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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qui | 30.07.20

Cor de pele

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Há uns tempos a Lara pediu-me um lápis cor de pele para pintar o desenho de uma menina num livro de colorir.

Fiquei bastante surpreendida porque, tanto quanto me podia lembrar, nunca tinha ouvido tal coisa. Nem em criança, nem em adulta.

Expliquei-lhe porque não era correto chamar cor de pele a um lápis.

Hoje foi a vez da Maria.

Pega num lápis bege e refere-se a ele como cor de pele.

"Maria, esse lápis não é cor de pele."

Diz ela: "Claro que é."

Pego num lápis azul e pergunto-lhe se aquele lápis é cor de flor (apercebo-me agora que terei que ter outra conversa sobre o cor de rosa e o cor de laranja).

A Maria olha para mim com um ar meio intrigado, meio aborrecido e eu continuo a explicar-lhe que existem lápis azuis, roxos, vermelhos, amarelos, pretos, castanhos, verdes, beges, etc. 

Existem flores de várias cores por isso não dizemos que um lápis é cor de flor porque isso não seria verdadeiro. Da mesma forma, existem peles de várias cores (dei o exemplo de várias pessoas que conhecemos, entre amigos e familiares), por isso seria incorreto chamar cor de pele a uma única cor.

Acho que ela percebeu.

Seg | 27.07.20

Ter 3 filhos pequenos ensinou-me a simplificar tudo

 

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Basicamente não tive outro remédio. Com 3 filhos pequenos temos duas hipóteses: ou simplificamos ou ficamos loucos.

Escolhi a primeira.

Então a minha vida tornou-se cada vez mais simples e o meu foco começou a incidir apenas sobre o essencial.

Eis o que mudou:

- Tornei-me cada vez mais minimalista no que diz respeito ao material. Poucos móveis, poucas roupas, poucos sapatos, poucos materiais em geral. É um caminho que ainda estou a percorrer e que se tem tornado muito gratificante. Livrar-nos das coisas liberta. Mesmo.

- Comecei a ser mais eficiente. Tenho muito a melhorar, mas nunca pensei ser tão despachada a cozinhar, limpar a casa e organizar festas de aniversário, férias, etc. O facto é que tenho sempre muito que fazer e, se quero fazer mais do que tratar da casa, das roupas e da comida, tenho que o fazer de uma forma rápida e eficiente. Não há volta a dar. Evidentemente, todo o trabalho é meu e do Milton, sempre. Fazemos os dois.

- Se tiver que optar entre ter algum tempo de lazer com família ou amigos e arrumar a casa, opto sempre pelo primeiro. Sem qualquer arrependimento. Se está sol, vamos todos à praia e deixamos camas por fazer e roupa por lavar. A verdade é que tento arrumar tudo logo de manhã e não acontece muitas vezes deixar tudo desarrumado, mas acontece algumas e não me chateio nada com isso.

- Sou capaz de ir à praia sem ter feito a depilação. Antes, isso nunca aconteceria. Agora, desde que não esteja a ponto de ser confundida com um macaco a 2 metros de distância, não deixo de ir à praia por isso. Se for necessário usarei a amiga lâmina de depilar (embora não goste muito).

- Não me preocupo absolutamente nada com o que os outros pensam de mim (excluindo família e amigos, claro). Na verdade, nunca me preocupei, mas isso é cada vez mais evidente. Faço sempre o melhor que posso em cada situação e conheço as minhas intenções. Se alguém me aborrecer com alguma coisa ou se eu achar que foram injustos comigo, raramente me mexo para esclarecer as coisas. Dou prioridade a outros pensamentos na minha mente. Às vezes deixo as pessoas com pensamentos errados sobre mim sem fazer absolutamente nada para mudar isso. Não sei bem se isto é o mais correto mas não tenho mesmo paciência para mais.

- Comecei a priorizar muito todas as coisas. Defini algumas coisas como essenciais e tudo o resto ficou para último plano. Família, amigos, trabalho, yoga e algum tempo de lazer é tudo a que me dedico de momento. 

- Deixei de ter necessidade de ser extraordinária em alguma coisa. Não que alguma vez tentasse sê-lo, mas ser aceitável passou a parecer-me algo muito atraente.

- Comecei a aceitar-me mais. Talvez isto seja da idade ou do yoga mas estou cada vez mais satisfeita comigo mesma. Não me chateia nada a idade e até as rugas estão a deixar de me incomodar.  Na verdade até as começo a apreciar. Claro que faço exercício físico, tento comer bem e tento cuidar do meu corpo e da minha mente mas sempre com muita tranquilidade.

