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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qua | 31.07.24

O jogo de damas da Lara


Cá por casa, seguimos o caminho do minimalismo. No entanto, muitas vezes, especialmente no que diz respeito aos meus filhos, questiono-me se estou a exagerar. Outras vezes, sinto-me mais confiante nesta postura, como aconteceu recentemente com a minha filha, Lara.

A Lara aprendeu a jogar damas com um amigo nas atividades de tempos livres das férias. Quando chegou a casa, pediu-nos para lhe comprarmos um jogo de damas. Sou muito a favor de jogos de tabuleiro e temos alguns em casa. Damas parece-me um clássico muito interessante, mas sugeri-lhe que esperasse pelo Natal e pedisse nessa altura. Procuramos não comprar objetos sem uma utilidade ou uma razão específica.

Perante a minha resposta, que ela já devia esperar, a Lara manteve a sua tranquilidade e foi para o escritório refletir sobre o assunto. Em poucos dias, tinha feito o seu próprio jogo de damas com cartão reutilizado, tesoura e canetas. Ensinou os irmãos a jogar e têm-se divertido bastante com o jogo.

A Lara fez um jogo tão eficiente que criou uma bolsinha agregada ao tabuleiro para guardar as peças. Fiquei muito feliz ao ver que a minha filha de 10 anos não só não se deixou abater pela minha recusa em comprar o jogo, como encontrou uma excelente e satisfatória solução para a sua questão.

Este episódio reforçou a minha confiança no minimalismo. Não se trata apenas de reduzir o consumo, mas de incentivar a criatividade, a resiliência e a autonomia das crianças. A Lara não só aprendeu um novo jogo, como também desenvolveu habilidades manuais e de resolução de problemas. O minimalismo, neste caso, proporcionou uma experiência rica e educativa que uma compra imediata não teria conseguido.



Qui | 25.07.24

Tive vontade de partir aquilo tudo à martelada

pet-6877246_1280 (1).jpgUm dos meus maiores desafios na maternidade é assistir às discussões dos meus filhos. Quem teve irmãos, ou tem filhos de idades próximas, dirá que não é nada de especial e, de facto, não é.

Não são discussões demasiado violentas (embora haja ocasionalmente chapadas e pontapés), nem demasiado frequentes, mas mexem muito com os meus nervos. Creio que não estou errada ao relacionar esta minha baixa tolerância às discussões a alguns traumas de infância. Simplesmente, deixa-me quase em pânico ver pessoas de quem gosto a discutir.

Assim, quando estou sozinha com os miúdos e eles começam a discutir por qualquer ninharia - normalmente pela utilização de brinquedos eletrónicos, como o iPad ou a consola - eu ajo de uma forma quase irracional. Praticamente, tenho surtos nervosos. Não sei como é que ainda não desmaiei de nervos.

A última discussão agravou-se pelo facto de eu estar bastante ocupada e a precisar de silêncio, algo que já tinha previamente falado com os miúdos. De repente, a Lara estava a brincar com o drone, que eu tinha dito para não usarem devido ao barulho irritante. Tirei-lhe o drone e ela reagiu muito mal, gritando e fazendo uma grande birra.

Bom... de forma completamente irracional, fiquei tão irritada que tive vontade de partir tudo o que fosse eletrónico naquela casa. As discussões mais exacerbadas são sempre por causa de um tablet, um jogo eletrónico qualquer, um drone ou qualquer coisa que precise de uma bateria. 

Então, agarrei em todos os eletrónicos que encontrei e arrumei-os no canto mais fundo e escondido do armário mais alto da casa. Por tempo indeterminado. Deixei de fora apenas o piano e a televisão.

Desde então, os miúdos têm visto televisão depois do almoço e, no restante tempo, dividem-se entre brincadeiras improvisadas e tocar piano, flauta e viola (basicamente, a única que toca é a Lara, mas os outros divertem-se a fazer barulho e dizem que têm uma banda. São uns fofos). Fazem colares e pulseiras, jogam jogos de tabuleiro, brincam aos psicólogos, às lojas e aos restaurantes, fazem atividades em livros, jogam uno numa tenda que improvisei no quintal com lençóis velhos e uma mesa de madeira, e chapinham numa piscina insuflável que temos no quintal. Na loucura do tédio, o Eduardo põe-se a aspirar a casa, porque diz que o pó o faz espirrar.

E assim temos andado, com a casa transformada num quartel.

Seg | 22.07.24

Recomeçar a ler

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Uma das decisões mais transformadoras que tomei nos últimos meses foi a de voltar a ler. Sinto que renasci.

