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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Sex | 04.06.21

Desafio dos Pássaros 3.0 #3

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- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.

O cão correu atrás daquele pau e, não o encontrando, continuou a correr, convicto, pelo interminável lençol de areia que se estendia à sua frente.

Minutos antes, várias praias depois do local onde o homem espantou o cão, duas adolescentes enchiam um colchão insuflável em forma de tartaruga ninja. 

E, mudamos aqui de narrador. Deixemos falar uma das crianças.

“Tinha acabado de chegar à praia com os meus pais e a minha melhor amiga. 
Acordámos felizes, ainda de noite, para podermos estar ali de manhã cedo. A viagem de carro, longa, as sandes de fiambre feitas com pão fresco acabado de comprar e aquela boia gigante, que eu e a minha amiga tentávamos encher à vez, significavam a felicidade absoluta.

Aos 15 anos eu escondia-me para brincar com as minhas bonecas. Fazia desfiles de moda com as Barbies e roupa que improvisava com meias de nylon antigas. Mas, ali, com 13 anos, não sentia vergonha de querer brincar com uma boia. Muito pelo contrário. Estava até bastante entusiasmada.

Até eles chegarem.

Dois rapazes e duas raparigas, de uns 18 anos, instalaram-se mesmo à nossa frente.

Reparando na nossa atividade, não demoraram muito a rir-se e a mandarem bocas pouco subtis. Não faço ideia do que disseram. O olhar e a forma como se riam destroçaram o meu entusiasmo e a minha confiança. Não sei se a minha amiga foi afetada da mesma forma ou se só os achou tolos (ela sempre foi muito mais inteligente que eu, por isso é provável que os tenha achado apenas uns grandes tolos).

Lembro-me que deixei de encher o insuflável e senti que o meu dia estava estragado. Ter aquelas pessoas à minha frente fazia-me ter vergonha de existir. Restava-me ficar ali e tentar passar despercebida até à hora de regressar a casa.

Nisto, começo a ver tudo a acontecer como em câmara lenta.

Um cão enorme, castanho muito claro, vem a correr pela praia.  Ele correr sem parar, determinado e sem nenhuma emoção. Corre, apenas.

Vejo claramente o cão a pousar as duas patas dianteiras nas costas de uma das raparigas do grupo à nossa frente, e a continuar a sua corrida pela praia fora.

A rapariga queixa-se, o namorado sopra-lhe para as costas. Acabaram os risos, a chacota e a vontade de ficar na praia.

Arrumaram as coisas e foram embora.

E a tartaruga ninja insuflável tomou muitos banhos nesse dia.”

 

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