Adoro comer. Sou capaz de comer imenso, principalmente num brunch. Não sou muito esquisita e sou capaz de comer de tudo, mas gosto mesmo é de doces com leite, todos os tipos de pães, queijos, sushi e sashimi e vinho tinto.
Não como tudo o que quero e há muitos anos que tenho cuidado com o que como. Agora, com filhos, tenho ainda mais cuidado com o exemplo que dou e os hábitos que ajudo a criar. É por isso que por aqui nunca temos batatas fritas, refrigerantes e doces, e nunca comemos fora do horário das refeições.
Uma coisa que me ajuda muito a manter uma dieta saudável é o facto de gostar de comer muitas coisas que são saudáveis e não quase nunca necessitam de confeção especial.
Deixo-vos sete alimentos, pratos ou petiscos que são saudáveis e como com muito prazer, como se estivesse a comer uma grande mousse de chocolate. Pode ser que vos dê algumas ideias.
1- Torradas de pão integral com abacate, sumo de limão e tomate; 2- Salada grega (com alface, tomate, azeitonas pretas, queijo feta, nozes e pepino); 3- Chili vegan. É a minha comida de conforto preferida. Esta receita. 4- Hambúrgueres vegan. Estes. 5- Lasanha vegetariana. Não faço há muito tempo porque esta receita dá trabalho, mas adoro. 6-Arroz integral. Adoro, mas sei que há muita gente que não gosta muito. 7- Frutos secos. Gosto de todos. Geralmente compro crus e torro no forno por uns minutos (avelãs, amêndoas e cajus). Ficam uma delícia.
Uns dizem que a culpa é da escola. Outros dizem que a culpa é dos pais. Há quem diga que não é culpa de ninguém, só dos miúdos, que são maus e cruéis. Curiosamente, também há quem diga que a culpa é da vítima.
Dizem que se resolve com uma tareia, com um castigo exemplar, com conversa, com psicólogos, com a intervenção da polícia.
Pelo menos alguns destes pensamentos já terão passado pela minha cabeça também. Já fui alvo de bullying (poucos terão a sorte de dizer que nunca foram), já presenciei atos de bullying sem fazer nada e a rezar para que não se voltassem para mim, em criança tive a sorte de ser defendida algumas vezes, noutras nem tanto. Em adulta, curiosamente, também já tive colegas que me defenderam perante injustiças. Já tentei defender pessoas de agressões, em adulta, e já presenciei muitas coisas feias feitas por adultos a outros adultos e por adultos a crianças sem que ninguém parecesse importunar-se muito com isso.
Penso que as coisas poderiam começar a tornar-se diferentes se não assistíssemos impávidos e serenos a agressões verbais, a tentativas de humilhação e menosprezo de adultos a outros adultos. Quantas vezes vemos um empregado de restaurante ou de supermercado a ser humilhado por um superior hierárquico sem nada dizermos (mea culpa). Quantas vezes vemos colegas a ser desvalorizados e descredibilizados injustamente, sem nada fazermos? Quantas vezes suportamos várias formas de assédio ou desrespeito gratuito sem fazermos o que devíamos fazer, só para não nos chatearmos (mea culpa, também).
Como disse anteriormente, já tive vários pensamentos sobre isto. Provavelmente terei ainda muitos diferentes. Hoje, penso que existiria menos violência se fossemos todos menos tolerantes com atos que não são apenas "coisas parvas". Todas as tentativas repetidas de rebaixar o próximo são actos de violência e por isso, parece-me claro, devem ser intoleráveis.
Não sei bem por onde se começa a trabalhar nisto, mas creio que é urgente educarmos mais e melhor para a empatia, para nos importunarmos com a dor de outro ser humano. Temos que nos educar para não tolerarmos qualquer tipo de agressão contra nós.
Temos que deixar de normalizar atos de humilhação. Não são brincadeiras idiotas, não são inocentes e não são desculpáveis. Nunca. Muito menos quando são adultos a praticá-lo, mesmo à frente dos nossos olhos.
Morangos maduros e bem docinhos. É quanto basta para fazer uns gelados frescos e saudáveis.
A Lara pediu-me para fazer gelados comigo. Vi o que tinha em casa e decidi fazer gelados de morango, para aproveitar uns morangos que tinha comprado há uns dias.