Ler é verdadeiramente uma daquelas atividades essenciais para manter a minha saúde mental e bem-estar. É uma forma de me conectar com a realidade, apesar de esta ideia poder parecer contraditória. Às vezes, sinto-me tão absorvida pelas inúmeras obrigações quotidianas que me sinto em piloto automático, passando pelos dias com pressa, como se estivesse a viajar num comboio a alta velocidade, sem conseguir olhar pela janela nem por um segundo.

Ler é como abrir uma janela, enquanto o comboio abranda, permitindo-me imaginar as histórias que se desenrolam nas casas e nos pedaços de floresta que vou vendo ao longe. Ao mesmo tempo, consigo olhar para dentro do comboio incessante de obrigações diárias de uma forma mais benevolente e até poética, encontrando um sentido especial nas pequenas coisas.

Desde então, o difícil tem sido controlar a vontade de ler vários livros ao mesmo tempo, hábito que nunca tinha cultivado antes. Desde o início do ano, já li 25 livros, um recorde para alguém que leu muito pouco nos últimos 10 anos.

Continuo a ler de tudo, mas sinto uma atração especial por livros de suspense, daqueles que são completamente viciantes, e por outros mais poéticos, sobre pessoas e os detalhes da vida, que tornam a nossa existência mais bonita e musical.

Neste momento, estou a ler “Naufrágio” de João Tordo, mais dois que comecei e parei, e quero iniciar um de suspense para ler antes de dormir.

Ler, para mim, tem sido isto: uma viagem lenta e envolvente que me permite reconectar com o mundo e encontrar beleza nas pequenas coisas. 

Qui | 18.07.24

Eduardo, o indiscreto

Eduardo #49

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Em casa, temos apenas uma televisão, que fica numa sala mais pequena, dedicada aos brinquedos, aos jogos de consola e ao visionamento de filmes e séries.

Basicamente, quando os miúdos querem ver televisão, decidimos em conjunto o que vão ver e eles ficam nessa sala, que está ao lado da sala de estar.

Sempre que começam a discordar de forma mais acesa sobre a programação ou tentam enganar-se uns aos outros, troco o que estavam a ver por algo escolhido por mim, normalmente algo mais lúdico ou consensual, como Garfield ou A Ovelha Choné.

Numa dessas ocasiões, eles tinham surripiado o comando do local onde o tinha guardado e estavam, muito caladinhos, a ver algo diferente do que eu tinha escolhido.

Quando entro na sala para lhes dizer qualquer coisa, vejo o Eduardo com uma expressão muito comprometida.

Discretamente, ele aproxima-se de mim, agarra-me no rosto com a mão e diz-me, veementemente: "Mãe, não olhes para aqui. Não olhes para aqui."

Bom... a verdade é que os deixei continuar a ver o que estavam a ver, pois pareciam ter chegado a um acordo entre eles e estavam, de facto, muito caladinhos e sossegados. Além disso, não estavam a ver nada de errado.

Vou encarar esta situação como uma lição forçada sobre diplomacia.

Seg | 15.07.24

3 Pequenos detalhes que me agradam nas viagens

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O Tempo Livre

No avião são três horas, ou mais, sem nada de especial para fazer. Dá para ler, escrever, pensar, dormitar...

O Minimalismo Automático
Na mala, levamos apenas o essencial. No destino, a novidade absorve toda a nossa atenção, e estar no momento presente torna-se uma inevitabilidade, não um esforço.

As Pessoas Diferentes que Encontramos no Aeroporto
Sempre gostei de lugares repletos de pessoas diversas. Acho bonito observar a diversidade humana. A diferença intriga-me e atrai-me.

Qui | 11.07.24

"Mãe, já Posso ver porcarias?"

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"Hoje é quarta-feira, por isso sim, podes ver porcarias.", respondo eu, ao meu filho, de cinco anos.

Sou muito pouco apologista do uso de ecrãs pelos meus filhos. Ainda assim, eles veem muita televisão, jogam e assistem a vídeos sem sentido no YouTube. Estes últimos incluem tubarões a comer o Homem-Aranha, numa produção que parece ter sido feita com o Paint, bolas de metal magnéticas a colarem-se umas às outras, adultos a brincar com bonecas, adultos a abrir ovos Kinder, entre outras preciosidades.

A determinada altura, referi-me a estes conteúdos como porcarias e, desde então, o Eduardo pensa que “porcarias” é uma categoria de conteúdo, como comédia, drama ou ação.

Na tentativa de chegar a um entendimento com o Eduardo e gerir o tempo que ele passa a ver aquilo, decidimos que pode ver uma hora à quarta-feira.

E assim, a quarta-feira passou a ser o dia do meu filho ver “porcarias”.

