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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qua | 12.05.21

"Sou verdadeiramente incompetente quando estou a fazer coisas em que não acredito."

pexels-klaus-nielsen-6294377.jpgFoto de Klaus Nielsen no Pexels.


Conheci o Filipe Melo no "5 para a meia noite".

Nunca tinha ouvido falar dele e, sinceramente, pareceu-me um grande cromo. 
Depois, aparece com o Bruno Nogueira no "Princípio, Meio e Fim" e, mais uma vez, não fiquei muito impressionada. Parecia-me meio perdido ali, com aquele ar desenquadrado de quem não está à vontade, nem consigo nem com o mundo. Quem nunca? Eu identifico-me já.

Pelo sim, pelo não, como não gosto de ficar pelo preconceito, fui pesquisar sobre o homem. E fiquei impressionada. Com as composições musicais, com as interpretações ao piano e, sobretudo, com a curta-metragem Sleepwalk. Fiquei mesmo impressionada com a curta-metragem! Achei-a maravilhosa.

Eis que o ar inadaptado do rapaz ganhou um sentido poético.

Neste contexto, vi uma entrevista em que ele diz o seguinte: "Sou verdadeiramente incompetente quando estou a fazer coisas em que não acredito."

Identifiquei-me totalmente.  E fiquei a refletir naquilo.

Sou competente a fazer coisas que não gosto de fazer, desde que encontre sentido nas minhas ações. Posso ser competente a cozinhar, se quiser muito. Fui, durante anos, competente a atender pessoas, mesmo que esse tenha sido o pior emprego que já tive (e já tive vários e diferentes).

Mas, se não gosto de fazer alguma coisa e se não lhe encontro sentido, é muito difícil fazê-lo bem. Também não o ficarei a fazer muito tempo, acho.

Conheço pessoas que são boas em tudo o que fazem. Podem ser excelentes numas coisas e menos bons em outras, mas são competentes em praticamente tudo o que fazem. 

Eu, definitivamente, não sou uma dessas pessoas.  Não consigo colocar dedicação e esforço em algo que não me diz nada, em algo que não me dá especial prazer nem torna o mundo de ninguém especialmente melhor.

Lembro-me de, eventualmente, me terem sido atribuidas tarefas nas quais não acreditava minimamente. Agora que penso nisso... devia-as ter feito ainda pior. Mas, não o consigo fazer de propósito, só posso confiar na minha incompetência de sobrevivente, nesses momentos. 

Com 19 anos, trabalhava na caixa de um supermercado sob a supervisão de pessoas especialmente diferentes de mim. Daquelas que são bem inseguras e azedas e aproveitam qualquer oportunidade para desancar os estagiários em frente aos clientes. Eu estava ali a ganhar um bocado de experiência de vida que me haveria de dar muito jeito anos mais tarde, quando tive que conviver de perto com outras pessoas que não nasceram com o dom da gentileza, da empatia e da autoestima. Trabalhava por opção, nos fins de semana, enquanto estudava nos outros dias.

Tentava dar o meu melhor. Era especialmente simpática com as pessoas. Adorava quando tinha brindes para dar às criancinhas. Era o que mais gostava de fazer: dar coisas às pessoas. Nunca compreendi as colegas que iam chamar o segurança porque viam alguém a querer passar com um pedaço de frango sem pagar. Nisto, eu não era competente. Mais depressa pagava eu o frango - mesmo que a pessoa que o estivesse a tentar levar fosse só um "chico-esperto"- , do que chamava o segurança por causa de 3 euros de comida.

Tenho uma amiga que trabalhava numa padaria e, muitas vezes, oferecia vários papo-secos ao "maluquinho da vila". Ele pedia-lhe 2 e ela dava-lhe 10,  só para o caso de ter mais apetite, de repente. É a minha melhor amiga, uma pessoa enormemente melhor do que eu.

Felizmente há muito tempo que não tenho que fazer nada em que não acredite. Tenho muita sorte.