O nosso coelho da Páscoa traz livros em vez de chocolates

Já não me lembro bem quando começou esta tradição cá em casa, mas existe desde que a Lara, a nossa filha mais velha (hoje com 11 anos), era pequena.

A ideia surgiu da nossa vontade de reduzir o consumo excessivo de doces (que acabavam sempre por ser comidos mais pelos pais do que pelos miúdos) e de promover algo que valorizamos muito: o gosto pela leitura.

Claro que não queremos que os nossos filhos passem a Páscoa sem chocolates ou doces — mas a verdade é que os chocolates estão sempre garantidos. Há sempre ofertas de amigos, de professores, há sempre um evento de caça aos ovos... e sentimos que adicionar mais uma caça aos ovos no dia de Páscoa não fazia sentido para nós.

Assim, criámos a nossa própria tradição: uma caça aos livros.

Na noite de sábado, espalhei 30 pistas pela casa e pelo quintal — 10 pistas enigmáticas (mas não muito!) devidamente assinaladas por cores, para cada um dos meus filhos. A última pista levaria ao tão desejado livro.

Na manhã de domingo, ainda na cama a aproveitar o feriado, ouvíamos o rebuliço pela casa: os miúdos a correr de um lado para o outro, a pedir ajuda uns aos outros para decifrar as pistas deixadas pelo coelho.

Quando nos levantámos, já estavam agarrados aos livros — e, felizmente, cada um muito satisfeito com o livro que lhe tinha calhado. Estavam divertidos e entusiasmados, e parece que a caça ao livro acaba por ser tão importante para eles quanto o próprio livro.

Quanto aos chocolates, temos vários em casa... mas os miúdos nem se lembram deles. De vez em quando comem um depois do almoço e, devo confessar com algum contentamento, nem me parecem assim tão entusiasmados com o doce. Acho que preferem mesmo um bom gelado a chocolates.

Acredito que estamos a criar uma tradição de Páscoa igualmente bonita, sem envolver aquela quantidade de chocolate que nos parece desnecessária (e pouco benéfica) para os miúdos. Muitas vezes somos apelidados de "fundamentalistas", mas considerando as várias épocas festivas ao longo do ano — e os aniversários que parecem surgir todas as semanas — achamos que datas como o Halloween e a Páscoa têm chocolate a mais.

Acredito mesmo que estes pequenos hábitos podem ajudar a moldar um estilo de vida mais saudável e próximo daquilo que desejamos que seja a rotina dos nossos filhos no futuro. Claro que isto é mais uma esperança do que uma certeza, mas mesmo assim acreditamos que, ao introduzir pequenas mudanças nos hábitos das crianças, estamos a fazer-lhes bem.

Muitas vezes, cá em casa, andamos assim... em contra-corrente.
E isso também faz parte dos valores que passamos aos miúdos.