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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Ter | 04.08.15

Downton Abbey

downton abbey

 

Quando o Milton apareceu com esta série cá em casa, não dava nada por ela.

 

O cenário não podia ser mais desinteressante: os dramas de uma família aristocrática inglesa, no início do século XX. Não obrigado.

 

No entanto, numa altura em que não havia mais nada para ver, lá marcharam um, dois, três episódios.

 

E não é que gostei?

 

O argumento não é nada de especial. Embora a ação se insira numa altura relevante da história, que apanha a 1ª guerra mundial, todo o drama é passado à volta de pequenas intrigas familiares e entre os serviçais da casa.O grande ponto forte da série é a produção, magnífica, e as interpretações brilhantes de todo o elenco.

 

É isso que nos prende àquelas personagens: umas tão semelhantes a alguém que conhecemos ou a nós próprios, outras tão distantes da nossa realidade que nem entendemos que possam sequer ser inspiradas em alguém real.

 

Gosto desta série sobretudo pela realidade que me mostra de um ambiente ao qual sou tão avessa: o da nobreza e das pessoas que vivem de títulos, e são reverenciadas por uma superioridade que lhes chega mais através de uma tradição do que através do mérito. Delicio-me com aquelas vidas, onde a etiqueta e as regras são levadas com uma seriedade que, à luz dos nossos dias, faz tanto sentido como comer bananas com favas guisadas.

 

Depois, aprecio bastante aquilo em que a série se assemelha com a realidade que é a caracterização da natureza humana, nas suas vertentes mais flagrantes: as intrigas entre as pessoas, a rivalidade entre irmãs que roça, muitas vezes, uma maldade ingénua, as amizades verdadeiras entre homens e mulheres que acabam de se conhecer, a virtude que atravessa classes e poderes e faz com que nobres e criados troquem opiniões e partilhem direitos e deveres como iguais (é compararem com os nossos dias e verificarem com a evolução da educação e dos valores humanistas se faz no sentido inverso à evolução da tecnologia).

 

É espantosa a forma solene como um conjunto de pessoas leva uma existência totalmente inútil, cercada por uma criadagem orgulhosa de uma série de funções servis, de tanta utilidade pública como as funções dos seus "senhores". E, os nobres, vivem todos muito alegres e felizes, horrorizados com a ideia de alguém do seu nível poder "ter um emprego" ou sequer um acto de voluntariado num hospital ou outra instituição de utilidade ao próximo.

 

À parte destas considerações todas, consolo-me a ver a vida daquelas pessoas num castelo, com criados pessoais para vestir, pentear, para conversar, preparar o banho, servir as refeições, anunciar as visitas, governar a casa, dar conselhos pessoais.

 

Adoro aquelas paredes em tons de pastel, as roupas das mulheres, sempre impecáveis, os chapéus, as chávenas de chá, todas trabalhadas e cheias de rococós, a forma como se sentam, como se mexem e como se zangam, sempre muito elegantes e calmos e contidos.

 

É delicioso tentar imaginar que aquela forma de estar existe mesmo.

 

É uma novela bastante engraçada, portanto.