Depois de bem lavados, desfizemos os morangos com a varinha mágica, colocámos nas formas e, 4 horas depois, tínhamos uns gelados perfumados, fresquinhos e gostosos.
A Lara adorou. Comeu-o tão depressa e com tanto entusiasmo como se fosse um Magnum.
Experimentem fazer em casa. Até podem acrescentar açúcar para ficar mais doce. A Lara, que não está habituada a comer muitos doces, gosta deles mesmo sem açúcar (desde que os morangos sejam doces).
Já lhe disse que, este verão, pode comer gelados todos os dias.
Estava no festival sudoeste, numa fase boa da noite. Foi numa edição antiga do Festival, daquelas onde ainda não existia publicidade e brindes a cada esquina. O clima estava perfeito, a noite limpa e a mente exatamente como se quer num festival de música de verão. Era bom.
O fogão a gás tinha avariado, estava partido… não funcionava, ou lá o que era. Não me interessava muito... Naquela altura não me interessava muito comer.
Estávamos com alguns amigos dele a ver o concerto de Franz Ferdinand. De repente, ele desapareceu. “Foi buscar o outro fogão.”, disse o Zé.
O fogão? Qual fogão?
Na minha mente, provavelmente já pouco sóbria, passaram todo o tipo de filmes. Estava a vê-lo ali, um pouco mais atrás, um pouco mais à frente, com uma rapariga qualquer. Olhei para um lado, para o outro, e a minha mente mandou-me parar. Pensei durante 3 segundos e saí dali.
Estava furiosa. Furiosa. A minha mente parecia delirar febrilmente com os dramas que concebia, alimentados a ciúmes doentios.
Vestida com uma saia preta fluida, um top finíssimo e com uns sapatos pretos de salto alto, percorri, sem destino, o solo de terra seca e poeirenta. A determinada, um grupo de rapazes meteu-se comigo, com decência e cuidado. Não posso jurar, mas pareceram genuinamente curiosos com a minha indumentária pouco adequada a um festival de música. Despachei-os rapidamente com alguma rispidez. Estava mesmo muito mal-humorada.
Até que ouvi a música.
Sentei-me num monte de terra, com o palco à minha frente. E ouvi, pela primeira vez, Life on Mars, pelos Divine Comedy, na versão de Yann Tiersen. Tudo o que existia à minha volta, desapareceu. Esfumaram-se as pessoas, as barracas, os cheiros, as vozes e os quilos de terra em forma de pó.
A tela da minha realidade encheu-me de uma cor cintilante e dourada sobre o fundo de uma noite de verão perfeita. Era só eu e aquela música. E ter ido ali, mesmo de saltos altos e roupa estranha, fez todo o sentido. Estava tudo exatamente como devia estar.
Quando voltei para junto das outras pessoa e vi o meu namorado outra vez, nem me lembrava do que me tinha feito sair, furiosa, do concerto de Franz Ferdinand.
“Eu? Não te vi e fui dar uma volta e ver os outros concertos.”, disse eu, sorridente e bem-disposta.
Mais tarde, num canto da tenda, estava o outro fogão.
Neste tempo de todo em que estivemos em casa, em teletrabalho e escola "à distância", o Eduardo fez as atividades da escola apenas 1 dia (e incompletas).
A prioridade tem sido, naturalmente, a Lara, que está no 1º ano. Logo depois vem a Maria, que tem algumas atividades com letras e números e, por último, o Eduardo, que ainda não sabe contar direito, nem nomear as cores todas.
Mas, no meio desta situação toda em que andamos em cima uns dos outros o dia todo, a trabalhar, a cuidar das crianças, a ser professores, a tentar ter alguma comida na mesa e alguma roupa lavada para vestir às crianças, o Eduardo vai aprendendo algumas coisas:
- A lidar com mulheres como deve de ser. Quando me aborreço com ele (o que, confesso, acontece raramente) ele dá-me um beijo e diz, com um ar muito arrependido: "Desculpa, mãe."
- A arrumar Neste caso, acho que é uma característica mesmo dele. O rapaz é super arrumadinho e gosta muito de limpar janelas, limpar o chão, arrumar brinquedos, etc.
- A ser paciente Aguarda a sua vez de escolher desenhos animados com relativa paciência. De vez em quando, quando se farta de vez os Pokemons ou a Vampirina, lá se põe à frente da televisão em protesto mas, regra geral, é muito paciente.