- Deixei de me culpar tanto quando me sinto uma mãe menos boa. Se erro, peço desculpa aos meus filhos e tento explicar-lhes que em determinado momento não consegui gerir bem as minhas emoções e que a culpa não é deles. Tento sempre melhorar e não repetir erros, mas coloco mais esforço na redenção perante os meus filhos do que na auto flagelação.

- O que é verdadeiramente importante torna-se muito claro. Se antes já era, agora é ainda mais. Restam poucas dúvidas sobre o que fazer ou qual o caminho a seguir. Basicamente pensamos nos filhos e no bem-estar deles acima de tudo. Curiosamente isso às vezes significa pensar mais em nós e no que nos deixa mais confortáveis. O que queremos é que os nossos filhos estejam bem e queremos, também, estar bem para eles. É por isso que fazemos dietas, yoga e tentamos melhorar o nosso estilo de vida e a nós próprios. Indiretamente, eles empurram-nos para os melhores caminhos.

Concluo, portanto, que ter 3 filhos pequenos, ao contrário do que imaginava, tornou a minha vida muito mais simples. 

Sex | 24.07.20

Uma música, uma série e um livro

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Primeiro veio a música - Elephant Gun, de Beirut -, por sugestão do Youtube. Andava a ouvir "Beach House" há dias, ou semanas, e Beirut aparecia sempre nas sugestões.

Um dia ouvi. Elephant Gun, uma das primeiras. Depois East Harlem, Postcards from Italy e outras.

Como é meu hábito quando oiço músicas de que gosto, fui procurar a descrição de emoções semelhantes às minhas nos comentários do Youtube. Foi aqui que encontrei Capitu, a série que tem Elephant Gun na banda sonora.

Depois de Capitu foi fácil chegar ao livro de Machado de Assis: Dom Casmurro.

Rapidamente arranjei o livro: primeiro em pdf, depois numa edição de bolso, com letras demasiado pequenas, que trouxe da biblioteca. Após perceber que precisava de uma lupa para o ler (o que não dava oportunidade à leitura fluida e prazerosa que desejava retirar daquele livro) fui buscar uma edição maior e mais robusta à biblioteca.

Li-o num instante e com uma satisfação que não imaginava poder encontrar num livro escrito no final do século XIX por um homem. Que livro maravilhoso! Que personagens bonitas, complexas e profundamente humanas. 

Depois veio a série, que já sabia que queria ver e só não vi antes por não podia deixar de ler a obra que a fez existir.

Vi apenas o primeiro de cinco capítulos e aconteceu o inesperado: é muito melhor do que imaginei! Incontestavelmente melhor!

Esta série é, com certeza, a obra de arte mais bonita que já vi em televisão. É magnífica, sublime em cada pormenor. 

A história, aparentemente simples, é o pano de fundo para espreitarmos os traços morais da sociedade brasileira do fim do século XIX, e nos afundarmos na mente de um homem que tenta resgatar um pouco de sentido para a sua existência, através da escrita das memórias do que foi a sua vida e a sua relação com Capitu: a amiga de infância, que se tornou sua mulher e que ele acredita tê-lo traído com o seu melhor amigo.

As emoções dos personagens são-nos contadas através de uma encenação teatral excecionalmente bem concebida, acompanhada por uma banda sonora contemporânea, muito bem selecionada. Nada foi deixado ao acaso e cada pormenor se conjuga para nos levar bem para dentro da densidade emocional de um narrador, angustiado e sombrio, que tenta resgatar um pouco dos anos felizes que viveu.

Esta série é uma interpretação perfeita do livro. Se depois de ler o livro fiquei com algum rancor ao narrador, considerando-o fraco, infantil e mimado, nesta série abraço-o com toda a empatia que tenho pela sua dor. 

Brilhantemente interpretada por Michel Melamed que interpreta o narrador e personagem principal (não desmerecendo a excelente interpretação dos outros atores) e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, esta série tem uma estética tão inusitada quanto bela que, aliada a uma narrativa extremamente poética, nos prende em cada segundo.

De acordo com a wikipédia, tenho que ver mais obras deste diretor: "Constituem elementos da poética do diretor: o estilo barroco de sobreposições e cruzamentos entre gêneros narrativos, a relação com a instância do Tempo, os símbolos arquetípicos da Terra e a reflexão sobre a linguagem do melodrama social e familiar."

Aconselho esta série a todos os que gostam de qualquer tipo de arte e são capazes de se emocionar com uma boa performance, mesmo que seja em japonês e não percebam uma palavra do que está a ser dito. Esta série é assim, bonita em cada pormenor, com a vantagem de ser em português e ter diálogos maravilhosos!


