A imagem que tenho deste momento é do Milton armado em dentista, na cozinha, a arrancar o dente à Lara, com a mão, e ela a rir toda contente e entusiasmada.
E eu, toda encolhida a lavar a loiça com aquilo tudo a fazer-me muita impressão. Nem sou muito impressionável mas isto de dentes arrancados mexe-me com os nervos.
O dente, um dos incisivos inferiores, estava a abanar há uns dias, poucos, e hoje estava quase a cair. Por mim, deixava-o cair naturalmente mas a Lara e o pai estavam especialmente ansiosos para ver o dente cá fora.
A Maria, como eu, estava a achar aquilo tudo um absurdo e agia como se estivesse com medo do dente, e o Eduardo estava a dormir a sesta e a borrifar-se para esta situação. :)
Agora a Lara está super orgulhosa e não larga o dente por nada, qual peluche preferido.
Entretanto vou tentar ser criativa com a questão da fada dos dentes. Provavelmente a fada vai trazer uma moeda (devidamente desinfetada) mas gostava que trouxesse algo mais fofinho como uma mensagem ou um desenho. Vamos ver o que é que a paciência e a criatividade da "fada" conseguem desenrascar hoje.
Enfim, acontecimentos mais ou menos triviais desta quarentena. :)
Nunca fui grande fã de arroz como acompanhamento, ainda menos de arroz de tomate.
Lembro-me de comer arroz de tomate quando era mais pequena e de não gostar do sabor, que achava muito forte e desagradável.
Também não gosto especialmente de arroz branco, arroz chau chau ou outro arroz qualquer. Arroz, para mim, só arroz doce. Disso eu gosto e muito.
Ainda assim, no outro dia, decidi fazer um arroz na bymbi. Normalmente só uso a bimby para doces, sopa e molhos mas apeteceu-me fazer algo diferente e que nunca faço: arroz.
Perguntei ao Milton que tipo de arroz queria e ele disse que queria arroz de tomate. Procurei uma receita e propus-me a fazer o melhor arroz de tomate que conseguisse. Com a bymbi não havia de ser muito difícil.
E não é que ficou muito bom?! Ficou mesmo bom. O melhor arroz de tomate que já comi: saboroso, cozido no ponto e cremoso. Mesmo um dia depois, ainda estava com uma boa consistência e muito saboroso, mas comido na hora é divinal.
Fizemos para acompanhar iscas mas, como não ficaram muito boas e não fui eu que fiz, não vou deixar a receita. Só partilho com vocês coisas boas.
Arroz de Tomate na Bymbi
1 cebola
2 dentes de alho
200 g tomate natural
50 g azeite
400 g arroz agulha (ou carolino se não tiverem agulha)
meio pimento vermelho
1200 g água
sal, q.b.
Colocar no copo a cebola, o alho, o tomate, o pimento e o azeite, picar 5 seg/vel 5 e refogar 5 min/Varoma/vel 1.
Adicionar o arroz, a água, o sal e programar 18 min/100°C/velocidade colher inversa.
A Lara fez 6 anos no último dia de escola, quando já se sabia que as escolas iriam fechar a partir da segunda-feira seguinte.
Ela tinha pedido para fazer uma festa na escola, com pula-pula, tal como fez no ano passado e os seus amiguinhos costumam fazer. Já tínhamos tudo marcado mas ponderámos cancelar.
Pensámos mesmo muito no que havíamos de fazer mas, uma vez que a Lara iria à escola de qualquer maneira e a festa era só connosco e com os colegas com que ela iria estar o dia todo, achámos por bem fazer a festa. Assegurámo-nos de que o pula-pula era desinfetado e concluímos que a festa não iria representar perigo extra para nenhuma criança, e seria até uma forma alegre e feliz de passar o último dia de escola antes da quarentena.
Não sei se foi pelo ambiente de incerteza que já se ia sentindo, mas o certo é que fiquei mesmo muito feliz por não ter cancelado a festa.