- A fazer-se ouvir Como membro mais novo da família, é constantemente ignorado pela irmãs. Todavia, vai sempre falando e dando a sua opinião , sempre com um tom calmo e decidido. É muito engraçado vê-lo a tentar participar com determinação, mesmo quando é claramente ignorado.
- A dormir sozinho O Eduardo já tem uma caminha de adulto e dorme sozinho sem problemas. Lá se levanta uma ou duas vezes antes de adormecer, mas nada de especial nem de grandes birras.
- A focar-se no que realmente interessa Não raramente, estão as miúdas em plena birra, numa gritaria ensurdecedora e o Eduardo, a um metro delas, nem mexe uma pestana, concentradíssimo, impávido e sereno, a fazer puzzles de encaixe, enquanto o caos o rodeia.
Nada substitui a professora do Eduardo e tudo o que ele aprende na escola. Cá por casa, vai aprendendo coisas diferentes que, acreditamos nós, também lhe podem dar umas bases interessantes para a vida adulta, pelo menos no que diz respeito a "aturar mulheres".
Nunca tinha ouvido falar dele e, sinceramente, pareceu-me um grande cromo. Depois, aparece com o Bruno Nogueira no "Princípio, Meio e Fim" e, mais uma vez, não fiquei muito impressionada. Parecia-me meio perdido ali, com aquele ar desenquadrado de quem não está à vontade, nem consigo nem com o mundo. Quem nunca? Eu identifico-me já.
Pelo sim, pelo não, como não gosto de ficar pelo preconceito, fui pesquisar sobre o homem. E fiquei impressionada. Com as composições musicais, com as interpretações ao piano e, sobretudo, com a curta-metragem Sleepwalk. Fiquei mesmo impressionada com a curta-metragem! Achei-a maravilhosa.
Eis que o ar inadaptado do rapaz ganhou um sentido poético.
Neste contexto, vi uma entrevista em que ele diz o seguinte: "Sou verdadeiramente incompetente quando estou a fazer coisas em que não acredito."
Identifiquei-me totalmente. E fiquei a refletir naquilo.
Sou competente a fazer coisas que não gosto de fazer, desde que encontre sentido nas minhas ações. Posso ser competente a cozinhar, se quiser muito. Fui, durante anos, competente a atender pessoas, mesmo que esse tenha sido o pior emprego que já tive (e já tive vários e diferentes).
Mas, se não gosto de fazer alguma coisa e se não lhe encontro sentido, é muito difícil fazê-lo bem. Também não o ficarei a fazer muito tempo, acho.
Conheço pessoas que são boas em tudo o que fazem. Podem ser excelentes numas coisas e menos bons em outras, mas são competentes em praticamente tudo o que fazem.
Eu, definitivamente, não sou uma dessas pessoas. Não consigo colocar dedicação e esforço em algo que não me diz nada, em algo que não me dá especial prazer nem torna o mundo de ninguém especialmente melhor.
Lembro-me de, eventualmente, me terem sido atribuidas tarefas nas quais não acreditava minimamente. Agora que penso nisso... devia-as ter feito ainda pior. Mas, não o consigo fazer de propósito, só posso confiar na minha incompetência de sobrevivente, nesses momentos.
Com 19 anos, trabalhava na caixa de um supermercado sob a supervisão de pessoas especialmente diferentes de mim. Daquelas que são bem inseguras e azedas e aproveitam qualquer oportunidade para desancar os estagiários em frente aos clientes. Eu estava ali a ganhar um bocado de experiência de vida que me haveria de dar muito jeito anos mais tarde, quando tive que conviver de perto com outras pessoas que não nasceram com o dom da gentileza, da empatia e da autoestima. Trabalhava por opção, nos fins de semana, enquanto estudava nos outros dias.
Tentava dar o meu melhor. Era especialmente simpática com as pessoas. Adorava quando tinha brindes para dar às criancinhas. Era o que mais gostava de fazer: dar coisas às pessoas. Nunca compreendi as colegas que iam chamar o segurança porque viam alguém a querer passar com um pedaço de frango sem pagar. Nisto, eu não era competente. Mais depressa pagava eu o frango - mesmo que a pessoa que o estivesse a tentar levar fosse só um "chico-esperto"- , do que chamava o segurança por causa de 3 euros de comida.
