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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

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Ter | 26.07.16

Os meus avós

avós 7

Conheci três avós: os pais da minha mãe e a mãe do meu pai (que, felizmente, tem quase 90 anos e a quem pude dar a alegria de ter bisnetas).

 

Com os pais da minha mãe tive uma relação distante porque eles viviam longe e as visitas não eram regulares. Mas, apesar disso, tenho boas memórias deles.

 

A minha avó Leontina, mãe do meu pai, vivia connosco e foi uma mãe para mim. Toda a noção que tenho de amor maternal, aprendi com a minha avó e revejo muitas vezes, nos mimos que dou às minhas filhas, os gestos e as palavras dela.

 

A minha avó Leontina estava sempre comigo quando eu não estava na ama ou na escola porque os meus pais trabalhavam muito.

 

Era ela que me fazia o leitinho, era ela que me segurava a mão para adormecer, que me dava muitos mimos e ensinava a fazer roupinhas para as bonecas na máquina de costura.

 

Lembro-me da minha avó ter gestos suaves e amorosos e raramente perder a paciência comigo (e quando perdia tinha toda a razão). A minha avó não sabe ler nem escrever e, no entanto, ensinou-me uma das coisas mais importantes da minha vida, à qual tenho dado muito uso nos últimos tempos: o amor maternal.Tenho centenas ou milhares de memórias de infância com a minha avó, quase todas muito boas.

 

Lembro-me de irmos, todos os anos na quinta-feira de Ascenção, apanhar a espiga (um ramo de flores silvestres que ficava a secar atrás da porta da despensa durante um ano, para dar sorte) a um eucaliptal que havia atrás no nosso quintal e que hoje já não existe.

 

Lembro-me de apanharmos uma laranja pelo caminho, no quintal, e a dividirmos. Eram as laranjas mais doces que já comi.

 

A laranjeira ainda existe. Depois, íamos até ao eucaliptal e ficávamos a apanhar flores e a passear. Era mesmo muito agradável aquele lugar, sentia-me numa floresta mágica cheia de flores bonitas e recantos fascinantes. Havia um poço, numa clareira, que tinha uma caneca presa por um cordel. Íamos sempre lá beber água e bebíamos da caneca sem qualquer medo de doenças.

 

Era assim o mundo na minha infância... Tão diferente do que é hoje. :)Vejo a minha avó quando vou a Alpiarça, umas duas vezes por ano, mas vemo-nos através do skype e telefono-lhe regularmente para lhe contar como estão as bisnetas.

 

Ela já não vê muito bem mas ainda é o suficiente para ver como a Lara está crescida e como come bem. :) Geralmente falamos no skype à hora de jantar da Lara, que é quando ela consegue estar sossegada mais tempo.Os meus avós maternos viviam em Ansião, tiveram 8 filhos e 15 netos.Lembro-me da minha avó Maria como uma senhora magrinha e pequena, extremamente religiosa, e do meu avô Joaquim como um homem muito aventureiro e cheio de genica.

 

Ele era pedreiro e nunca estava parado. Estava sempre a construir uma casa ou a fazer um negócio. Não se pode dizer que os negócios fossem muito bons ou as casas muito bonitas mas acho que o objetivo dele também não era esse. Ele gostava era de estar sempre a mexer e a trabalhar. Foi sempre assim.

 

Nunca deixou de trabalhar. Também tinham quintal e animais para cuidar. Os netos deliciavam-se com os cordeirinhos pequeninos que andavam a pastar pelo quintal infinito.Os meus avós viviam numa aldeia, o casal de São Brás e eu nunca cheguei a perceber quais eram os limites das suas terras.

 

Depois da casa deles, existia um espaço infinito de caminhos de pedra, árvores e vegetação, algumas lagoas e muitos poços, árvores de fruto e arbustos com amoras... Nunca cheguei ao limite das terras e creio que nem todas eram dos nossos avós.

 

O facto é que os netos viviam autênticas aventuras a passear por aquelas terras, colecionando cartuchos coloridos que os caçadores deixavam como rasto, mandando pedrinhas às lagoas para ver as rãs a saltarem e inventando histórias de terror durante os passeios que adorávamos fazer por ali. O meu tio Manuel Augusto e eu dedicávamo-nos às histórias de terror.

 

Quanto a mim, gostava especialmente de as contar ao meu primo Luís Filipe porque ele mostrava-se sempre mais divertido e curioso que os outros. :PLembro-me da minha avó me chamar à parte e me ensinar a rezar o Pai Nosso e a Salvé Rainha (orações de que nunca me esqueci e sei até hoje) porque, para ela, a religião era o que existia de mais precioso e afligia-a muito eu não ser batizada. Sei, hoje, que ela me queria dar o que tinha como mais precioso: a fé.Do meu avó lembro-me muito bem de nos ir visitar de vespa a Alpiarça, quando esteve numa quinta em Torres Novas, e de trazer os bolsos cheios de terços de pinhões. :)

 

Eu ficava tão feliz!!!! Adorava aqueles terços de pinhões que comia num instante.As melhores memórias que tenho dos meus avós maternos não são propriamente com eles mas existem graças a eles.

 

São algumas das melhores memórias da minha infância: os momentos passados com os meus primos e tios no Casal de São Brás, o facto de ter uma família tão grande e ter a oportunidade de viver tantas coisas na minha infância que não poderia ter vivido se não fossem os meus avós.

 

Agora que sou mãe, vejo os meus avós, que criaram 8 filhos (embora em condições muito peculiares é certo) duma forma completamente diferente. Vejo a minha avó como uma pessoa muito sofrida, mas também muito valente e corajosa. E, do meu avô, tão aventureiro e ativo, vejo muitas características em mim e nos meus primos. Tenho um certo bicho carpinteiro e um certo espírito belicoso que vem dele, de certeza.

 

E reconheço isso em alguns primos também e fico feliz por partilhar isso com eles. E devo-o aos meus avós.Hoje vejo com muita alegria a relação que as minhas filhas têm com os avós e tenho perfeita noção da importância deles na vida das crianças.

 

Sinto-me muito grata e feliz por ver o amor e a atenção que os quatro avós das minhas filhas lhes dedicam, porque sei que isso lhes vai ficar para sempre no coração (ou na mente ou lá onde for).Feliz dia dos avós! :)

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