A Lara e todos os seus amiguinhos estiveram tão alegres, tão felizes e tão alheios ao que se passava, que me encheu o coração estar ali, naquela tarde, a brincar com crianças felizes e serenas. Nunca me lembro de ter brincado tão alegremente com tantas crianças diferentes na vida. Tive a sensação que conheci um bocadinho melhor cada um daqueles meninos e meninas e concluí que são uma turma fenomenal. Todos uns queridos!
A Maria e o Eduardo também estiveram presentes e foi uma alegria vê-los a divertirem-se com as outras crianças. Até a Maria, que não costuma ser muito sociável, estava ambientadíssima com os colegas da Lara e esteve sempre divertida a pular e a brincar.
Os miúdos comeram as comidinhas que tinha levado (o que me deixa sempre muito satisfeita comigo própria) e vários disseram-me que as queijadinhas de leite estavam "mesmo boas".
Acho que no ano passado não comeram quase nada por isso, fiquei duplamente satisfeita com o resultado da festa.
No fim, ficámos com a sensação de ter proporcionado um momento feliz aos nossos filhos e a outras crianças e isso foi mesmo muito reconfortante.
Entretanto já tínhamos feito umas compras maiores e eu já tinha ido à biblioteca buscar 20 livros para a quarentena.
Posso dizer que tudo começou de uma forma pacífica e feliz e, 3 semanas depois, estes tempos prometem ser desafiantes e diferentes de tudo o que já vivemos, mas com muito potencial para serem transformados numa coisa muito boa. Temos aqui uma boa oportunidade para redefinir a nossa ideia de felicidade e aquilo que realmente importa.
Descobri a Catarina Claro há uma semana. Fiquei maravilhada!
É uma verdadeira contadora de histórias profissional. E, faz-me lembrar a primeira educadora da Lara, que também foi educadora da Maria e era fantástica como educadora, como pessoa e como contadora de histórias. Entretanto foi lecionar para outra escola e deixou muitas saudades, embora as professoras dos miúdos sejam todas excelentes e muito carinhosas.
Voltando ao assunto deste texto, queria aconselhar-vos fortemente a visitar o canal da Catarina Claro, onde ela conta, de uma forma maravilhosamente expressiva, histórias para crianças.
Para além da sua forma muito própria de contar histórias, os livros escolhidos são, na minha opinião, muito giros. São totalmente "fora da caixa", pelo menos em relação ao que me lembro de ler na minha infância.
Não costumo falar muito de emoções. Sou uma pessoa reservada em relação a sentimentos. Muito mesmo.
Se puder, tento ser uma pessoa parca em relação a sentir muitas coisas.
Quando sinto, sinto muito, mas diria que os meus sentimentos são mais intensos do que frequentes.
Em relação à situação que vivemos tenho andado muito calma.
Às vezes acho que devia chorar. Acho que devia olhar para nós, todos de máscara, escondidos em casa de algo que não conseguimos ver, tensos em relação ao toque, ao toque nos outros, ao toque nas maçanetas, ao toque nos produtos que vamos comer... Mas não aconteceu.
Às vezes surto. Aconteceu uma ou duas vezes e acho que sempre no TPM por isso não sei se conta.
O primeiro mês passou-se bem mas agora ando numa bipolaridade de ânimo: ora a achar que estamos muito bem e grata por estar em casa, segura, ora a ficar cheia de comichão com a incerteza destes tempos. Mas acabo sempre por me recordar de que os meus problemas são ridículos, nulos mesmo, quando comparados com os problemas, bem sérios, que muitas pessoas estão a viver nestes dias.
Passo o dia inteiro com três crianças pequenas, cheias de vontade própria e com a mania estúpida (herdada da mãe) de defender a sua liberdade de ação e pensamento de uma forma especialmente assertiva. Passo o dia a cozinhar, a arrumar a casa, a limpar rabos, a tentar ensinar a Maria a fazer números, a ensinar a Lara a ler com relativa facilidade, e ensinar às duas a arte da calma e da gentileza num tom demasiado irritado e assertivo para convencer alguém que domino essas artes.
