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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qui | 05.03.20

Não quero ferir suscetibilidades mas...

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Imagem daqui.


Este anúncio chateia-me.

Chateia-me mesmo. Não me revejo nisto. Não me sinto zangada assim. Não sinto nada daquilo.

Sou mulher. Já ouvi muitas coisas.

Quando era criança diziam demasiadas vezes: "Que Maria-rapaz, sempre suja, sempre aos saltos! Tão diferente das suas amigas, que parecem umas senhoras."

Aos 17 anos ouvi de um namorado: "Quando acabares a universidade vamos casar-nos e ter 2 filhos. Sei que tens uma série de ideias esquisitas sobre coisas que queres fazer mas, atempadamente, vou-te convencer a desistir delas."

Aos 18 anos depois de (obviamente) terminar a relação com esse rapaz, ouvi: "E agora? Vais ficar falada para sempre e mais ninguém vai quer namorar contigo."

Com 20 anos, enquanto caminhava pela rua de calças de ganga, t-shirt e ténis, as senhoras respeitáveis diziam à minha avó: "Esta rapariga nunca muda. Em vez de se vestir como uma senhora, como deve de ser, parece uma estroina."

Aos 21, sem ser para casar, saí de casa e fui viver sozinha, para onde bem entendi. Mas nem todos entenderam isso como um bonito e singelo acto de independência.

Já depois dos 30 com um, dois e depois três filhos, ouvi bocas várias sobre as "benesses laborais" relativas à maternidade. Indiretas e diretas diárias. Ou porque saio mais cedo, ou porque uma das crianças ainda mama com 18 meses, ou porque isto está bom é para quem tem filhos uns a seguir aos outros.

E quando saio à noite com uma amiga e encontro, por acaso, alguém que conhece o meu namorado? Credo. Se fosse nua pela rua talvez os olhares não fossem de tanto espanto.

Hoje em dia, as bloguers que sigo , e que considerava mais idóneas, fazem publicidade a clínicas de estética e recomendam cirurgias para retirar as gorduras a mais.

À minha volta não faltam exemplos de mulheres bonitas, bem arranjadas, de unhas impecáveis e cabelo sempre penteado. Mães aparentemente hiper pacientes, mulheres sérias e cheias de compostura que levam os filhos impecavelmente aprumados para a escola enquanto eu ainda limpo a papa seca da boca dos meus com a minha própria saliva.

E o que é que eu sinto em relação a isso? É pá... pouca coisa. 

Eu quero lá saber o que é que os outros pensam de mim!

Com a exceção dos meus filhos, familiares e amigos mais chegados, estou-me literalmente "a cagar borrifar" se as pessoas não têm a felicidade de ter uma mente com interesses mais profundos.

Na minha vida privada, nunca deixei de fazer exatamente aquilo que quero, de me vestir como quero, de me comportar como quero, de dizer o que penso e de me defender quando tem que ser. Sendo que vivemos num país livre, o próximo até pode opinar mas o próximo, em relação à minha vida, não fará muito mais do que opinar.

Às vezes temos que nos defender. Quando os preconceitos e a estupidez humana (que é, de facto, ilimitada) vai para além das palavras tolas. Quando nos tentam prejudicar mais a sério lá temos que nos mexer mais do que quando se limitam a ser idiotas inconsequentes.

E pronto. É a vida. Não é grande problema. Não é mesmo.

Não são os outros que me definem. O que me define é a forma como escolho viver. Só isso.

Noutros tempos (e noutros espaços) a luta pela igualdade entre homens e mulheres foi algo um bocadinho mais pertinente do que é hoje.

Mas em Portugal, em 2020? Posso estar a delirar mas tenho a ideia que vivemos numa época muito privilegiada em que cada um pode ser exatamente aquilo que entender. Muitas vezes não de forma fácil ou simples, ou rodeados de amigos, mas é uma questão de vontade.

Abaixo a vitimização pá. 

Eu sou mulher e nunca foi a opinião dos outros ou a pressão social que me definiram. 

A propósito da pressão social deixo aqui uma pérola musical que expressa na perfeição a minha reação à pressão social de me portar como uma senhora.

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