Coisas de irmãs #3
A Maria pode passar o dia aborrecida mas, assim que a Lara chega a casa, ri-se para ela às gargalhadas toda contente.
A Lara, orgulhosa, faz palhaçadas para a irmã se rir ainda mais.
Quando a Maria a vê subir para a nossa cama, já sabendo que vai por-se ali a pular, começa logo a rir-se com um sorriso que é único e dedicado apenas à irmã.
“Vê Maria, vê!” diz a Lara, várias vezes ao longo do dia, fazendo caretas, mostrando novas habilidades e brinquedos à irmã.
Às vezes saio da sala e digo à Lara para ficar a tomar conta da Maria. Claro que estou sempre de olho nelas e, sem a Lara me ver, vejo como dá brinquedos à Maria, como lhe dá beijinhos e abraços (como eu faço com a Lara desde que era pequenina) e lhe faz festinhas quando ela choraminga.
Se peço à Lara para entreter a Maria enquanto faço algo na cozinha ela pára o que estava a fazer e leva a tarefa muito a sério. É enternecedor ver os esforços da Lara a fazer caretas para manter a Maria tranquila e sem chorar, porque eu lhe pedi.
Às vezes tem ciúmes da Maria. Nessas altura quer comer na cadeira de bebé, quer deitar-se na espreguiçadeira dela e brincar dentro do parque. Nós deixamos.
Também pede colo quando temos a Maria ao colo e, se pudermos, damos-lhe todo o colo que ela pede.
Não se zanga com a Maria mas gosta de falar com ela a imitar a nossa maneira de falar:
"Maria não faças isso. Isso faz dói dói."
Quando alguém vem cá a casa e traz um bebé, ela faz festinhas ao bebé e depois, com orgulho, abraça-se à Maria e diz que é a irmã dela.
E em todas estas vezes, eu agradeço muito o facto de estar cansada tantas vezes, todas as noites sem dormir, todas as fraldas mudadas, a roupa bolsada e os braços cheios de músculos. Agradeço as olheiras, a barriga mole, o cabelo despenteado, as refeições apressadas de pé.
E sinto, tantas vezes, que a única coisa que se equipara ao que sentimos a olhar para um filho, é ver desenvolver-se o amor entre dois filhos nossos.