Os pensamentos da Lara, tecnologia e uma professora excelente
Um destes dias estava eu a caminhar com a Lara pela cidade. Foi uma caminhada longa, cerca de 25 minutos, desde a escola até casa. Durante o caminho, ela contou-me um episódio que achei muito interessante.
Uma aula não planeada, mas muito importante
Nesse dia houve um furo na escola: uma professora faltou e foi substituída pela professora de robótica. Aproveitando a hora, a professora decidiu falar com os miúdos sobre o tempo passado em frente a ecrãs — telemóvel, tablet, computador ou televisão — e sobre alguns perigos dessa exposição excessiva.
Fez uma espécie de estatística oral, perguntando a cada criança quanto tempo passava ligada à tecnologia.
A realidade cá em casa
A Lara explicou como as coisas funcionam cá em casa:
joga apenas uma vez por semana, uma hora ao domingo;
vê televisão um pouco mais, mas também não todos os dias e sempre com tempo limitado;
a maior sessão de jogo que já teve foi de quatro horas (casos raros, como quando temos grandes limpezas ou convívios com amigos).
Os meus filhos não têm smartphones. O acesso é sempre controlado e equilibrado. Claro que, quando a Lara era mais pequenina, também chegou a ver desenhos num telemóvel num restaurante, mas nunca foi hábito ter acesso livre. Com o tempo, fomos alinhando as nossas escolhas, pesquisando sobre os perigos e vantagens da tecnologia, e ajustando as regras.
Tanto eu como o pai trabalhamos em áreas próximas das tecnologias, conhecemos bem as suas vantagens e riscos, e isso ajudou-nos a tomar decisões conscientes. Sempre explicámos aos miúdos os “porquês”.
O contraste com os colegas
Segundo a Lara, na turma quase todos passam muitas horas por dia em frente a ecrãs. Alguns colegas chegaram a dizer números que me pareceram inacreditáveis — oito, dez horas por dia. Isso seria praticamente todo o tempo fora da escola!
No meio disso, apenas a Lara e mais um menino tinham restrições significativas. E, curiosamente, parece que ela até tinha as regras mais apertadas.
Os colegas ficaram muito intrigados. Perguntavam-lhe como era possível viver assim, jogar tão pouco tempo, estar tão pouco ligada à tecnologia.
E a resposta dela deixou-me orgulhosa:
“Não é difícil estar longe dos ecrãs quando se tem muitas atividades, dois irmãos, um quintal grande, amigos e um vizinho sempre pronto para brincar!"
Ouvi-la dizer isto deixou-me com o coração cheio. Não sei se vai ser sempre assim — certamente chegarão fases em que quererá mais tecnologia — mas, por agora, ela parece confortável e consciente das nossas escolhas.
Uma professora que faz a diferença
Fiquei também muito grata à professora de robótica por aproveitar aquele tempo para sensibilizar as crianças. É um tema fundamental para a educação e para a saúde mental delas.
Curiosamente, a robótica é uma atividade que a Lara adora, mas este ano decidiu não a frequentar. Explicou à professora que preferia aproveitar a sua última oportunidade de passar tardes num espaço onde pode brincar livremente, na quinta do hotel que tanto gosta. A professora apoiou a decisão, dizendo que ela fazia muito bem: este é o tempo certo para brincar e divertir-se.
Gosto muito desta professora — parece-me sensata, pedagógica e com muito bom senso.
E eu, como mãe, saí desta conversa com a Lara cheia de orgulho.
Era isto que tinha para partilhar convosco hoje.
Se tiverem pensamentos ou experiências sobre este assunto, partilhem nos comentários — adorava saber.