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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Sex | 10.12.21

Não há nada que nos salve de um mau conteúdo ou: o caso do boneco de neve

boneco de neve.jpg

Sim, isto é sobre o tal anúncio de Natal, aquele em que uma menina se aborrece com todas as tentativas dos pais para lhe construir um boneco de neve, até que chega a salvação: uns óculos de realidade virtual que podem, finalmente, oferecer-lhe a realidade com que sonha.

Chorei copiosamente a ver este anúncio. Eu e, felizmente e de acordo com os comentários que tenho visto no sítio do costume,  metade dos pais deste país.

Foram uns óculos de realidade virtual, mas podia ser um tablet, uma boneca, um livro ou qualquer brinquedo simples. Está tudo errado com aquela história. A magia do Natal não se pode resumir às "coisas" que estamos dispostos a oferecer aos nossos filhos. Quando é que começámos a educar as nossas crianças para apreciarem as coisas materiais acima de tudo o resto?

Não posso jurar que esteja a educar os meus filhos com sucesso, mas caramba! Há limites para tudo!  Quando tentamos comunicar alguma ideia, temos que nos certificar de que o conteúdo é bom, genuino, e que representa valores com que o nosso público-alvo se identifica. A sério que quem fez o anúncio acreditava que o seu público é tão superficial? 

Na minha infância, não tive tudo o que queria (materialmente falando) e agradeço aos meus pais por isso. Hoje, estou longe de dar aos meus filhos  metade do que querem. No limite, tento educá-los para não quererem muito. Sete anos depois de ser mãe, continuo a não lhes comprar nada, a pedido, quando vamos a uma loja. Simplesmente não é uma hipótese.

Talvez seja exagerada, radical, mas acredito muito nesta parte do que estou a fazer.

Estou longe de ser uma mãe exemplar. Li muitos livros sobre disciplina positiva, continuo a ler, e sei a teoria de cor. Na prática, a coisa descamba um bocado. Grito muito, faço birras com eles, e digo muitas coisas inapropriadas aos miúdos. Não sou o melhor exemplo de educação nem de linguagem. Os palavrões, eles aprendem em casa, não de propósito, claro, mas aprendem alguns em casa.

Mas não quero criar os meus filhos como pequenos reizinhos ingratos. Eles são demasiado importantes para mim, para lhes roubar a felicidade de uma vida de conquistas. Quero que os meus filhos vibrem de alegria com cada presente que recebem, quero continuar a ouvir os gritos de entusiasmo do Eduardo quando recebe uma bola do homem aranha... ou umas meias do homem aranha.

Houve um Natal em que receberam tantas prendas, que se limitaram a rasgar papeis, uns atrás dos outros, sem olhar duas vezes para o presente que tinham acabado de abrir, antes de passar ao próximo. Fiquei mal disposta. Foi uma vez sem exemplo.

Tenho a convicção firme de que, se dermos tudo aos nossos filhos, lhes retiramos a alegria de almejar.

Os meus gastos mais malucos serão sempre em folhas de papel colorido, livros, canetas, tintas, colas, pincéis, plasticina e jogos de construção. Coisas que lhes permitam criar.
E não vos engano. Nem sempre estou com eles a fazer desenhos bonitos. Mais depressa lhes digo para irem brincar com os irmãos ou que um pouco de tédio lhe faz muito bem para treinar a paciência e a imaginação.

E posso jurar sobre isto: podia ser milionária que iria continuar a dar-lhes exatamente as mesmas coisas. Já em experiências como viagens, era capaz de investir mais um bocado.

E os meus filhos, não sendo um primor de educação, dizem-me ao jantar: "Mãe, obrigada pelo esforço, mas esta sopa não está lá muito boa."

E eu respondo, muito delicadamente, que havemos de fazer juntos, um workshop de cozinha um dia destes. Já que comemos todos, bem podemos cozinhar todos.

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