Seg | 08.07.24

Fui muito bem atendida no Hospital Público

buddha-753016_1280.jpgDepois de duas semanas a lidar com uma tosse persistente, noites a dormir sozinha para não incomodar ninguém e uma respiração difícil que não melhorava, decidi que estava na hora de ir ao hospital.

Cheguei ao hospital e, apesar de ter esperado duas horas na sala de espera, o tempo passou depressa porque levei o computador portátil e aproveitei para adiantar trabalho.

Fui atendida por um médico atencioso e simpático, que me disse que deveria ter procurado ajuda mais cedo. Ele medicou-me e explicou que, numa próxima vez, devo esperar apenas cinco dias antes de ir ao hospital.

O médico pediu desculpa pela demora e, com tranquilidade, conduziu a consulta. Não me despachou. Explicou detalhadamente o meu diagnóstico, as medicações prescritas e por que não eram necessários exames adicionais. Deu-me todas as recomendações necessárias.

Senti-me muito bem atendida. Paguei 0 euros pelo serviço.

Sei que nem sempre a experiência no Sistema Nacional de Saúde é assim, mas nesse dia senti um orgulho imenso pelo meu país e pelos serviços que oferece aos cidadãos.

Embora não mencione o nome do médico por questões de privacidade, ele foi verdadeiramente humano, competente e gentil. Transmitiu-me conforto e segurança. Senti-me verdadeiramente cuidada durante toda a consulta.

Esta experiência mostrou-me que, apesar das dificuldades, o nosso Sistema Nacional de Saúde pode proporcionar um atendimento de qualidade e humano. É importante reconhecermos e valorizarmos esses momentos, pois é muito mais motivador assinalarmos o que corre mal e, muitas vezes, passamos ao lado de boas experiências sem as mencionar.

Qui | 04.07.24

Um pensamento para partilhar com todas as mães de hoje

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Tenho três filhos com idades próximas. Não passa um dia sem que eu pense que poderia e deveria ser uma mãe melhor e uma pessoa melhor.

Deveria gritar menos, ser menos controladora, dar-lhes mais doces, brincar mais com eles, ensiná-los mais coisas, estar mais bem-disposta, mais bonita, mais penteada. Deveria esforçar-me mais para cozinhar melhor, tirar melhor as nódoas das t-shirts brancas, lembrar-me sempre do protetor solar e deixá-los arriscar mais…

Mas, às vezes, opto por me lembrar de outras coisas:

  • Quando quero comprar algo para mim, acabo por comprar algo para eles na maioria das vezes.

  • Digo-lhes o quanto gosto deles e o quanto são importantes, praticamente todos os dias.

  • Dou-lhes beijos e abraços sempre que posso.

  • Durmo toda torcida muitas vezes, mas nunca os mando para a cama deles quando têm pesadelos.

  • Sei do que cada um gosta, mesmo que às vezes me esqueça de quem pediu um copo de água e acabe por dar ao outro.

  • Obrigo-os a arrumar a roupa e a fazer as camas, mesmo quando seria muito mais fácil, rápido e tranquilo eu mesma fazer isso.

  • Peço-lhes desculpa quando erro.

  • Reconheço que são melhores do que eu em muitas coisas e me orgulho muito disso.
  • Ensino-lhes a nunca maltratar ninguém, mas junto com o pai faço tudo o que puder para impedi-los de serem maltratados.

  • Ensino-os a lidar com as diferenças, sendo acolhedores com todos e abraçando as suas próprias diferenças.

  • Ensino que, às vezes, mesmo que todas as pessoas ajam de certa forma, isso não torna essa atitude correta.

  • Ensino-os a lidar com situações em que são chamados de pobres por não terem telemóvel, ou quando dizem que os lanches não são bons ou riem-se deles por lavarem os dentes. Não tenho medo da diferença e tento educar os meus filhos para terem a mesma atitude.

Há dias em que, em vez de abraçar a culpa e focar nos meus erros, opto por valorizar o meu esforço e trato-me como trataria uma amiga.

É algo a experimentar fazer com mais frequência.

 

Ter | 02.07.24

O meu filho de 5 anos não tem nada para fazer

Eduardo #48

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Um dos dramas de uma criança de cinco anos, nos dias que correm é... espantem-se: "Não ter nada que fazer."

Ora, normalmente isto acontece quando a televisão se encontra desligada e as irmãs estão entretidas com alguma atividade solitária.

Esta manhã, a dez minutos de sairmos todos de casa para a escola e para o trabalho, diz-me pela 20ª vez o Eduardo:

"Não tenho nada para fazer ... a não ser comer macacos do nariz".

É isto.