Como lidar com a torrente de informação (e desinformação) dos nossos dias?
Vivemos num tempo em que a informação chega até nós de todos os lados, a toda a hora. Notícias, opiniões, teorias, factos, falsidades — tudo se mistura numa torrente difícil de controlar. Nunca tivemos tanto acesso à informação… e, paradoxalmente, nunca foi tão difícil saber em que confiar.
Hoje, qualquer pessoa pode publicar conteúdos e fazê-los chegar a um público vasto — seja através das redes sociais, de blogs, de newsletters ou de simples partilhas em grupos de mensagens. E isto não tem, em si, nada de errado. Democratizar a produção de informação pode ser algo muito positivo. Mas há um risco sério quando deixamos de distinguir o que é verdadeiro do que é apenas convincente.
Lembram-se daquela imagem do Keanu Reeves a alimentar gatos (ou talvez cães) na rua? Correu mundo. Parecia real — e, vindo dele, um gesto perfeitamente plausível. Mas era falsa. Uma montagem. Inofensiva, sim. Mas quantas outras imagens, manchetes ou "estudos" circulam com igual facilidade… e consequências bem mais graves?
O problema não é partilhar — é partilhar sem verificar. E isso acontece com todos: já vi pessoas sérias, bem-intencionadas, formadas, a partilharem informações que não são verdadeiras. Muitas vezes porque as receberam de outras pessoas igualmente bem-intencionadas. Mas boas intenções não bastam.
Então, o que fazer?
A minha resposta é simples — embora exija algum esforço: verificar as fontes.
Nos últimos tempos, tento sempre confirmar a origem da informação antes de a partilhar. E sigo um princípio básico: confiar em poucas fontes, mas boas. Jornais nacionais ou internacionais com critérios editoriais rigorosos. Pessoas ou entidades que sei que são consistentes, sérias e transparentes.
Se vejo uma informação interessante de uma fonte desconhecida, não a partilho logo. Primeiro, cruzo dados. Pesquiso em páginas oficiais. Consulto fontes institucionais. Tento perceber se aquilo tem fundamento ou se é apenas uma opinião travestida de facto.
Claro que dá trabalho. Mas vale a pena. E hoje em dia temos meios ao nosso alcance: sites oficiais, bibliotecas digitais, fact-checkers, arquivos de imprensa. Estão à distância de um clique. O difícil, às vezes, é parar para fazer esse clique.
E quando sou eu a publicar?
Grande parte do que escrevo é opinião — reflexões pessoais, experiências de vida. E isso é legítimo. Mas quando partilho algo que envolve dados, estudos, ideias de especialistas, procuro sempre indicar as fontes. Se cito um psicólogo, um artigo científico, uma entrevista, deixo o link. Para que quem lê possa ir mais longe, confirmar, questionar.
Porque acredito nisto: partilhar informação exige responsabilidade. E, hoje, essa responsabilidade é de todos nós — não só dos jornalistas ou académicos. Se usamos as redes para informar, então temos de saber como fazê-lo bem.
O mundo mudou — e a forma como nos informamos também
O problema não é a internet. Nem as redes sociais. É a forma como as usamos. Acreditar em tudo o que vemos online é uma forma perigosa — e preguiçosa — de nos informarmos. E, pior ainda, abre caminho para a manipulação, para o extremismo, para a desinformação.
Por isso, esta é a minha sugestão, simples e prática:
Seja para ler, seja para partilhar — verifiquem a fonte. Confiem menos na viralidade e mais na veracidade.
Porque, num mundo cheio de ruído, ser criterioso é um ato de cidadania.