No dia 7 de dezembro de 2001, eu fazia 20 anos, e o filme Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain estreava em Portugal.
Com 20 anos, passava por uma fase estranha da minha vida. Não lhe chamaria uma adolescência tardia, mas antes uma entrada na idade adulta confusa e vazia de objetivos.
Estudava Comunicação Social em Santarém, num curso de que gostava, mas que não me entusiasmava especialmente. Não tinha ninguém especial na minha vida além da minha melhor amiga, que sempre foi muito importante, mas uma amizade não podia colmatar todas as necessidades de um adulto em formação. Ela própria travava as suas lutas, provavelmente.
Lembro-me de me sentir muito sozinha, isolada e, sobretudo, sem qualquer propósito. Não havia absolutamente nada que me fizesse levantar da cama de manhã com vontade. Olhando para trás, talvez estivesse próxima da depressão, mas, na altura, não o saberia dizer.
Aos 16 anos, tinha vivido uma relação amorosa muito importante, que nunca cheguei a superar e que deixou um vazio emocional enorme na minha vida. Nunca mais me tinha apaixonado por nada: nem pelos estudos, nem por uma pessoa. Não tinha passatempos, um desporto, um interesse especial (além de escrever), não tinha um porto seguro, não me sentia bem em casa, não tinha para onde ir e, eventualmente, refugiava-me na Internet, no MIRC, que era popular na época. Apesar de as coisas não serem tão más como agora, já naquela altura havia uma certa sombra a pairar sobre a Internet. Passava horas nas salas de chat a falar com pessoas aleatórias, muitas vezes pela noite dentro, dormindo apenas algumas horas de manhã.
Olhando para trás, acho que essa foi a pior fase da minha vida. Não tinha qualquer perspetiva de futuro. Detestava a vila onde vivia, não me identificava com nada nem com ninguém e sentia-me absurdamente vazia.
Mas, nessa altura — não sei se no dia dos meus anos ou pouco depois —, fui com a minha amiga ao cinema em Santarém. Não tínhamos nada planeado e, por acaso, acabámos por ver Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain, sem saber minimamente do que se tratava.
Essa foi a primeira de muitas vezes que vi o filme e, se pensar bem nisso, talvez tenha sido uma boia de salvação para a minha mente. Achei-o belíssimo, poético, com uma banda sonora perfeita. Deu-me esperança. A arte, traduzida em música e num guião magnificamente adaptado e interpretado, fez-me ver a beleza do mundo e perceber que valia a pena existir para poder pensar e viver a arte.
Por isso, na viagem que fiz recentemente a Paris, senti uma emoção especial ao entrar no Café des Deux Moulins, cenário principal do filme. Apesar de estar mal explorado em termos de limpeza e ambiente, tem muitas alusões ao filme, e estar ali foi profundamente emocionante e simbólico. Foi como a materialização de uma ideia que, há tantos anos, me mostrou a beleza do mundo.
Foi ainda mais especial estar ali com as pessoas mais importantes da minha vida. Quem sabe se o filme não foi um fator decisivo no desenrolar da minha vida e da minha personalidade a partir dos meus 20 anos? Talvez tenha sido. E há algo de profundamente bonito no facto de estar ali, agora, com a minha família — que só existe porque, no meio de um grande vazio existencial, fui capaz de acreditar que o mundo era bonito. Tudo porque um grupo de pessoas se reuniu em Paris para criar uma belíssima obra de arte.
Provavelmente, já todos ouviram falar da série “do momento”: Adolescência. Muito resumidamente, trata-se de uma série de quatro episódios sobre os motivos que levaram um adolescente de 13 anos a matar uma colega da escola.
É um drama que se centra no impacto psicológico desta tragédia sobre a família e, principalmente, sobre o pai do rapaz que comete o crime. “Onde é que errei como pai?” é a pergunta duríssima que fica no ar.
Não vou falar sobre os aspetos técnicos da série nem sobre a irrepreensível interpretação dos atores — outros poderão fazê-lo muito melhor do que eu.
Gostaria, sim, de dar o meu ponto de vista como mãe de três crianças, como criança que fui e como alguém que se sente bastante apreensiva com a forma como as novas gerações estão a ser formadas.
O tema da série não é novo. A não ser que tenham estudado num colégio muito bom e muito tranquilo (ou numa boa escola pública), todos terão memória de episódios de violência na adolescência: bullying, agressões a colegas e professores e até casos de suicídio. Infelizmente, é uma realidade que atravessa gerações e está mais relacionada com a natureza humana do que com a época em que se vive.
