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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Seg | 09.01.17

Árvore da Vida



Vi o filme "Árvore da Vida" em Alvalade, o cinema com melhor horário e que, pela localização e por ser um cinema tão recente, me pareceu ter um tipo de público diferente daquele que encontro geralmente na cinemateca ou em locais mais antigos. Não que tenha alguma coisa contra esse "tipo de público", até porque faço parte dele mas… naquele dia não me estava a apetecer muito, se é que me percebem.

Fui então ao cinema e, ao entrar na sala: surpresa! Os velhinhos e os freaks estavam todos lá! Sentei-me no lugar marcado, mesmo ao lado de uma velhinha que me tentou explicar uma piada dos anúncios que passam antes do filme. Logo que me libertei da difícil tarefa de tentar entender o sentido do que a senhora estava a dizer, dediquei-me ao visionamento do filme.

O filme decorreu com normalidade até que, quase sem dar por isso, começaram a surgir sequências de imagens da natureza em toda a sua força, maravilha, grandiosidade e mistério: rios, cascatas, seres biológicos e mitológicos...

Um velhote, sentado duas filas abaixo da minha, começou a falar mal do filme de uma forma bem audível, repetindo frases como: “Que merda de filme!”, “Que porcaria!”, “Filme de merda!”, “Fui enganado!”, “Que treta!”, “Olhem-me para esta merda!”.

Como é óbvio, passados cerca de vinte minutos destas cenas e das queixas do homem, esperava vê-lo levantar-se e sair, o que não aconteceu. Parece que, já que tinha pago o bilhete, ficaria ali até ao fim, nem que fosse a infernizar os outros espectadores.
 
A determinada altura (não demorou muito uma vez que a paciência não é uma das minhas virtudes) comecei a passar-me. O homem estava a irritar mesmo muito! Na minha mente surgiu a vontade gigante de o mandar calar quando, de súbito, alguém emite um sonoro, intenso e imperativo: "Schhhhhhhhhhhh". Seguiram-se imediatamente admoestações semelhantes de outros espectadores igualmente irritados. Fiquei uns momentos indecisa entre a surpresa e o alívio mas, quanto mais tentava concentrar-me no filme mais me lembrava do caricato da situação, até que me deu um ataque de riso daqueles que fazem chorar. O homem lá continuou a resmungar até que uma senhora foi chamar alguém para o tentar calar.

Entretanto o filme retomou a ação dita "normal" e o homem, finalmente, colocou-se em silêncio.

Quanto ao filme, é uma recriação poética da forma de encarar a vida do protagonista: um homem maduro que vive as angústias herdadas da experiência que foi a sua infância, marcada por um pai  autoritário e desiludido, uma mãe carinhosa mas impotente, e a tragédia da morte de um irmão.

O filme é interessante mas torna-se um pouco maçador. Acredito que, com menos imagens da natureza e menos cenas, se poderia dizer o mesmo, garantindo uma melhor atenção das pessoas. Não deixa de ser um bom filme, repleto de imagens sublimes e interpretações irrepreensíveis. 

O Brad Pitt tornou-se, definitivamente, um dos melhores atores da sua geração.

 
Seg | 09.01.17

A nova babysitter da Maria

Apareceu lá por casa há uns dias, é muito meiguinha e entretém a Maria como ninguém. É um bocadinho peluda mas, como só contactamos com ela através de um vidro, essa característica não incomoda nada.
É a gata de uma vizinha.

Maria e a gatinha.jpg


Aparece-nos do outro lado da janela da cozinha e ali fica a olhar para nós, a andar de um lado para o outro e a passar com as patinhas no vidro da janela como se quisesse entrar na nossa casa. O nosso gato também se aproxima algumas vezes para ver melhor a gatinha mas depressa se farta e vai à sua vida.


Como temos o vidro da varanda, nem sequer conseguimos pegar nela, mesmo que quiséssemos. Também não mexemos muito com ela porque temos medo que caia da janela.

Como a Maria fica muito interessada na gatinha deixo-a na espreguiçadeira, voltada para a janela… montes de tempo.

 

Sempre que preciso de fazer alguma coisa e vejo que a gata está ali, é só deixar a Maria ali e sei que posso ficar descansada durante uns minutos sem que a Maria comece a chorar ou a reclamar. É impressionante! Nenhum brinquedo a entretém tanto como aquela gatinha do outro lado da janela. A Maria fica ali a observar muito atentamente todos os movimentos da gata, umas vezes muito séria, outras a rir e a mexer muito as pernas toda animada.

 

A gatinha gosta tanto de estar ali que chega a dormir grandes sestas à nossa janela.

 

E, assim, ganhei uma babysitter amorosa e bastante eficiente.

Seg | 09.01.17

Histórias (des)encantadas para crianças

pescador 7.jpg



Um certo dia decidi começar a ler histórias à Lara.

Pus-me a pesquisar contos dos irmãos Grimm que ainda não conhecia, assim, divertia-se ela e eu também.
 
Depois de passar os olhos por alguns títulos pouco chamativos tais como: “O bando de maltrapilhos”, “A noiva do bandido”, “Pele de bicho”, “O ladrão e oseu mestre”, “O judeu no meio dos espinhos”, ”O filho ingrato”, “A velha mendiga”, “Uma porção de mentiras juntas” e outros igualmente sombrios, decidi-me por: “O pescador e a sua mulher”.
 
Começa mais ou menos assim:
 
Era uma vez um pobre pescador e suamulher.
Eram pobres, muito pobres.
Moravam numa choupana à beira-mar, num lugar solitário.
Viviam dos poucos peixes que ele pescava. Poucos porque, de tão pobre que era, ele não possuía um barco.
A sua choupana, de pau-a-pique, era coberta com folhas de palmeira.
Quando chovia, a água caía dentro da casa e os dois tinham de ficar encolhidos, agachados, num canto.
Não tinham razões para serem felizes.
Mas, a despeito de tudo, tinham momentos de felicidade. Era quando começavam afalar sobre os seus sonhos.
Algum dia ele teria sorte (…) e encontraria um tesouro – e então teriam uma casinha branca com janelas azuis, jardim na frente e galinhas no quintal.
 
Não admira que metade de nós sofra com distúrbiospsicológicos. Estas histórias são uma desgraça: cheias de personagens,inacreditavelmente pobres, azarados e miseráveis, que não conseguem mudar devida a não ser que encontrem um tesouro ou uma entidade mágica que lhes concedatodos os desejos.
 
Estou a ver que tenho que inventar as minhas próprias histórias.Qualquer coisa como:
 
“Era uma vez um pobrepescador que vivia pobremente com a sua mulher porque não tinha um barco.
O pobre pescador emigrou com a mulher para um país onde se fabricavam belos barcos.
Então, ele aprendeu o ofício de fabricar barcos durante meia dúzia de anos.
Já mestre na construção de barcos, o pescador voltou à sua terra onde,depois de construir um robusto barquinho, passou a pescar mais peixes e aganhar mais dinheiro.
No Natal, ofereceu uma linda máquina de costura à sua mulher, com a qual ela não só fez lindos vestidos para si, como também passou a colaborar para o orçamento familiar, costurando para as pessoas da aldeia.
E, assim, viveram felizes e remediados para sempre."
 
O que vos parece? Melhor ou quê?