Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Dom | 28.05.17

As diferenças entre viver numa cidade pequena e viver numa cidade grande

Ponta Delgada e Lisboa.JPG


Vivi em Lisboa cerca de seis anos e estou em Ponta Delgada há sete.

 

Sempre gostei de Lisboa e adorei cada segundo em que lá vivi. Gostava da agitação, da sensação boa de estar sozinha no meio de muitas pessoas (estar sozinha e não sentir-me sozinha), de passear sozinha, ir ao cinema quando me apetecia e ver o que me apetecia, de sair em grupos grandes, de jantar em grupos grandes, de apanhar o metro depois do trabalho para ir ao bairro alto e depois ao Lux, das noites enormes, dos restaurantes novos, das pessoas diferentes que conhecia com frequência, da oferta cultural, dos passeios em Sintra e em Belém ao fim de semana, da praia de areia branca, das possibilidades diferentes que existiam todos os dias.

 

Quando vim para Ponta Delgada não foi fácil. Eu adorava Lisboa. Não gostava de sítios pequenos nem das suas características. Não foi, de todo, simples.

 

Depois comecei a conhecer pessoas aqui, tão diferentes das pessoas a que estava habituada. As pessoas convidavam-me para a sua casa (em Lisboa também mas era diferente, havia confiança, havia intenção, havia aquela coisa das "tribos"), as pessoas eram muito generosas mesmo sem me conhecerem de lado nenhum. 

 

Arranjei trabalho, mudei de função várias vezes até chegar ao que faço hoje e adoro.

 

Fui ficando, fui tendo muitos motivos para ficar e a cidade pequena começou a entrar nos meus hábitos e no meu coração.

 

Continuo a adorar Lisboa (vou adorar sempre) mas já adotei Ponta Delgada como a minha casa mais importante. Não posso dizer que criei raízes aqui (não crio raízes com sítios, ou não fosse sagitário), só com pessoas e valores.

 

Quando vou a Lisboa por vários dias, absorvo com voracidade cada momento mas já não aprecio a velocidade a que se vive.

 

Já não gosto de andar a correr para chegar a todo o lado e sinto uma confusão mental enorme cada vez que vou a sítios apinhados de gente ou fico presa no trânsito durante horas.

 

Faz-me confusão andar o que me parecem quilómetros num hipermercado, quando só quero comprar fruta, legumes e alguns produtos de higiene.


Aprendi a gostar muito de algumas das características de uma cidade como Ponta Delgada:

 

- Aqui vou a pé para todo o lado.

- Aqui vivo, sei-o agora, deliciosamente devagar.

- Aqui as pessoas são mais generosas e colocam-se menos à nossa frente em tudo o que é filas.

- Aqui gosto de receber amigos e de ir a casa deles ao fim de semana (é a vantagem de não ter muito mais o que fazer se não estiver bom tempo lá fora).

- Aqui tenho amigos que são uma espécie de família, a que nós escolhemos (embora tenha excelentes amigos/ família que não são daqui).

-Aqui, vejo o mar todos os dias.

- Aqui tenho piscinas naturais e praias muito perto de casa.

- Aqui sinto-me segura, sinto-me em casa e sinto que posso andar devagar, descontraír sem estar com receio de perder algum acontecimento, alguma experiência ou algo inadiável que precisa de pressa e ansiedade para se realizar.

- Aqui sinto que estou onde devo estar.



Se vou viver aqui para sempre? Não faço ideia. Mas, neste momento, seria difícil imaginar-me a trocar a qualidade de vida que se tem aqui por uma vida super acelerada numa cidade grande qualquer.

Foi numa cidade pequena que aprendi que, a par da saúde, da paz, do amor e da família, o tempo é um dos bens mais preciosos que podemos ter.

 

3 comentários

Comentar post