Hoje, no entanto, esta realidade assume contornos próprios: temos as redes sociais, que tornam tudo público; fenómenos sociais como a associação dos incels; e uma nova geração de pais que carrega um peso da culpa que, creio, não existia tanto há 30, 40 ou 50 anos.
Quando acontece uma tragédia destas — principalmente numa família onde nada o fazia prever (pais amorosos, equilibrados e preocupados) — o choque é avassalador.
E nós, que nos consideramos pais regulares (afinal, aquela família parece muito mais paciente e carinhosa com os filhos do que eu), sentimos automaticamente uma empatia extremamente dolorosa por aquele pai que ama o filho acima de tudo e nunca poderia imaginar que ele — um miúdo amado e sem qualquer exemplo de violência ou masculinidade tóxica na família — pudesse tornar-se um assassino.
Não acho, de todo, que esta série coloque a culpa nos pais. Acho que é um excelente convite à reflexão.
Por ser dotada de um cinismo crónico, eu acredito que, nas condições ideais, qualquer pessoa pode cometer um ato de loucura. E um adolescente, vítima de bullying e com a certeza de que é um falhado, é uma bomba prestes a explodir. Lembro-me de ter 12 anos e de gozarem comigo por não ter namorado, por ser magra e pequenina e até por tirar boas notas. Lembro-me de me sentir a mais feia das criaturas e, apesar de acreditar que nunca seria capaz de matar ninguém, posso garantir que essa fase da minha vida não colocou os seres humanos no meu top 10 de espécies preferidas no mundo.
Como mãe, faço o que todos os pais fazem, incluindo os nossos: o melhor que posso. No meu entendimento (que pode não ser o correto), vejo a proibição não como uma coisa chata ou perigosa, mas como uma forma de amor e cuidado. Por isso, sim, os meus filhos não têm smartphones, não têm acesso irrestrito ao YouTube, a não ser para pesquisa e com supervisão dos pais; podem ver televisão e jogar em horários previamente acordados; e têm de se aborrecer de vez em quando e inventar coisas para fazer sem que os pais estejam sempre a entretê-los como se fossem animadores culturais de plantão.
Desde que se mostram capazes de ouvir e entender palavras em português, explico-lhes que a internet não é interessante para eles, que nem todos os adultos são sábios, maduros ou boas pessoas, que nem sempre devem fazer o que um adulto lhes diz — mesmo que seja um professor ou um familiar — e que a opinião dos outros é quase completamente irrelevante para as suas decisões na vida. Ensino-lhes também, espero que na mesma medida, a respeitar os outros e a fazer-se respeitar.
Infelizmente, às vezes, digo estas coisas aos gritos. É uma das minhas grandes falhas como mãe. Depois, explico porque grito e deixo claro que não é por culpa deles.
Vou tentando ensinar aos meus filhos que “Todos têm isto” ou “Todos fazem aquilo” é o argumento menos inteligente que podem usar. Explico-lhes que o que todos fazem raramente é o mais acertado. E, sim, muitas vezes encorajo-os a desafiar a autoridade e a questionar, respeitosamente, o que os adultos lhes dizem.
Dou um exemplo: se um professor lhes chamar nomes ou gritar sem que tenham feito nada ou sido desrespeitosos, devem levantar-se e dizer, com calma e firmeza, que gostariam que o professor lhes dirigisse a palavra num tom de voz baixo e respeitoso. Acredito que isto pode contribuir para a saúde mental deles. Se estou certa? Gosto de acreditar que sim, mas não faço ideia.
Para finalizar, gostaria de acrescentar algo que ainda não ouvi entre tudo o que li e escutei sobre a série. O pai levava o filho para praticar desportos que acreditava serem bons para ele (futebol e boxe), mas o miúdo gostava mais de desenhar.
Acredito que devemos observar atentamente os nossos filhos e tentar perceber quem são e o que gostam de fazer, mesmo que isso vá contra os nossos desejos e expetativas. Um rapaz não tem de ser másculo, e uma rapariga não tem de ser feminina. Cada um deve ser o que é, com a aceitação das pessoas que mais os amam e os devem proteger.
Tinha 13 anos - e uma disposição muito alegre, como se pode ver na foto- quando decidi, com uma amiga, experimentar danças de salão. Olhando para trás, não sei bem se gostava ou não das aulas. Acho que, mais do que entusiasmo, era uma forma de ocupar o tempo para além da escola. Talvez já naquela altura tivesse a tendência de me colocar em situações desconfortáveis só para testar os meus próprios limites emocionais.
