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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Dom | 08.06.14

Aquele Querido Mês de Agosto


Tenho a mania de guardar as coisas melhores para o fim. Acontece com doces, livros, filmes, etc. Se acho que se trata de algo de que vou gostar muito, guardo para um momento especial.

Assim, ficam livros e filmes, durante meses ou anos, a "ganhar pó" até que eu decida que chegou o momento certo para usufruir deles.

Foi o que aconteceu com o filme "Aquele Querido Mês de Agosto". Desde que saiu, há anos, que soube que o queria ver mas, por um motivo ou outro, nunca o fiz.

No sábado ao fim da tarde, tudo organizado em casa, passeio da tarde dado, café tomado, visitas de fim de semana feitas, pareceu-me o momento ideal para ver o filme que, desconfiava, teria um interesse muito especial para mim. Primeiro porque é português e, tenho todo o interesse em apreciar o produto nacional que, não raramente, é muito bom. Depois, porque o filme retrata uma realidade que foi a da minha infância e juventude, a realidade das pequenas vilas rurais do interior de Portugal.

O filme, realizado por Miguel Gomes, é classificado como uma Docufição, um género entre o documentário e a ficção, o que resultou numa obra com um ritmo e uma beleza incomuns.
Como conheço bastante bem a realidade retratada no filme, posso dizer que, no que diz respeito ao documentário, não existe absolutamente nada a apontar. O que vemos ali não podia ser mais genuíno. Aquelas pessoas são de  verdade, os diálogos autênticos, as histórias repetem-se diariamente naqueles meios, só mudam as moradas e os nomes. A história de ficção, não sendo excecional, encaixa perfeitamente naquele contexto sociológico, servindo para complementar este maravilhoso retrato do Portugal rural.

Numa obra de arte sensível e encantadoramente humana, o realizador faz-nos visita guiada ao português simples e genuíno do interior de Portugal, no festivo mês de Agosto, quando têm lugar os encontros entre as pessoas (os residentes e os emigrados) num ambiente de festa  e animação, com a música popular portuguesa a marcar o ritmo da ação. A história de ficção, que surge a meio do filme para o acompanhar até ao fim, é a do complexo triângulo amoroso entre um pai, uma filha e o primo desta, todos membros de uma banda de bailes.

Apesar de, em termos de imagem e fotografia, o filme não estar nada de especial, considero-o uma obra cinematográfica de grande qualidade. Para além de ser verdadeiramente interessante do ponto de vista antropológico, desconstrói o imaginário rural do nosso país de uma forma sublime.

Passaram-se 2h25 de filme num instante.
Recomendo vivamente.