse inteligente.

 

Era daqueles que, se calhar, tinha consciência plena do mundo e da realidade porque o que fazia era ir para ali falar mal do políticos e do estado das coisas em geral.  Estava bem integrado na coisa. Não sendo incompetente, não ensinava nada. Limitava-se a falar mal disto e daquilo, olhar para as gajas, falar mal do sistema, mencionar alguma biografia, olhar para as gajas, dizer algumas piadas pseudo intelectuais, olhar para as gajas, dizer mal dos políticos, dar umas fotocópias que nem se dava ao trabalho de mencionar mais, dizer mal dos patrões (fossem lá eles quem fossem) e olhar para as gajas.

 

As notas eram dadas mais ou menos a olho por isso, por mais que não gostasse do homem, lá tive que desenrascar uns dois ou três sorrisos amarelos para levar um 17 numa disciplina onde ninguém aprendeu ponta de corno.

 

O badalhoco 

Era professor de História e tinha várias alcunhas entre as quais "Charro" e "Zé das Cruzes". Zé das Cruzes porque só fazia testes de cruzes, a outra alcunha não sei bem. Na altura andava no 6º ano e, acreditem ou não, não sabia o que eram charros.

 

O homem era verdadeiramente estranho. Posso jurar que uma vez o vi, no bar da escola, a tapar uma narina e mandar uma torrente de ranho para um caixote do lixo, pela outra. Era estranho assim.

 

Nas aulas, andava sempre com um caderninho onde colocava "mais" e "menos" à frente dos nossos nomes, consoante as nossas respostas às suas perguntas. Eu não era muito de pôr o dedo no ar mas, quando ninguém respondia começava a fazer-me impressão e lá respondia. Uma vez perguntou se alguém sabia o que era adultério. Eu sabia. Ele duvidou e pediu-me para explicar melhor. Eu expliquei. Lá levei um  "mais".

 

Agora perguntam vocês: "Não sabias o que era um charro e sabias o que era adultério?

 

Lá em casa ninguém fumava mas, em compensação, não faltavam vários exemplares da revista "Maria". E depois dizem que aquilo não era literatura de jeito. Aos 10 anos ensinou-me muitas coisas. Entre as quais que nunca me deveria casar.

 

O machista com síndrome de torette

 Este era bem agressivo. Era professor de trabalhos manuais e, não raramente, mimava as suas alunas com nomes carinhosos como "aluada" (que na minha terra queria dizer pervertida ao nível duma ninfomaníaca), gritava com elas como se lhes fosse dar uma murraça em menos de nada, e não se acanhava em mandar-nos à merda se lhe aprouvesse.

 

Basicamente ele demonstrava nutrir um desprezo de estimação por tudo o que não tivesse uma pila.De modo que estava na aula de trabalhos manuais, na interessante fase das madeiras, a tentar serrar uma girafa (que seria um porta-lápis) com um serrote finíssimo, quando me apercebi que a lâmina daquilo estava rachada e iria partir-se a qualquer momento.

 

Como com 10 anos já tinha uma grande queda para a sobrevivência, acerquei-me de um dos alunos preferidos do professor (que não era de uma inteligência brilhante mas era boa pessoa e bom com o serrote) e disse-lhe: "Ó Bruno, tu que és tão talentoso nisto não me queres ajudar aqui a serrar a girafa?". Ele, prestável como um bom cavalheiro, veio logo ajudar-me.

 

Tal como previsto, a lâmina partiu-se em menos de 10 segundos. Claro que o Bruno não se ralou nada e tudo terminou em bem. Falou com o professor para substituir a lâmina, enquanto grossas gotas de suor me escorriam lentamente pela testa (mentira) e pronto. Pude voltar a respirar com normalidade.

 

 

A "estou-me a cagar"

 É a professora responsável por não perceber nada de física nem de química. Se pudesse, eu instituía que ser a professora que ela era devia dar direito a prisão.

 

Tive 2 anos inteiros de aulas com uma professora que não nos ensinou absolutamente nada. A mulher ia para ali ganhar o seu dinheiro fazendo corpo presente.

 

Ela nem se esforçava. Estava-se completamente a cagar para aquilo. Nos testes toda a gente copiava mesmo na cara dela. Chegaram a tirar-me a folha onde estava a escrever as respostas de um teste, mesmo na primeira secretária da sala. Ela nem se mexeu quando eu me queixei.

 

Não é que me importasse que copiassem por mim, mas ao menos que me deixassem ir escrevendo. De qualquer forma também não sabia nada por isso, tanto fazia. 

 

A que não percebia nada daquilo

 Mais uma gordinha e baixinha.  Tinha um ar de mãezinha querida e simpática.

 

Infelizmente calhou ser uma professora de português, uma das minhas disciplinas preferidas de sempre.  Eu sempre gostei verdadeiramente de português, principalmente a parte de interpretação de texto e a escrita de textos criativos. Sempre tive gosto em ter boas notas a português. Era uma espécie de tradição vá.

 

A mulher nunca me passou do 14. Foi a pior nota de sempre que tive a português. Nunca percebi a cena dela. Já não me lembro como era com os outros colegas mas nunca percebi a cena dela comigo. Lembro-me que ela era insegura e não era uma professora excepcional. Era suficiente e nada inspirada.

 

A única conclusão a que chego é de que ela não conseguia atingir o nível de brilhantismo e erudição das minhas palavras nos testes e, na dúvida, como não percebia o que eu estava a dizer, dava-me uma nota mediana.

 

Como nunca fui de pedinchar, deixei-me ficar por ali.

 

Nas provas globais recuperei para 17 acho.

 

 

A parvalhona

 Esta era da escola primária.

 

Aposto que, se ela se lembrasse de mim, diria: "O quê? Aquela parvalhona?"

 

Deve ser assim um sentimento recíproco.Ela era nova na escola, veio substituir uma colega e, por algum motivo, não fui à bola com ela desde o início. Mas a gota de água veio depois.

 

Uma vez ela bateu tanto num miúdo que ele ficou todo negro. No fim do dia, ela ficou "à rasca" e pediu à continua que trouxesse álcool com o qual besuntou o miúdo de cima a baixo, mesmo ali na sala. Estava-se mesmo a ver que era o álcool que iria tirar as nódoas negras assim, em minutos. Esse episódio deve tê-la rotulado de estúpida na minha cabeça, para sempre.

 

Um dia chateei-me com qualquer coisa e discuti com ela. Já desconfiava que, depois do episódio do outro rapaz, ela não se ia atrever a bater-me por isso estiquei-me mais um pouco. No fim da aula, bati com a cadeira e gritei-lhe que no dia seguinte não iria à escola.

 

No outro dia de manhã, disse ao meu pai que estava cheia de dores de ouvidos. Eu já sabia que tinha um problema qualquer nos ouvidos, por causa do qual os meus pais me levavam ao hospital de vez em quando. Então achei que valia a pena tentar. Fomos às urgências e, com algum espanto meu confesso, o médico corroborou a minha teoria. Ele disse: "Sim, sim. Ela tem aqui muitas cicatrizes de otites, é normal que esteja com dores".  E pronto.

 

Confesso que me sinto um bocadinho mal com esta situação porque o meu pai preocupava-se muito com a minha saúde e eu não devia ter usado isso por um motivo tão parvo.

 

Sintam-se à vontade para acrescentar aqui mais uns professores bizarros. :)

 

Isto é matéria para vários livros.

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