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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qui | 20.02.25

Finalmente, acabei de ler Anna Karenina

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Demorei meses a ler Anna Karenina. Não por falta de interesse—pelo contrário. Mas tenho o hábito de ler vários livros ao mesmo tempo, e este, com a sua densidade e profundidade, exigia outro tipo de atenção. Não era um livro para ser devorado, mas para ser vivido, absorvido, sentido. Havia páginas que me obrigavam a parar, refletir, voltar atrás e reler um parágrafo que, com uma simplicidade enganadora, desmontava a complexidade da alma humana.

Se Tolstói tem um talento inegável, é o de explorar a essência das nossas emoções mais íntimas. Anna Karenina não é apenas uma história de amor, traição e tragédia; é um mergulho profundo na mente das personagens, revelando os seus dilemas, contradições e fragilidades com uma precisão quase cirúrgica. Há momentos em que sentimos que o autor nos observa, que compreende os nossos próprios medos e hesitações melhor do que nós mesmos.

A riqueza das personagens foi um dos aspetos que mais me fascinou. Não há heróis nem vilões, apenas pessoas profundamente humanas, com todas as suas imperfeições. Anna não é apenas uma mulher apaixonada e transgressora—é uma alma dilacerada entre o desejo e a culpa, entre a liberdade e a solidão. Levin, por sua vez, com a sua busca incessante por um sentido para a vida, reflete as nossas próprias inquietações existenciais. Em cada figura que habita este romance, há algo de universal, algo que nos obriga a confrontar a nossa própria condição.

E depois há o retrato da aristocracia russa, desenhado com um detalhe impressionante. Tolstói não se limita a mostrar o século XIX—ele transporta-nos para dentro desse mundo, onde as aparências pesam mais do que a verdade, onde as convenções sociais se sobrepõem à felicidade individual. 

Ler Anna Karenina é um exercício de reflexão sobre a fragilidade da natureza humana. Não é apenas um romance clássico, não é apenas uma história brilhantemente construída—é uma experiência transformadora. Um livro que nos molda, que nos obriga a olhar para dentro e a repensar o que julgávamos saber sobre o amor, a mente humana e a própria existência.