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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

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Ter | 07.05.24

Devaneios sobre Lisboa e Solidão

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Uma das coisas que mais apreciava em Lisboa era o conforto que sentia entre desconhecidos.

Sabem aquela expressão que se usa para descrever um sentimento de tristeza profunda que é estar só no meio de uma grande família ou de muitos conhecidos?

Em Lisboa, eu sentia o oposto disso. Sentia-me muito confortável entre desconhecidos. Sentia isso ao percorrer a Avenida São Jorge Sozinha, ao ir ao cinema, ao passar a noite no apartamento que dividia com raparigas de quem nem me lembro o nome.

Ninguém me conhecia muito bem e ninguém fazia muitos juízos de valor sobre mim. Era refrescante e libertador. Fui muito feliz em Lisboa e nunca me senti só. Nem no dia em que, no meio das minhas dietas malucas, comi tanta salada que precisei de vomitar (literalmente por falta de espaço no estômago). Na altura, no apartamento em Benfica que dividia com 5 raparigas, pensei que nenhuma das minhas colegas de casa devia saber o meu nome e que seria estranho pedir-lhes ajuda. Pedir ajuda para quê, afinal? Queria emagrecer e, como gosto de comer, comi 5 kgs de alface em vez de um hambúrguer com batatas fritas. E, agora, parece que tenho que vomitar isto.

Então, vomitei toda a alface, senti-me fresca como uma alface e continuei bem e confortável na minha solidão.

Tudo isso se opõe àquele sentimento em que as pessoas parecem preocupar-se demasiado connosco, com todos os pormenores das nossas vidas. Isso só não me angustia mais porque vou ocupando a minha mente com assuntos infinitos (muitos deles ao nível do abstrato). Algumas pessoas não só se interessam demasiado pela vida dos outros como se ocupam a completar as partes que desconhecem com a imaginação. E eu pergunto-me como é que o dia delas parece ter 72 horas, quando eu mal consigo fazer 2/3 do que tinha planeado no meu dia!

É um enigma cuja solução não me retira demasiado tempo para reflexão.

Mas hoje, ao ler um livro do João Tordo, senti uma saudade aguda da liberdade que Lisboa me trazia. Liberdade onde a geografia se confundia com a juventude. Era jovem e vivia em Lisboa, uma receita infalível. Ou tive muita sorte, o que, em abono da verdade, continuo a ter.

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