Qua | 22.07.20

Toda a verdade sobre ir à praia com 3 crianças pequenas

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É verão, está calor, temos praias bem agradáveis na ilha de São Miguel e temos tempo disponível. Naturalmente, ir à praia parece uma excelente opção. E é, mas com três crianças pequenas torna-se um ato de considerável coragem.

E porquê?
Porque é preciso garantir a segurança das crianças e, ao mesmo tempo, transportar sacos enormes cheios de cangalhada para 5 pessoas (toalhas, roupa extra, material para mudar fraldas, comida, água, braçadeiras ou colete e brinquedos).

Porque é preciso controlar a tendência das crianças para mandarem areia pelo ar, comerem areia, gritarem como se estivessem numa ilha deserta e correrem para a água como se soubessem nadar (o que não sabem).

Porque tenho que ter uma dose de paciência extra comigo mesma para me desculpar por me sentir nervosa a maior parte do tempo, e por estar sempre a ralhar com os miúdos para que não corram para a água, para que não mandem areia pelo ar, para que não mastiguem areia, para que não roubem os brinquedos uns aos outros, para que não destruam as esculturas na areia dos irmãos, etc, etc, etc. 

A meu favor está o facto de quase não ter ido à praia durante dois anos, o primeiro foi quando nasceu o Eduardo e no segundo ele era pequeno e a Maria também e preferimos ir a piscinas.

Sentarmo-nos a relaxar na toalha é algo que podemos tirar da ideia desde logo. Impossível acontecer. Andamos num vai vem o tempo todo a tentar manter alguma ordem em crianças muito entusiasmadas por estarem na praia depois de terem estado 3 meses enfiadas num apartamento, sem sair para lado nenhum.

Mas, quando eles resolvem brincar juntos na areia  ou dar as mãos para irem molhar os pés e saltar nas ondas, quando oiço os gritos de entusiasmo do Eduardo a chapinhar na água, quase que acho compensador todo o tempo que passarei a tentar descolar a areia da pele deles, para os vestir e calçar antes de regressarmos a casa.

O facto é que ir à praia com os miúdos tem algumas vantagens e coisas boas (que ficarão para outra publicação) mas uma delas não é a oportunidade dos pais dar um mergulho relaxadamente.

Seg | 20.07.20

Maria #41

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Nesta foto a Maria tinha-se magoado no dedo do meio e estava com ele esticado para ver se não o mexia muito.

Num destes dias, na escola, a Maria foi contra uma amiga e bateu com os dois dentes da frente na cabeça da amiga. Estavam no pula-pula. Acontece e nada tenho a comentar.

A amiga, que é também uma amiga querida fora do ambiente escolar, felizmente não se magoou.

Consta que a Maria chorou muito  e sangrou bastante também. Da escola telefonaram ao Milton, ele a mim, e fui imediatamente buscar a Maria.

Estava bem disposta, mas as gengivas estavam inchadíssimas e negras, ainda tinham sangue, e os dois dentes estavam a abanar bastante! 

À noite, não conseguia comer sem dores nada que não fosse sopa ou iogurte.

No dia seguinte fomos à dentista que lhe fez um raio X e colocou uma massa nos quatro dentes da frente, para que eles não mexessem tanto.

A Maria portou-se tão bem no dentista, mas tão bem, que prometi comprar-lhe um brinquedo e um gelado!

Fomos a uma loja da cidade e ela, talvez porque estar pouco habituada a estes surtos de generosidade dos pais, desorientou-se um pouco na loja. Pedia todo o tipo de coisas, sem critério nem gosto especial. Acabava por pedir brinquedos que já tinha ou brinquedos mais caros do que o pertinente para a ocasião. De modo que escolhi eu um brinquedo.

Depois, já no café, a Maria olhava melancolicamente para um delicioso gelado artesanal de morango enquanto murmurava:

"Nem pude trazer a Polly Pocket que queria! Tristeza!"

Escangalhei-me a rir. E ela comigo. 

 

Qua | 15.07.20

Como organizar festas de aniversário para crianças simples e divertidas

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A maternidade muda-nos completamente. É um facto. Comprovo-o a cada dia.

Uma das coisas que mais mudou em mim foi a apetência para organizar festas de aniversário. Sempre gostei de comemorar o meu aniversário de uma forma muito intimista e tranquila, de preferência a dois.

Quando a Lara nasceu, senti logo uma vontade enorme de fazer festa de aniversário para ela e assim tem sido, todos os anos, agora com 3 filhos.

Nem sei como explicar isto: passei de "paciência 0" para organizar festas, para uma vontade incontrolável de comemorar o aniversário de todos os meus filhos.

Já fizemos vários tipos de festas de aniversário: na nossa casa, na casa dos avós, em pavilhões alugados, na escola dos miúdos, comigo a cozinhar tudo, com tudo comprado...

