E quando as crianças nos dão valentes bofetadas?
Imaginem o seguinte cenário: um pai caminha pela receção de um hotel em direção à saída e carrega a filha, que terá uns 2 anos e tal, ao colo. A miúda está a chorar, visivelmente contrariada. É um choro de raiva, sem dúvida uma birra. Das grandes.
De repente a miúda puxa a mão atrás e espeta uma bofetada no pai. O pai diz à filha que "isso não faz". E pronto. A mãe, que também ali está, também diz qualquer coisa, numa leve repreensão, como: "Então?! Compreendemos que estás aborrecida mas não se bate no papá."Se fossem as senhoras da receção, que estavam a assistir a este belo cenário, o que pensariam?
Eu sei o que pensei muitas vezes, quando trabalhava numa loja de crianças, quando via um miúdo a esbofetear os pais, alegremente, enquanto experimentava um casaco ou uma camisa. Pensava que os pais eram uns grandes bananas que estavam a criar pequenos ditadores, pessoas que se iriam tornar adultos insuportáveis. Pensava que era inadmissível reagirem a uma bofetada com uma "pequena e meiga advertência". Não que achasse que deviam espancar o filho ali mesmo ou que tivesse uma solução melhor mas, tenho a certeza que enchia a minha mente de julgamentos e de ideias preconcebidas sobre aqueles "pais bananas".
A questão é que a miúda que deu um bofetão no pai, na receção do hotel é a minha filha. E ela também já me deu um bofetão a mim e já o fez mais que uma ou duas vezes. E, quase sempre, faço pouco mais que uma repreensão onde lhe digo que aquele comportamento me deixa triste, magoa-me e... para grande cumulo, ainda mostro empatia pelo seu aborrecimento, indicando que compreendo que ela se sinta chateada.Isto de pagar pela língua (e pelos pensamentos que costumava ter) é uma coisa que me acontece muito desde que a Lara nasceu. Sabem aquelas célebres frases que começam com: "O meu filho nunca fará isso"? Pois.
Sempre que a Lara tem um ataque de fúria, ou uma birra e nos bate eis o que não faço:
- Não lhe bato. Nunca lhe bati. Claro que não vou afirmar que nunca o farei, não sei se farei, mas não acredito que essa seja uma boa solução.- Não grito com ela.
- Não lhe chamo nomes.
- Não lhe digo nunca que o seu comportamento me vai fazer gostar menos dela.
O que faço é tentar perceber porque é que a birra aconteceu e explicar-lhe (ou tentar) que percebo que ela se sinta frustrada mas que bater, gritar e espernear não é solução. Explico-lhe porque é que não podemos dar-lhe o que ela quer e tento desviar a atenção dela para outra coisa. Muitas vezes, deixo-a chorar e exprimir os seus sentimentos (desde que não bata, claro que logo que não me apanhe desprevenida evito que me chegue a bater) e depois ela distrai-se com outra coisa qualquer.
O meu objetivo será sempre faz-la entender que comportamentos agressivos não compensam mas que também não implicam que eu deixe de gostar dela. Em altura nenhuma em que a Lara fez uma birra comigo conseguiu o que queria. Se ela está a chorar e a espernear para conseguir qualquer coisa, prefiro ficar ali a aguentar gritos o tempo que for preciso, a ceder perante aquele comportamento. Só assim ela vai perceber que a birra não compensa. Só servirá para nos chatear a todos.
Se lhe batesse estaria a dizer-lhe que não pode fazer uma coisa, fazendo-a eu própria. Tu não podes bater e para aprenderes isso toma lá uma palmada. Não julgo nem critico quem o faz (estou a falar de palmadas não espancamentos) mas para mim não resulta. Se não dou uma palmada a certas pessoas que me me chateiam verdadeiramente porque é que vou dar a uma pessoa de quem gosto tanto? Não me faz sentido. A mim claro.
Encontrei este texto, escrito por uma psicóloga que sugere algumas soluções (que me parecem muito boas) para lidar com este comportamento dos nossos filhos.Espero que seja útil e vos faça sentido. A mim fez.