A verdade é que não me identificava com os outros miúdos (e graúdos) que lá andavam. Não tínhamos nada em comum e eu sentia-me completamente deslocada. Fisicamente, era pequena, magra e desengraçada. Psicologicamente, então, parecia pertencer a um universo paralelo. Para tentar encaixar-me, puxava da imaginação e inventava conversas sobre temas esotéricos ou misteriosos, só para ver se captava o interesse de alguém.
Havia, no entanto, um detalhe que me fazia sentir bem ali: um menino de seis anos chamado Mathiew. Gostava de pegá-lo ao colo e mexer-lhe no cabelo espetado, tão macio que parecia um tapete fofinho. Ele - um menino mesmo querido e amoroso- deixava-me fazer-lhe festas no cabelo e, de certa forma, era um gesto que despertava o meu lado maternal – um hábito que, curiosamente, mantenho até hoje com o Eduardo quando ele corta o cabelo.
Lembro-me também de um detalhe curioso: antes das aulas, no caminho para o estúdio, levava comigo um copinho de licor de anis que tirava, às escondidas, da garrafa que o meu pai guardava na sala. Na altura, não pensava muito no que aquilo significava, apenas sabia que era doce e me dava uma certa “disposição” para enfrentar as aulas de danças de salão.
Apesar da minha timidez, gostava de dançar – especialmente ritmos como o samba e o jive. Ainda hoje me lembro de alguns passos e coreografias. O meu par era um rapaz simpático e paciente, que, como acontecia com muitos rapazes na dança de salão, tinha de dividir-se entre três parceiras. Eu, sendo a mais desengraçada e infantil do grupo, achava que ele tinha uma enorme generosidade por não se recusar a dançar comigo (sempre a autoestima lá em cima!).
Cheguei a fazer algumas apresentações, com o vestido que aparece na foto, e não me lembro de terem sido experiências traumáticas.
Eventualmente, acabei por sair das danças – sem uma razão que me lembre. Mas acredito que, de alguma forma, esta fase serviu para alguma coisa.
Se soubesse o que sei hoje, teria ido para as danças de salão com um amigo meu – que, por acaso, agora é padre – e com quem me dava bem. Ele acabou por ir também para lá, mas não sei se foi na mesma altura que eu. O facto é que ele dançava lindamente, muito melhor do que eu, e teria, certamente, sido mais divertido.
Como não me lembrei disso na altura, lá fui fazendo as minhas acrobacias e dançando músicas mais ou menos românticas com o meu parceiro de ocasião – que merecia um prémio pela paciência!
Não sei de quem é esta expressão. Não é minha, mas concordo inteiramente com ela.
Na prática, no entanto, é difícil aplicá-la. Sinto que, com a minha filha mais velha, a Lara, muitas vezes caio na tentação de lhe preparar a estrada. Com os outros filhos também, mas acredito que, com a experiência, vou conseguindo evitar fazê-lo.
O que tento, à medida que os meus filhos crescem, é preparar cada vez menos a estrada para eles e ajudá-los a ganhar as ferramentas de que precisam para percorrê-la sozinhos.
Uma das formas como eu e o Milton tomámos essa decisão foi ao colocá-los numa escola privada até ao final do 1.º ciclo. Nessa fase, acreditamos que são mais vulneráveis e que ainda não têm as ferramentas necessárias para lidar com algumas dificuldades que podem surgir no ensino público.
A Lara, com 10 anos, entrou para o 5.º ano numa escola pública e rapidamente notou a diferença. Passou a estar numa escola com milhares de alunos em vez de centenas. Deixou de ser conhecida pelo nome por todos os funcionários. Os professores já não eram todos amáveis e carinhosos.
Sinto que ela se está a adaptar bem. Nunca disse que não queria ir à escola e, até agora, só chegou a casa a chorar duas ou três vezes – por professores que gritaram com ela de forma desproporcional ou por um comentário infeliz que a fez sentir-se diminuída.
Quando algum colega lhe tira algo, ela vai buscar. Quando lhe pregam rasteiras, aprende a desviar-se. E quando um professor tem uma atitude excessivamente “assertiva”, digo-lhe para tentar ter empatia, porque sei que ser professor não é fácil. Mas também lhe digo que, se se sentir mal ou desrespeitada, pode e deve expressar isso de forma educada. Claro que não espero que o faça de imediato – nem nós, adultos, conseguimos sempre. Mas acredito que estas ideias vão ficando arrumadas na mente dela para quando as quiser usar.
