Covid-19 - Mudei de opinião sobre este assunto
Quando tudo começou, ainda na China, começaram a soar alarmes na minha cabeça. Sou hipocondríaca e penso nas questões de saúde de uma forma exagerada.
Quando o Covid-19 chegou à Europa, deixei de cumprimentar pessoas e de ir a convívios com muitas pessoas. Adiei viagens muito antes de tudo parar. Agi pelo medo e creio que isso era compreensível.
Passei a desinfetar comida e a afastar-me das pessoas na rua. Aplaudi o confinamento e encarei-o como um sacrifício de poucos meses a ser feito em prol de um bem maior. Afinal, lidávamos com o desconhecido e, na dúvida, prefiro pecar por excesso de zelo.
Passei 2 meses fechada num apartamento pequeno com a minha família. Não saíamos nem para o jardim em frente de casa.
Passou o tempo, voltámos a alguma normalidade. Passámos a conhecer um pouco melhor a situação. Os miúdos voltaram à escola. Voltaram os convívios com grupos pequenos.
Acredito que temos que ter empatia pelos outros e proteger os mais frágeis. Claro que sim. É uma questão de civismo, de humanidade.
Mas, pessoas, não podemos viver dominados pelo medo!
Que mundo queremos para os nossos filhos?
- Um mundo onde as crianças são repreendidas por abraçar os amigos ou partilhar um brinquedo?
- Um mundo onde temos medo uns dos outros e nos insultamos por pensarmos de forma diferente?
- Um mundo onde para proteger a vida física arruinamos a sanidade mental das nossas crianças?
E os idosos? Quererão viver em completa solidão para terem mais uns anos de vida?
Tenho mais questões que respostas na minha cabeça.
Eu uso máscara, convivo sempre com o mesmo grupo de pessoas, evito locais com muita gente e faço tudo o que posso para proteger as pessoas mais frágeis.
Mas não me afasto de uma criança que vem brincar com os meus filhos na praia, não grito se uma senhora se encosta a mim, sem querer, no supermercado nem exijo que mantenham os meus filhos afastados dos outros meninos na escola.
Sejamos razoáveis, por favor. Não percamos a nossa humanidade. Podemos ter opiniões diferentes e defende-las com dignidade e empatia.
Eu não preciso de viver num mundo onde todos pensam como eu. Mas gostaria de viver num mundo onde as pessoas estão abertas para o diálogo e para discutir pontos de vista diferentes.
Os extremismos incomodam-me cada vez mais. É evidente que não podemos comportar-nos como se tudo estivesse como antes. Mas também não é razoável isolarmo-nos indefinidamente, à espera que isto nos passe ao lado.
Há que arranjar uma forma segura e tolerante de viver com a realidade que temos. E que desta realidade possa fazer parte o respeito pelo próximo e por uma opinião diferente da nossa.