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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Sex | 25.03.22

Os filhos salvam a nossa saúde mental

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"Deixas-me louca!"
Quantas vezes dizemos isso aos nossos filhos? E, se não dizemos, pensamos, muitas vezes, que estamos à beira da loucura.

Às vezes tenho a sensação de que, nos recentes oito anos, a minha vida é uma repetição contínua entre dar comida à boca, limpar rabos, fazer máquinas de roupa, estender, roupa, arrumar roupa, cozinhar, preparar lanches, preparar mochilas, gritar com os miúdos para que parem de se aborrecer e de bater uns nos outros e tentar que a casa tenha o mínimo de ordem.

A maior parte das vezes sinto que falho na educação dos miúdos, porque eles não fazem o que lhes digo à primeira (nem à segunda, nem à terceira, nem à décima), porque começam a cantar alto junto ao elevador do prédio, logo de manhã, porque não conseguem ficar sentados num restaurante cinco minutos seguidos e porque não conseguem deixar de competir uns com os outros por cada segundo de atenção dos pais.

Mas, a verdade mais honesta, o que existe mesmo depois de tiradas todas as camadas superficiais do quotidiano, é a certeza absoluta de que tenho uma sorte incrível e que, se não estou verdadeiramente louca, é porque cada um dos meus filhos existe, a chamar-me de volta para a realidade a cada dia e a mostrar-me que as pessoas, na verdade têm uma natureza maravilhosa, curiosa e alegre, antes de serem completamente condicionados pelo ambiente.

A minha casa, pequena, chega a ser grande demais para a nossa vontade de estarmos sempre juntos, em cima uns dos outros. As camas, não chegam a ter dono, porque, consoante a necessidade, vamos dormindo em camas diferentes todos os dias.

A hora de dormir é respeitada através de arrastamentos para a casa de banho para lavar os dentes e fazer chichi, porque a vontade de brincar com os irmãos horas sem fim, sobrepõe-se sempre à necessidade (completamente incompreendida) de ir dormir cedo.

De manhã, se desejam panquecas, só preciso de ir mandando os ingredientes para uma taça de plástico, onde o Eduardo, com três anos, os vai misturando com toda a concentração, antes de eu colocar a massa na máquina de panquecas durante dois minutos até estarem prontas para todos as comerem até não restar mais nenhuma.

Estas coisas, estas confusões diárias, esta casa caótica e cheia de gente, dá-me uma alegria constante e secreta, em todos os momentos que disfarço com gritos e ralhetes de circunstância.

A verdade é que a criança solitária que fui dá pulos de felicidade, cada vez que olha para os meus três filhos a crescerem juntos.

Ver três pessoas a crescer e a desenvolverem-se é algo indescritivelmente maravilhoso. A forma como os miúdos compreendem o mundo à sua volta desde cedo e a forma como têm a ideia de justiça tão presente é incrível. E nem sinto que os pais tenham grande crédito nisso. 

Por aqui limitamo-nos a deixar que os miúdos se expressem e a partilhar tudo com eles. Não lhes escondemos nada e normalizamos tudo. Tentamos não lhes colocar peso desnecessário sobre os ombros, mas falamos de todos os assuntos com abertura. Erramos e pedimos desculpa. Eles sabem que a mãe, uma semana por mês, fica meio louca e descompensada. Provavelmente não verão os pais como heróis, que lhes resolvem tudo, mas como pessoas que os amam e que, pelo lugar que a experiência  e a idade lhes dá, são os atuais gestores dos assuntos familiares.

Não seremos uma família modelo. Somos despenteados, barulhentos e desorganizados. Mas, temos duas ou três coisas de que nos orgulhamos. Uma delas é o sentido de humor. Deve ser o único traço de personalidade que todos partilhamos. E isso, certamente, salva a nossa saúde mental.