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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qua | 12.10.22

Aventuras de uma míope



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A miopia surgiu na minha vida quando tinha 16 anos.

Lembro-me bem do oftalmologista me ter dito que teria de usar óculos para sempre, em todas as ocasiões, e de eu ter começado a chorar, desesperada.

Ah... como é bom ser jovem e ter problemas de jovem! Nada como sofrer por coisas de somenos.  Bom... mesmo depois do meu namorado, querido como era, me ter assegurado que ficava bastante bem com óculos ou sem óculos (o amor é lindo!) eu não estava nada satisfeita.

Assim, recusei-me a usar óculos durante bastante tempo. Ou até dar tantas "barracas" que se tornou completamente impossível fazer a minha vida normal sem óculos.

Ora vejamos:

Andava pela rua e não conseguia reconhecer a cara de ninguém a menos de um metro, mas conseguia distinguir as pessoas, pela postura, pelo volume do corpo e pela maneira como se movimentavam. Tantas competências que se adquirem, quando se quer (ou precisa).

Ainda assim, aconteceram-me coisas bizarras como:

Entrar numa sala de aula que não era a minha, sentar-me numa secretária e ter toda a turma a olhar para mim, em silêncio, durante o tempo suficiente para eu perceber que havia algo de errado ali. Simplesmente não conseguia reconhecer ninguém e, para mim, estava na aula certa, com os meus colegas e o professor do costume. Só que não. Já nem me lembro como saí da situação, mas não deve ter sido com a fama de ser uma pessoa muito "normal".

Numa outra ocasião, entrei num carro da mesma cor daquele onde era suposto entrar, não vi que já estava ocupado e sentei-me ao colo da senhora que estava no lugar do passageiro. Tudo gente simpática e afável, visto que não tenho nenhuma memória traumática dessas situações.

Ainda assim, tornou-se claro que teria que usar óculos e, a determinada altura, lá me conformei. A partir daqui, todos os episódios mais estúpidos da minha vida (que nunca foram poucos)  deixaram ter ter a desculpa da miopia.

Até este verão. 

Estávamos num parque aquático que não conhecíamos e eu não podia usar lentes, porque estava com conjuntivite. Também não dava muito jeito usar óculos no aquaparque, pelo que fui míope mesmo. Ora, estando sempre perto do Milton e dos meus filhos, não haveria problema.

Acontece que aquelas piscinas em particular, ficavam com 1,80 em determinadas zonas e eu não sei nadar, ou melhor, atrapalho-me a nadar se souber que não tenho pé. De modo que fui atravessando essas zonas, com o Milton por perto, nadando (ou movendo-me na água, na horizontal, como podia) cheia de stress.

Chegando a uma ponta do parque, depois de atravessar a zona sem pé a custo, os miúdos e o Milton decidem que aquela zona é desinteressante e voltam para trás, pela piscina de 1,80 m sem se lembrarem que, se se afastassem muito, eu deixava de os ver.

E ali fiquei eu, sozinha, com uma piscina de 1,80 m à frente, e sem saber para onde ir, porque não fazia ideia de onde estavam eles, mesmo que estivessem bem visíveis para a maior parte das pessoas.

Fiquei ali sentada, com ar de paisagem, a fingir que estava muito satisfeita a apanhar sol, até alguém da minha querida família dar pela minha falta e se lembrar que estava sem óculos e sem lentes.

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