Como ensinar a um filho a ser focado quando nós não somos?
Tenho um problema de foco desde que me conheço. Se algum assunto não me interessa especialmente ou se estou mesmo aborrecida com alguma situação ou conversa, os meus olhos simplesmente começam a desfocar. E a mente também.
Lembro-me, quando era criança, de sentir dificuldade em voltar a focar os olhos quando estavam a falar comigo. Era um esforço físico.
A minha mente está sempre em forte atividade e salta de um assunto para outro de uma forma caótica. Perante uma situação que testemunho, uma pedra que vejo na estrada com um formato diferente, ou uma flor que dança ao sabor do vento, começo logo a imaginar um filme na minha cabeça, com personagens, emoções e até banda sonora. É mais forte do que eu.
Enquanto caminho sozinha na rua, faço verdadeiros filmes de 3 horas na minha mente.
Para me focar no que preciso de fazer, tenho cadernos onde anoto tudo, faço meditação e tento ser minimalista em tudo o que posso. Não passo muito tempo em redes sociais (até porque isso também me aborrece) e tento usar o meu tempo livre para ler ou aprender coisas novas (geralmente teóricas, a meu gosto).
A Lara saiu toda a mim nisto. E, na escola, as suas notas começam a refletir isso.
Recebo e-mails dos professores a dizer que se distrai muito facilmente, seja a conversar, a desenhar ou a fazer outra coisa qualquer. Mesmo que tenha boas notas nos testes, acaba por ter uma nota final pior devido à sua distração constante.
Isto causa-me alguma tristeza, porque, mesmo nas disciplinas preferidas dela, como educação física ou educação visual, está a ter notas que, para ela, são desanimadoras.
Sei que a culpa não é dos professores, mas a Lara, com professores que explicam a matéria com muito gosto e de forma cativante, é uma aluna completamente diferente. Chego a receber opiniões completamente opostas dos professores: uns dizem que é extremamente distraída, outros que é muito interessada e trabalhadora. E eu reconheço as duas possibilidades.
Eu e o pai falamos com ela todos os dias sobre isso. Sempre que podemos, estudamos com ela. Mas sei, por experiência própria, que não é fácil contrariar a sua natureza, principalmente num sistema de ensino que não está preparado para lidar com as diferenças e para tirar o melhor de cada personalidade. Percebo que a Lara resista a ser encaixada num molde de onde sairá igual a uma "criança modelo".
Para já, insisto com ela para que seja sempre respeitosa com os professores, que não fale durante as aulas e se mantenha com uma postura correta. Digo-lhe também que deve estabelecer limites claros com os professores: pode não gostar do que dizem dela e pode defender-se de forma respeitosa. Explico que os professores nem sempre estão com paciência, que a vida deles também não é fácil e que, às vezes, podem ser injustos, mas jamais podem bater ou insultar os alunos, e ela deve sempre defender-se de situações que a deixem desconfortável.
E vamos indo assim. Vou marcar uma reunião com a diretora de turma e com a professora que mais se queixa da Lara para tentar encontrar, em conjunto, um plano que melhore o aproveitamento escolar dela.
Alguém que esteja a passar por algo semelhante na passagem do 4º para o 5º ano?