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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Ter | 19.11.19

Andei a evitar escrever este texto

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Mas senti que era necessário.

Sempre julguei que devia escrever sobre coisas essencialmente positivas e que pudessem acrescentar algo de bom à vida de alguém. Queria falar apenas do que fazia bem para poder dar informação útil e relevante às outras pessoas. 

Não que quisesse parecer perfeita aos olhos dos outros, não era isso. Era mesmo porque pensava que contar as minhas falhas não iria acrescentar nada a ninguém.

Até que, numa altura que andava muito aborrecida comigo mesma, li este texto e senti-me capaz de acolher a minha frustração. Aconchegou-me a alma perceber que os meus problemas não são originais, exclusivos ou demasiado graves. Por isso, decidi que, às vezes, também pode ser muito relevante partilhar os momentos em que não me sinto uma pessoa espetacular.

Sempre tive muito orgulho em dizer que nunca tinha dado uma palmada a um filho. Era um sentimento ingénuo e arrogante ao mesmo tempo.

Ingénuo, porque já devia saber que existem muito poucas certezas na vida, muito menos em situações em que lidamos com muitas emoções ao mesmo tempo, como acontece no mundo estonteante e maravilhoso da maternidade.

Arrogante, pela minha facilidade em julgar as pessoas que têm atitudes diferentes das minhas.

Posto isto confesso que já não posso dizer que nunca dei uma palmada a um filho. Já dei palmadas.

Poucas, felizmente. Sei que não posso dizer que jamais vou voltar a usar a palmada. Espero que não, mas a verdade é que não sei.

Durante muito tempo não precisei de usar a palmada. Acredito que existem pessoas extraordinárias que nunca deram uma palmada a um filho e que têm o controlo emocional e a sabedoria necessária para impor limites sem as palmadas. Estas pessoas têm toda a minha admiração.

Também acredito que as palmadas podem e devem ser evitadas e que existem formas muito melhores e mais eficazes de impor limites. Aliás, não considero, de todo, a palmada eficaz com a agravante de, muitas vezes, deixar quem a aplica com um sentimento de culpa terrível. Não é o meu caso.

Calma. Vou explicar.

Já com três filhos, perante cenários de “birras” enormes em já se passaram todos os limites do que a minha tolerância conseguia aceitar, depois de ter tentado outros métodos, várias vezes, e perante a insistência de algum dos miúdos em gritar, bater ou partir coisas, apliquei a palmada. 

Não a aplico quando não fazem o que digo, quando são mal-educados ou quando me desobedecem. Apliquei, em situações muito específicas onde já há um descontrolo emocional tão grande e com tanta gritaria envolvida, que já não sei que mais fazer para que a situação pare. 

Claro que estaria nas minhas mãos evitar o descontrolo emocional dos meus filhos, eu sei.

Bastava aplicar uma das seguintes fórmulas:

-Dar tempo às crianças para exprimirem os sentimentos, sentando-me com eles até perceber exatamente o que estão a sentir, após o que pensamos em conjunto numa solução;

-Desviar a atenção da criança para outra coisa qualquer que lhe possa interessar;

-Respirar fundo e esperar que a birra acabe sem mais nenhum estratégia mas sem me enervar muito com o que está a acontecer;

-Prevenir situações que possam desencadear uma birra, assegurando-me que ando sempre com garrafas de água, bolachas, brinquedos e qualquer coisa que eles possam desejar, multiplicado por 3 para não haver birras.

 

Mas, como a vida não é um programa linear em que tudo ocorre sempre de acordo com o previsto e como eu não sou o robot “Mamã perfeita versão 7”, às vezes as coisas descontrolam-se, às vezes tenho aborrecimentos na cabeça dos quais não me consigo desligar, às vezes tenho muitas horas de sono em atraso (a maior parte das vezes), às vezes estou mesmo em cima da hora para qualquer coisa importante e às vezes estou simplesmente com a paciência em modo “serviço mínimo”.

Isto não é uma desculpa para não tentar melhorar, mas é uma forma de aceitar que nem sempre vou estar com a presença mental ao nível de uma mãe superperfeita (aka monge budista).

 

E o que tenho feito para melhorar?

- Passei a juntar ao yoga (3 vezes por semana) alguns minutos de meditação diária. Preciso de estar bem para conseguir manter a calma em situações mais desafiantes.

- Aceitar que não consigo fazer 1000 coisas por dia. Isto é difícil, mas nada como priorizar. 

- Perceber quais são os gatilhos que me fazem perder o controlo das emoções e tentar evitá-los: basicamente resumem-se a ver os meus filhos a bater uns nos outros, a colocarem-se em situações de perigo ou a gritarem de uma forma descontrolada. Para prevenir estas situações, tenho (eu e o Milton, claro) que estar muito presente e tentar dirigir as brincadeiras para um método de cooperação entre todos.

-Elogiar e valorizar o bom comportamento.

-Aceitar sempre os sentimentos dos meus filhos e encorajá-los a exprimirem-nos de forma que não os prejudique ou aos outros (e se puderem não partir nada, ainda melhor).

 

Acima de tudo, amo os meus filhos mais do que qualquer outra coisa no mundo. Obviamente. Como a grande maioria das mães. 

Sei que não sou perfeita mas quero melhorar. Quero, mais do que outra coisa qualquer, que os meus filhos cresçam saudáveis e felizes, num mundo maravilhoso que apresenta desafios e implica que tenhamos todos algumas capacidades de resiliência.

De modo que não vivo assolada pela culpa, pelas palmadas que dei. 

Se julgo que foram bem aplicadas? De modo nenhum. Continuo a defender o mesmo: as palmadas não são solução e devem ser evitadas ao máximo. Quero evitá-las ao máximo. Tal como quero evitar gritos, castigos, ser um mau exemplo, passar pouco tempo com os meus filhos, dar-lhes alimentação menos saudável e tantas outras coisas.

Ser uma mãe melhor é um objetivo diário, que é perseguido com tranquilidade e aceitação dos momentos menos bons. Nesses momentos, converso com os meus filhos, peço-lhes desculpa se achar que errei com eles e mostro-lhes que sou uma pessoa humana, normal, que as ama acima de tudo e que quer melhorar a cada dia.

E, estou confortável com este exemplo de mãe normal, que lhes estou a dar.

E, não quero, mesmo, voltar a dar-lhes uma palmada. 

Espero, em breve, trazer-vos textos mais didáticos e cheios de conteúdo relevante sobre a forma como consegui, de uma vez por todas, estabelecer limites e evitar birras com base na conversa, no afeto, na atenção e no controlo das emoções (das minhas).

Quando conseguir, partilharei a fórmula mágica! 

Partilhem, por favor, as vossas dicas para gerir "birras" de uma, duas ou três crianças pequenas ao mesmo tempo. 

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