Quando um colega se comporta de forma agressiva, ensino-lhe que deve sempre defender-se. Mas, se não houver agressão física, tento mostrar-lhe que pode olhar além do comportamento do outro. Pergunto-lhe se o colega tem lanche, se parece bem cuidado, se tem roupa limpa. Explico-lhe que, muitas vezes, as crianças que se comportam de forma mais difícil têm vidas igualmente difíceis – e que todas mereciam ter os mesmos cuidados e segurança que ela tem em casa.
Digo-lhe que deve ser sempre respeitosa com os colegas e com os professores, independentemente da forma como a tratam. Mas também lhe digo que deve esperar mais dos professores do que das crianças, porque os professores são adultos, são educadores, e deveriam saber mais e melhor.
Não sei se estou a fazer tudo bem, mas é assim que vamos andando.
Confesso que estou sempre atenta ao comportamento dos professores, porque noto uma grande diferença entre o ensino privado e o público. Sei que a linha entre uma repreensão justa e uma falta de respeito pode ser facilmente ultrapassada.
Já ouvi histórias de professores a chamarem repetidamente nomes como “idiotas”, “chatos” e “ignorantes” às crianças. Já vi repreensões por mínimos detalhes, uso de ironia e sarcasmo quando um aluno tem dificuldades. Mas também conheço professores fantásticos, que elevam esta profissão a um nível de humanismo e dignidade inspirador.
No entanto, acredito que a escola também serve para ensinar os miúdos a lidar com adultos que nem sempre fazem as coisas certas. É um ensinamento valioso – dentro de certos limites.
Se houver professores a ler este texto, espero que não o entendam como uma crítica generalizada. Entre as pessoas que mais admiro no mundo, há muitos professores. Na minha opinião, é a profissão mais bonita e necessária que existe. Mas quando não é bem exercida, as consequências podem ser muito dolorosas para as crianças.
Se, como mencionei no texto anterior, nunca tive grande vontade de visitar Paris por a considerar demasiado “popular”, bastaram-me os primeiros passos na cidade para todas as dúvidas se desintegrarem. O que senti foi um encantamento imediato, que só cresceu ao longo dos dias que lá passei.
A verdade é que não tenho palavras suficientes para descrever o quão maravilhosa é esta cidade.
Chegados ao aeroporto, apanhámos um transfer para o primeiro apartamento que alugámos para as primeiras duas noites. Ficava no Trocadéro, a poucos metros da praça. Confesso que, no caminho, fiquei um pouco apreensiva com o que via. Os prédios eram pavorosos. Muito feios mesmo. A paisagem parecia fria e sem charme, e por breves momentos perguntei-me se teria razão ao não ter incluído Paris na minha lista de destinos de sonho.
Mas, assim que entrámos no coração da cidade, tudo mudou. A arquitetura, o carisma das ruas, a energia vibrante de cada esquina… Mesmo dentro da carrinha, através das janelas, percebi que Paris tinha algo de absolutamente único.
Deixámos as malas no apartamento — um prédio antigo, cheio de charme — e saímos para a rua. Caminhámos alguns metros até à praça do Trocadéro, e ali estava ela: a Torre Eiffel, imponente e majestosa. Assim que a vi, fiquei estarrecida com a beleza daquele cenário.
Sempre achei que a Torre Eiffel era sobrestimada. No meu imaginário, era apenas um pedaço de ferro no meio da cidade. Mas, de repente, estava diante dela, e não podia estar mais enganada. A grandiosidade, a elegância, a forma como se impõe na paisagem... Tudo ali me deixou sem palavras.
E, a partir desse momento, a minha opinião sobre Paris só melhorou. Quer fosse ao contemplá-la do topo da Torre Eiffel, a qualquer hora do dia ou da noite, quer fosse ao perder-me num pequeno detalhe inscrito num muro antigo de Montmartre, fui-me apaixonando pela cidade, detalhe a detalhe.
Ao longo da vida, visitei algumas cidades que me marcaram: Roma, Milão, São Francisco, Londres, Madrid, Barcelona, Estocolmo e, claro, a minha muito amada Lisboa. Sempre achei que nenhuma cidade poderia rivalizar com Lisboa, porque Lisboa é o meu primeiro amor — aquele amor especial, que nos marca por ser o primeiro e que nos encontra numa fase inocente da vida.
Mas Paris… Paris é um amor mais maduro. Mais experiente. Mais profundo.
Agora percebo perfeitamente quando alguém diz que adoraria tomar o pequeno-almoço em Paris. Se pudesse, eu própria o faria pelo menos três vezes por mês. E a verdade é que sinto uma urgência em voltar, sempre que posso. Não descarto, sequer, a possibilidade de começar a traçar um plano para viver lá durante algum tempo.
