Lembram-se da Ana dos Cabelos Ruivos?
Eu lembro-me muito bem.
Posso dizer sem erros e sem exageros que foi a série (em desenhos animados) que mais marcou a minha infância e mais influenciou o meu crescimento como pessoa.
Se sempre tive um pouco essa noção, agora que reencontrei a Ana dos Cabelos Ruivos na série da Netflix "Anne with an A", tive a certeza absoluta da forte influência desta série em grande parte dos princípios que me guiaram na juventude e inicio da idade adulta.
Chegou a ser chocante ver as convicções que julgava serem muito pessoais nas palavras da personagem principal da série. Afinal sou muito menos original do que pensava...
A meu favor devo dizer que de todas as séries, desenhos animados, filmes, novelas e outros programas de televisão terei escolhido deixar-me inspirar por aqueles com que mais me identificava e que iam de encontro à minha personalidade e valores. Daí ter-me apaixonado pela personagem de Ana, uma menina órfã, muito tagarela e sonhadora que tinha na sua imaginação a ferramenta mais maravilhosa e poderosa de sempre.
Para perceberem melhor vou explicar um pouco do que se passa na série:
Ana, uma menina de 13 anos que viveu a vida toda situações de bullying, abandono e até maus tratos (por ser diferente física e psicologicamente) é adotada por dois irmãos (uma mulher boa mas austera e um homem muito timido e gentil) na casa dos 60 anos.
Na pequena povoação onde passa a viver, Ana continua a destacar-se pelos seus cabelos ruivos e figura desengonçada e por ter uma personalidade bastante "inesperada" e incompreendida.
Apesar de passar por muitos desafios e momentos difíceis, Ana vai superando tudo e mantendo-se surpreendentemente alegre e positiva graças à fantástica imaginação que tem e que a faz sonhar acordada durante todo o dia.
E no que é que eu me identifico com esta personagem? Em tantas coisas que até me chego a perguntar se não me terei reinventado a partir da série de desenhos animados.
- Tal como a Ana, sou uma tagarela compulsiva e arranjo assunto sobre tudo e mais alguma coisa. É muito complicado e penoso manter-me calada durante muito tempo.
- Sempre me lembro de sonhar acordada e inventar realidades alternativas na minha cabeça. Ainda hoje faço isso mas, sendo que tenho uma realidade bastante preenchida com 3 crianças pequenas a precisar de atenção, o tempo mental é cada vez menor para as divagações.
- Tal como a Ana, ou talvez depois de aprender com a Ana, ganhei a firme convicção de que não precisava de me casar ou de um homem para ter uma vida válida e feliz.
- Sempre me senti meio estranha em quase todos os meios onde me inseria, principalmente na escola primária e até ao 10º ano. Depois a coisa foi-se atenuando bastante.
- Sempre achei pouco lisonjeador quando um rapaz me elogiava por algum atributo físico (#capazes forever :D ). Não sei bem porquê mas isso sempre me incomodou. Já quando diziam que era inteligente ou se davam ao trabalho de ler as coisas que escrevia para as comentarem comigo, ou quando se mostravam interessados no que pensava ou falavam comigo durante horas sobre assuntos que não interessavam a (quase) ninguém, impressionavam-me imenso.
- Por fim, nunca tive jeito nenhum para não ser quem sou mesmo que pareça pouco madura, meio tonta, infantil ou outra coisa qualquer. Não tenho um jeito sério e nunca terei. Não acredito, de forma nenhuma na máxima: "O hábito faz o monge" ou "À mulher de César não basta sê-lo, tem de parece-lo".
Sou mais feliz a ser eu própria o que não quer dizer que ande por aí a dizer o que penso ou a fazer o que quero.
Sou uma pessoa civilizada. :)