Tenho perfeita consciência de que sou uma privilegiada. Perfeita. Penso nas guerras que existem no mundo, nos sítios todos onde poderia viver e sinto-me verdadeiramente grata por a vida me ter encaminhado para os Açores.
Sempre que me lembro da primeira semana que passei sozinha nos Açores, vinda de Lisboa, em que chorava sempre que via vacas, campos verdes ou o céu nublado, dá-me vontade de me esbofetear. A sorte que tenho em viver aqui!
De forma muito resumida posso dizer que, em termos de emoções, reclamo muito por aqui, mas reclamo feliz, porque tenho perfeita consciência de que não tenho absolutamente nada do que me queixar.
Algumas das minhas liberdades podem estar condicionadas mas vivo com as minhas escolhas e num dos melhores sítios do mundo.
Mais de duas semanas depois de estarmos em casa com os miúdos ainda nos estamos a adaptar.
Tentámos estabelecer uma rotina várias vezes mas, com 3 crianças pequenas, não conseguimos seguir nada muito rígido. Temos sempre o Eduardo a precisar de mais atenção e, mesmo as miúdas, ainda pedem muita atenção individual.
Assim, seguimos uma rotina flexível, com tarefas pensadas para cada dia que se vão fazendo conforme a dinâmica do dia e as disposições de cada um.
É mais ou menos isto:
Logo que acordam, as miúdas vestem-se, lavam a cara, penteiam-se, arrumam os pijamas e fazem a cama. São tarefas obrigatórias e que são feitas por elas (dou uma ajuda à Maria para fazer a sua cama).
Depois do pequeno-almoço vêem televisão. Geralmente desenhos animais mais curtos. Guardamos os filmes para o fim de semana.
De manhã, tenho sempre definidas atividades escolares e atividades lúdicas (como pintar, fazer bolachas ou fazer jogos). Vamos fazendo as coisas conforme a oportunidade. Nunca os interrompo quando estão a brincar juntos. Assim que as coisas deixam de correr bem ou se se mostram disponíveis para outra atividade, dou-lhes as tarefas escolares. As miúdas gostam de as fazer.
A Lara pede sempre para fazer mais mas limito os exercícios, senão fazia o livro todo numa semana. Intercalo as atividades do livro da escola, com outras que crio eu, com a escola virtual que fazemos no iPad e com outros livros de atividades que tenho em casa. Também fazemos muitos jogos de palavras em jeito de brincadeira.
A Maria gosta de fazer trabalhos mas aborrece-se com o desenho dos números e das letras. Não insisto. Com 3 anos não me parece grave. Ela gosta de matemática e faz muito bem os exercícios no iPad e os jogos simples de cálculo que faço com os brinquedos dela. Mas escrever no papel não é muito com ela.
Depois de almoço o Eduardo dorme a sesta e elas vêem desenhos animados ou jogam no iPad durante mais tempo. Não gosto que passem tanto tempo a ver televisão mas, se assim não for, acabam por acordar o Eduardo.
Aproveito para fazer alguma coisa nessa altura também. Seja escrever, arrumar a casa ou planear os dias.
Quando o Eduardo acorda lanchamos todos e fazemos atividades como cozinhar, pintar ou brincar juntos. Se estiverem todos entretidos aproveito para arrumar a cozinha, fazer o jantar ou tratar da roupa.
Ao final da tarde o Milton acaba o trabalho e brincamos todos juntos até ao jantar. Às vezes aproveito para fazer Yoga.
Depois de jantar é a rotina normal de higiene, história e cama.
Os nossos dias são basicamente isto.