O que senti em Paris foi mais do que um encantamento crescente pela beleza da cidade. Foi uma familiaridade. Uma sensação de pertença. A ponto de me sentir completamente à vontade no meio da azáfama parisiense — no metro apinhado de gente, a carregar malas pesadas com o Milton e os três miúdos, sem qualquer receio ou ansiedade. A ponto de sentir felicidade instantânea só por caminhar pelas ruas, ladeadas por uma arquitetura de uma beleza inacreditável.
A grandiosidade de Paris abraça-nos. Em vez de nos afastar, envolve-nos e faz-nos sentir que pertencemos ali.
E pensar que percorri as ruas de Paris com camisolas velhas — as únicas mais quentes que tinha no armário —, de óculos postos para evitar que os olhos secos me dessem cansaço, e sem parar tanto quanto seria esperado para tirar fotografias… Porque, naquele momento, era muito mais importante viver Paris do que registar Paris.
Adorei a língua, as pessoas, os cafés e os restaurantes lindíssimos. Paris é poesia em cada canto. Dei por mim a apaixonar-me pelos mais pequenos detalhes: desde as garrafas de vidro reutilizadas dos restaurantes, usadas para servir água da torneira, até à forma como os empregados de mesa diziam estar desolados por não terem uma mesa disponivel.
E, mais do que isso, senti que me encontrei ali. De repente, tantas coisas que nunca tinham sido validadas ou explicadas fizeram sentido: o meu gosto por sapatos de fivela, sabrinas prateadas, coisas brilhantes, a mania de guardar garrafas bonitas para servir água, a vontade de pintar paredes de verde-escuro, o desejo de colecionar palavras soltas escritas em papéis rasgados.
Peço desculpa pelo texto longo e, talvez, um pouco desorganizado. Mas a verdade é que, por mais que tente, sinto que ainda não consegui dizer nada de jeito sobre Paris.
Na impossibilidade de descrever verdadeiramente a beleza e a alma desta cidade maravilhosa, tentarei ser mais prática nos próximos textos e trazer-vos informações úteis.
Visitar Paris nunca foi, para mim, um desejo presente. Por um preconceito sem grande fundamento, mas que carrego há muito tempo, sempre que vejo uma grande quantidade de pessoas a seguir um determinado caminho, começo automaticamente a procurar alternativas. Tenho uma espécie de aversão a seguir as massas, embora o faça de muitas formas, muitas vezes sem me aperceber.
Com cidades como Paris e Nova Iorque, acontecia exatamente isso. Paris é uma das cidades mais visitadas do mundo, e esse facto, por si só, já me inibia a vontade de a conhecer — ainda por cima com três crianças que não são propriamente sossegadas.
Mas, talvez por influência de amigos e conhecidos que visitaram Paris recentemente, ou pela insistência dos miúdos, começou a crescer em mim a vontade de ir com eles à Disney. E aqui está outro detalhe: a Disney nunca foi um lugar que desejei conhecer. Não cresci com os filmes da Disney e a tão afamada “magia da Disney” é algo que não existe no meu imaginário — nem no do Milton, posso garantir.
Quando começámos a pensar no assunto, pesquisámos preços e explorámos possibilidades de viagem, mas ficávamos sempre retidos pelo elevado custo de uma viagem para cinco pessoas. Era realmente um valor muito avultado para apenas dois ou três dias, e não nos fazia sentido um investimento tão grande para tão pouco tempo.
Assim, o projeto Disney ficou adiado.
Até este ano. Depois de muitas conversas, decidimos que iríamos à Disney numa época baixa, mais económica, e que ficaríamos em Paris durante uma semana, para não só visitarmos a Disney, mas também conhecermos a cidade.
Assim que tomámos esta decisão, o planeamento tornou-se mais fácil. Comprámos as viagens na primeira promoção que encontrámos na Azores Airlines, alinhando-as com as datas mais baratas dos hotéis da Disney. Com as passagens e estadias na Disney garantidas, alugámos apartamentos em Paris para os restantes dias.
O resultado foi: passar duas noites em Paris, seguir para a Disney por três noites e, depois, passar mais duas noites noutra zona de Paris antes de regressarmos aos Açores.
Comprámos os bilhetes e reservámos as estadias cerca de dois meses antes da viagem e, por ser em época baixa, correu bem para nós. No entanto, apercebemo-nos depois de que, mesmo no inverno, Paris é uma cidade muito procurada e estava cheia de gente. Por isso, é aconselhável planear esta viagem com a maior antecedência possível.
Nas próximas semanas, vou partilhar mais detalhes da viagem, mas se quiserem saber algo em específico, deixem as vossas perguntas nos comentários!