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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qui | 10.03.16

As minhas inseguranças de mãe

fones

 

A Lara vem elétrica da creche. Farta-se de dizer coisas impercetíveis entre guinchinhos e saltinhos de excitação.

 

Não quer mudar de roupa e corre de um lado para o outro, indecisa entre brincadeiras. Ri-se por tudo e por nada e dá gargalhadas que às vezes me parecem mais tentativas de nos entusiasmar também a brincar com ela do que de verdadeiro humor.

 

Às vezes aproveito alturas em que ela está concentrada numa brincadeira para ir fazer alguma coisa noutra divisão da casa (sempre com ela ao alcance da minha vista): arrumar a roupa lavada que está sobre a cama, arrumar os brinquedos da sala, lavar alguma louça do almoço. A maior parte das vezes ela faz-me entender que quer que eu esteja ali ao pé dela, a vê-la brincar, mesmo que ela não me esteja a ligar nenhuma. Se não acedo, ela vem buscar-me pela mão. Eu vou sempre, esteja a fazer o que estiver. Vou sempre com ela quando me pega na mão e me faz sentar ao lado dela e depois me ignora e continua a sua brincadeira.

 

Ocasionalmente olha para mim em busca de aprovação e eu faço sempre um ar espantadíssimo e contente com o seu feito. Outras vezes tento aproveitar para lhe ensinar mais uma letra, um número, uma palavra.

 

Às vezes preocupo-me por ela falar tão pouco com quase dois anos. Depois passa-me rapidamente. Ela faz-se entender bem e, seguramente, entende tudo o que lhe dizemos.

 

Grande parte do tempo não estou certa de lhe estar a dar a atenção suficiente, de não ter a paciência que devia, de não ter sabedoria para a ensinar melhor, de não lhe passar a segurança que devia.

 

Tento lembrar-me de como foi a minha infância e noto que cada vez me lembro menos. Procuro memórias de tardes de verão, rotinas diárias e não me lembro de nada de especial.

 

Lembro-me de brincar sozinha com as minhas bonecas já com uns 5 ou 6 anos, de fazer roupas pequeninas com a minha avó, blusas com mangas de balão, de passear com os meus pais num jardim em Santarém onde íamos tirar fotos todos os fins de semana e pouco mais.

 

Depois de algum esforço lembro-me da minha mãe a dizer-me que havia monstros debaixo da cama, a colocar-me piri-piri no nariz porque eu tinha dito uma asneira sem saber, a fazer uma música com as mãos que só ela sabia fazer.

 

Depois revejo-me a dizer à minha filha que vem um leão lá fora e por isso ela tem de se despachar e entrar em casa, a molhar-lhe a chucha em sumo de limão para ver a cara dela…

 

Depois penso nas memórias que quero que a minha filha tenha da sua infância e sinto-me muito insegura. E tenho medo que ela um dia não se lembre de nada de especial. Mesmo que tenha existido algo de especial, tenho medo que ela não se lembre.

 

Tenho medo de querer tanto que esteja sempre a rir que me esqueça de lhe incutir disciplina e educação.Tenho medo que ela não se sinta suficientemente amada com o facto de passar parte do tempo a dar-lhe beijos, a abraçá-la e a dizer-lhe como gosto dela.

 

Tenho medo que ela note que às vezes a ponho a ver desenhos animados para ir fazer outra coisa qualquer, outra coisa que é muito menos importante que ela.

 

Ao fim de dois anos de maternidade sinto inseguranças novas, diferentes, que se prendem menos com a saúde e segurança da minha filha e mais com a sua personalidade e felicidade.

 

Que memórias quero que a minha filha tenha de mim?

 

É a pergunta que mais martela na minha cabeça ultimamente.

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