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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qua | 10.08.22

Gostam de estar sozinhos?

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Eu gosto. Mas não prefiro.

Cresci como filha única, nos anos 80.

Tinha dois canais de televisão, um quintal e uma imaginação meio alternativa e meio aleatória que ainda perdura, com muita vitalidade.

As minhas melhores memórias de infância são, ainda assim, de acontecimentos onde se reuniam os irmãos da minha mãe os seus filhos, na casa dos meus avós maternos, ou na casa de uma das irmãs da minha mãe, em Almada.

Nas minhas memórias mais felizes, existem os sons de dezenas de vozes, uma mesa cheia de gente e muitos primos atrás de mim, para eu lhes contar histórias de terror que inventava na hora. Existe a minha prima Joana a comer amoras dos arbustos, quando as estávamos a colher para um piquenique. Nessas memórias estou eu e a Margarida a dormir muito encostadinhas por causa do frio (ou das minhas histórias de terror), ou estamos a dividir um waffle comendo cada uma de uma lado (ao estilo da Dama e do vagabundo) por só termos dinheiro para uma. Tenho memórias fantásticas com companhia.

E continuo a preferir estar rodeada de pessoas, não muitas, mas das boas.

Mas, gosto muito, mesmo muito, de estar sozinha de vez em quando.

Adoro almoçar sozinha, num restaurante cheio de desconhecidos, tendo por companhia o livro que estiver a ler no momento. Adoro ir ao cinema sozinha ver aqueles filmes que ninguém vê, exceto eu e uma ou duas pessoas que costumam falar sozinhas na rua.
Gosto, sobretudo, de passear sozinha por cidades desconhecidas (embora não o tenha feito mais do que um par de vezes).

Às vezes penso que o que vai levar os meus filhos ao psicólogo é a gritante falta de privacidade que têm. E penso que lhes devia proporcionar um pouco daquilo que tive e que me tornou naquilo que sou hoje. Mas, depois, olho para eles, tão pouco solitários, eles que brigam diária e fisicamente pelo seu espaço, e acho que eles estão muito melhor preparados para o mundo do que eu.

Olho para eles, que crescem numa casa pequena e cheia de gente com vontades e necessidades próprias e muitas vezes opostas às suas, e vejo-os tão mais desenrascados do que eu e sinto-me  descansada.