E, com alguns anos de experiência, na organização de festas para miúdos, sinto-me à vontade para partilhar meia dúzia de dicas que podem facilitar muito a vida a quem tiver esta tarefa pela frente.

Começo com uma ressalva: as festas dos nossos miúdos são muito simples e pouco ambiciosas em termos de decoração e atividades. Basicamente procuramos que eles se divirtam e ter o mínimo de trabalho possível. 

Passemos à prática:

Decoração:
Um painel grande com o tema escolhido pelo aniversariante, impresso numa gráfica ou loja de fotocópias (ou folhas A4 fotocopiadas a cores), balões presos à parede com fita cola grossa, e um bolo com o desenho do tema impresso em cima. É quanto baste para que eles se sintam felizes!

Comida:
Este é o campo onde aprendo mais, a cada festa. Pela minha experiência, o que os miúdos comem mais e melhor é o seguinte:

- Bolos lêvedos com manteiga e fiambre (ou mini sandes de pão de forma brancos e sem codea);
- Rissóis;
- Enroladinhos de salsicha;
- Brigadeiros;
- Queijadinhas de leite;
- Copinhos com gelatina;
- Gomas;
- Pipocas;
- Batatas fritas (o que evitamos cá por casa, mesmo em festas);

Tudo o que são bolos grandes, fatiados ou mesmo em quadradinhos não são tão apelativos para as crianças. Para os adultos sim, mas os adultos também comem tudo o que as crianças comem por isso, se é para ser prático e simples, basta fazer em maiores quantidades os itens acima.

Local
Vai depender muito do número de convidados (e hoje em dia das regras de convívio em caso de pandemia). Este ano, na festa de 4 anos da Maria, fizemos um almoço só com uns avós e um lanche com alguns amigos. No dia a seguir estivemos com mais alguns amigos num churrasco e no fim de semana anterior com outros amigos em outro churrasco. Sempre com poucas pessoas de cada vez, ou tão poucas quanto possível.

Numa situação normal optaríamos por fazer a festa num pavilhão alugado e levaríamos as comidas, como fizemos o ano passado. Isso permite-nos convidar todas as pessoas que queremos e os miúdos têm espaço para brincar à vontade. Os adultos, por sua vez, também têm maior liberdade para descontrair e conversar um pouco. A parte de não ter que arrumar o espaço também é de valor.

Em resumo, o que interessa é reunir amigos e ter algumas coisas simples, de preferência prontas a consumir sem cortar e sem necessidade de talheres, para comer. O resto é convívio e alegria. 

Prefiro fazer coisas simples e regulares do que grandes festas uma vez por ano.

Podem encontrar outros textos sobre festas de aniversário aqui e aqui.

 

Qui | 09.07.20

Maria #39

 

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Maria, 4 anos acabados de fazer.

Ela diz-me que os adultos não fazem uma série de coisas malucas que eu estou sempre a fazer.

“Os adultos não fazem caretas.”, diz ela.

“Quando eu me portar mal não deves zangar-te ou gritar comigo, deves pedir-me que me porte melhor, falando baixinho e pedindo por favor.”

Tão razoável, esta minha filha. 

Ter | 07.07.20

3 meses depois voltei a trazer livros da biblioteca

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Nem imaginam a minha felicidade infantil quando fui hoje à biblioteca e tinha à minha espera três pacotes de papel com livros.

Segurei neles com a alegria de quem pega num tesouro por descobrir. E, na verdade, eu não sabia bem o que ia encontrar lá dentro.

No atual contexto de pandemia as regras da biblioteca alteraram e já não podemos aceder aos livros das estantes. Temos que escolher os livros através de um catálogo online e depois ir buscá-los ao hall de entrada da biblioteca, com máscara. 

Assim, eu acabo por escolher alguns livros sem saber bem que tipo de livros são porque pesquiso apenas pelo título. Isto para as miúdas. Para mim geralmente vou buscar livros de que ouvi falar ou que me foram recomendados.

Hoje trouxe o Dom Casmurro do escritor brasileiro Machado de Assis.

Já conhecia o autor e o livro de nome mas foi a música de Beirut, "Elephant Gun", que me trouxe até ele.  Ontem à noite li um pouco o pdf do livro online e voltei a apaixonar-me pelos romances de linguagem simples e intensa dos autores do século XIX.

O plano é ler o livro, ver a série "Capitu", baseada no livro, tendo sempre por banda sonora as músicas de Beirut. Que delícia!

Sinto-me tão entusiasmada que me apetece cantar e dançar pela rua! É este o efeito do desconfinamento literário. 


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