No fim de semana não temos trabalhos da escola e o ritmo é mais lento. Aproveitamos para fazer coisas mais demoradas: ver filmes, fazer colagens e pinturas mais arrojadas, fazemos piqueniques na sala, fazemos pratos mais elaborados na cozinha e aventuramo-nos até à varanda comum para apanhar sol.
E é isto. os meus objetivos têm sido alimentar a família decentemente e tornar os dias agradáveis e interessantes e, com muita sorte, ensinar aos miúdos algo de jeito. :P Nada de muito pretensioso.
Ele gritou tanto, mas tanto, que eu já estava a ficar desesperada. Fiquei mesmo sem reação!
O pai, que estava a trabalhar no quarto (e costuma estar de headphones) veio à cozinha ver o que se passava.
Foi, basicamente, isto:
O Eduardo lanchou pão integral e 3 bolachas Maria. Ia eu dar-lhe um iogurte natural quando ele começou a gritar: - Pãoooooooo!
As irmãs estavam a lanchar também e ainda estavam a comer pão. E o Eduardo não pode ver ninguém a comer se ele não estiver a comer, mesmo que já tenha comido imenso.
Estava fora de questão dar-lhe mais pão por isso tentei dar-lhe o iogurte. Não quis. Berrava como um agoniado e desisti de tentar convencê-lo com brinquedos e canções (também não me sentia muito inspirada para cantar, diga-se).
Nisto, corto bocadinhos de maçã e junto ao iogurte, para ver se ele se interessava. Coloco a taça com o iogurte à frente dele com uma colher e ele começa a enfiar as mãos no iogurte para tirar só a maçã.
Tento, então, dar-lhe o iogurte com a maçã. Começa novamente a gritar desalmadamente e a expressar que não quer iogurte, só a maçã.
É impressionante. Ele não fala muito mas com diferentes tons de: "Mãeeeee", "Dá pão!", "Nãooooo" e "AHHHHHHHHH", consigo perceber claramente o que é que ele quer.
De modo que comi eu o iogurte com a maçã e cortei outra maçã para ele.
Finalmente, atendido o seu desejo moderadamente (o que ele queria mesmo era comer 10 pães) lá se acalmou e parou de gritar. Acalmar nem é bem o termo que o rapaz nem estava nervoso. Ele tinha um objetivo e, muito racionalmente, gritou como um maluco até conseguir o que queria.
E foi isto. Mas quem é que disse que só as raparigas é que faziam grandes chinfrins?!
É um dos meus objetivos. Não para um ano ou um mês, é algo que procuro todos os dias.
Começo por viver com o mínimo de coisas materiais, mas depois quero passar também a levar esta forma de vida a outras áreas: quero viver com o mínimo de stress, o mínimo de preocupações, o mínimo de tensão, o mínimo de informação supérflua, o mínimo de planos e por aí fora.
Para já, esta "quarentena" tem-me ajudado a focar no essencial: passar tempo de qualidade com a minha família, ler apenas aquilo que me dá prazer ou acrescenta conhecimento, pensar em coisas maioritariamente boas, comer o melhor possível (e apenas o essencial para o meu esforço físico), fazer algum exercício físico, ouvir muita música, dançar se me apetecer e aprender coisas novas se tiver algum tempo para isso.
Destralhar tem sido uma autêntica obsessão. Tenho que me controlar para não dispensar 2/3 de tudo o que tenho em casa. E, quanto menos coisas acumulo, mais leve me sinto. Na hora de fazer as limpezas sinto-me mesmo bem comigo própria por ter esta obsessão. :D
O minimalismo dá-me uma sensação de limpeza, de luminosidade, de clareza mental e de possibilidades infinitas.
Ainda tenho muito que fazer. Ainda não consigo dominar a minha tendência para acumular papelada e caixas de todas as formas e tamanhos. Acho sempre que preciso de montes de caixas para guardar coisas. Pancadas...
A meu favor, não acumulo roupa, sapatos e malas. :)