Tenho uma amiga que trabalhava numa padaria e, muitas vezes, oferecia vários papo-secos ao "maluquinho da vila". Ele pedia-lhe 2 e ela dava-lhe 10, só para o caso de ter mais apetite, de repente. É a minha melhor amiga, uma pessoa enormemente melhor do que eu.
Felizmente há muito tempo que não tenho que fazer nada em que não acredite. Tenho muita sorte.
Depois de muito tempo em casa, a ter aulas por Zoom, a Lara regressou esta semana à escola, para ter aulas das 9 às 12.
Continuei com os meus dois filhos mais novos em casa e a ter que ir levar e buscar a Lara à escola. Continuei, também, em teletrabalho.
O meu primeiro sentimento em relação a esta nova situação foi de desagrado. Achei mesmo que era pior que antes.
Mas, depois de uma das minhas meditações matinais, decidi mudar de perspetiva e comecei a perceber que tinha muitas razões para me sentir grata e feliz:
1- A Lara adora a escola, adora a professora e sente-se muito feliz por poder voltar à escola, mesmo que seja por três horas.
2- Tenho a sorte de a poder levar a pé, o que nos proporciona um pequeno passeio matinal, muito agradável.
3- O facto de a Lara não estar em casa de manhã, permite que a Maria e o Eduardo passem mais tempo juntos, o que lhes faz muito bem.
Neste momento, vou aguardando, com a paciência possível, que toda a situação melhore. Aceito que tudo o que está a acontecer é pelo melhor e para segurança de todos. Faço a minha parte o melhor que consigo e esforço-me, todos os dias, para me manter positiva e otimista, vendo o melhor de cada situação.
Hoje estou de bom humor, está visto. O sol lá fora, ajuda muito.
Ela não me disse isso claramente. Não o afirmou, mas é como se o tivesse feito. Plantou a semente da incerteza, da dúvida e do mal-estar. Não era um mal-estar derivado das suas palavras, era algo anterior a isso e anterior à chegada dela.
Eu não confiava nela. Desde a sua chegada que tentava minar a minha relação com as outras raparigas que ali trabalhavam. Falava mal delas constantemente e tenho a certeza de que também lhes falava mal de mim.
Mas eu queria agarrar naquilo. Estupida e cobardemente, eu queria agarrar naquilo. Queria fazer crescer em mim aquela semente de incerteza, agarrar-me a uma pontinha de verdade, acreditar verdadeiramente que as minhas colegas de vários anos gostariam de ver a recém-chegada a substituir-me.
Trabalhava ali há quatro anos. Tinha passado horas inteiras naquele corredor cheio de lojas de roupa para crianças, numa loja que vendia roupas cheias de folhos, laços e sapatinhos de veludo. Não gostava.
Tinha lido livros inteiros atrás daquele balcão, colocava música eletrónica depois das 23 horas e desenvolvi conversas e relacionamentos que haviam de mudar completamente a minha vida.
Estava farta. Estava amenamente farta. Estava com uma inquietude passiva, sem avançar nem recuar… Então, dava-me mesmo muito jeito acreditar no que a rapariga nova estava a insinuar. As minhas colegas e amigas gostariam de me ver pelas costas, apercebera-se ela.
Não acreditei. Mas resolvi ganhar um pouco de maturidade e fazer alguma coisa.
Comecei a procurar outro emprego. Fui a muitas entrevistas, nem me lembro já para que cargos e para que empresas. Estava quase sempre nervosa, insegura.
Um dia, deixei de querer saber. Deixei de me preocupar. Continuei a ir a entrevistas, desta vez sem qualquer nervo, nem grosso, nem miúdo.
Fui entrevistada por um senhor de barba, um psicólogo, dono da empresa. Era uma empresa de testes psicotécnicos.
Durante a entrevista percebemos que tínhamos algo em comum: o gosto por cinema. Tivemos uma conversa agradável. Conversei com o dono da empresa como se conversa com um tio de quem gostamos muito. O tema era bom.
Apertou-me a mão e disse: “Está contratada.”.
No dia seguinte, disse às outras raparigas: “Vou-me embora em 3 dias.”
Continuámos amigas.
Elas foram visitar-me ao novo emprego assim como, mais tarde, me foram visitar até ao outro lado do Atlântico, quando mudei de emprego e de vida, novamente.