Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qua | 15.07.15

Contos #1 Vermelha

Encontrara, finalmente, o local perfeito!

 

Apesar de ser inverno, o céuestava sem nuvens e o vento não se fazia sentir senão através de umaleve brisa, capaz de ensaiar uma carícia suave nos cabelos de umamulher.

 

Sonhava com aquele momento há quase um ano, apesar de nunca terreunido a coragem e força de vontade necessárias para o conceber como uma realidade possível.

 

Mas, há dias atrás, sentiu que chegara omomento. Conseguia antecipar, com toda a clareza, o segundo em que airia ver. Tinha de ser ali, naquela praia, com aquele sol morno aaquecer-lhe a pele, branca e convidativa, polvilhada de sardas epequenas covinhas.

 

Chegou enfim. Pousou, quase distraidamente, a pesada mala que traziacom o material, escolhido meticulosamente, para usar nela. Sentia-seinvadido por uma borbulhante sensação de êxtase que lhe percorria todoo corpo, como uma leve corrente elétrica, e lhe entorpecia parte dos sentidos e excitava outros.

 

Tirou todos os instrumentos da mala, alinhou-os sobre uma toalhabranca, e começou a aplicá-los metodicamente na mulher: umas vezes comdelicadeza, outras com violência, mas sempre com destreza e genuínapaixão.

 

Largou o instrumento fino e comprido que estava a usar e parou para acontemplar.

 

Não conseguia deixar de observar o corpo dela, vestido de pequenosgrãos de areia dourada e enfeitado de um sono frágil e tranquilo. Os cabelos, longos e levemente encaracolados, deslizavam pelos ombros epelas costas numa sintonia harmoniosa e viva de tons ruivos e quentes.

 

De tons ruivos e quentes?

 

Uma fúria elétrica caiu sobre ele fazendo-o rasgar a mulher em mil pedaços.

 

Ele gritava, puxava os próprioscabelos e pontapeava os restos da mulher com toda a agressividade dasua frustração de pintor distraído.

 

Tinha-se esquecido da tintavermelha.